Demitido no dia da reapresentação do elenco, o ex-dirigente Nei Pandolfo revela ter negociado contratações e diz ter sido procurado por atletas do elenco após a saída do Bahia
O destaque no Bahia no começo dos trabalhos em 2017 não foi nenhum jogador, mas um dirigente. Na verdade, a saída dele. A demissão do diretor de futebol Nei Pandolfo, no dia da apresentação do elenco, foi o grande ato neste começo de ano do Tricolor. Dez dias depois de ter sido comunicado da demissão, o dirigente vai deixar Salvador carregando na mala a surpresa com a decisão do presidente Marcelo Sant’Ana, a opinião de ter feito um bom trabalho no Fazendão e, de quebra, a participação em quase todas as contratações anunciadas após sua saída do clube.
Demitido no segundo dia do ano, Pandolfo permaneceu em Salvador até esta quarta-feira, quando retornará para São Paulo. Aproveitou o período para conhecer um pouco da cidade, já que a rotina do futebol o mantinha conectado ao Bahia diariamente. Horas antes de deixar o estado, o dirigente atendeu o GloboEsporte.com e comentou sua saída do clube. Ele reconheceu dificuldades para fechar novos jogadores entre o final de 2016 e o início de 2017, mas ressaltou que todo o processo era feito em conjunto com o presidente Marcelo Sant’Ana e o vice-presidente Pedro Henriques.
- Todos os jogadores que acabaram chegando, com exceção do Matheus [Reis], que a gente não participou da contratação, todos os demais a gente participou em conjunto. No Bahia e em todos os clubes que trabalhei, as decisões não são únicas do executivo de futebol. É um trabalho de conjunto. Principalmente no Bahia, onde o presidente e o vice são atuantes, são contratados, funcionários do clube, participam diariamente de todas as negociações - afirmou.
O dirigente ainda respondeu os motivos apresentados por Sant’Ana para sua saída e defendeu que o saldo de seu trabalho no Esquadrão foi positivo. Confira a entrevista completa abaixo.
GloboEsporte.com: A demissão te surpreendeu?
Nei Pandolfo: Me surpreendeu sim em função do dia, em relação a todo o histórico do mês anterior. Eu tinha tido uma proposta, tinha comentado com o clube sobre isso, a minha opção foi de permanecer e seguir com o trabalho. Tanto que continuamos trabalhando mesmo no período que teve uma folga geral. Continuamos trabalhando, conversando com os jogadores. Várias contratações que acabaram sendo finalizadas, todos nós participamos: eu, Diego [Cerri], Marcelo [Sant'Ana], Pedro [Henriques].
O planejamento acabou atrasando um pouco em função de só termos classificados na última rodada. Era uma orientação do clube. Enquanto não tivéssemos consolidado o acesso, nenhum movimento em relação a contratações, dispensas ou renovações. Uma segunda questão que atrapalhou também foi o acidente da Chapecoense. A rodada foi adiada, os clubes jogaram até o meio de dezembro e não estavam negociando enquanto não terminasse a Série A. Logo em seguida você entra no período de Natal e Réveillon. Jogadores e dirigentes acabam viajando, o que atrapalhou também o andamento das negociações. Mas estavam encaminhadas. Na primeira semana de janeiro todas elas foram consolidadas.
Além da questão da classificação e do acidente da Chapecoense, você teve outro tipo de dificuldade para montar o elenco?
Dificuldades normais do mercado e do período. Nenhuma dificuldade fora isso. Uma das ideias era montar uma equipe que pudesse utilizar em 2017 com o acesso. Tanto que ficou uma base. Zagueiro a gente não tem necessidade de contratação, ficou com volante, com meias, com atacantes. Ficou uma base. Manter uma base de um ano para o outro, juntamente com a comissão técnica... Um avanço estrutural, que muitas vezes não aparece. Isocinético, campo, software administrativo, software de esportes para acompanhamento de adversários, todas essas áreas foram implementadas, qualificação dos profissionais do clube. Todo um conjunto de ações que te levam num patamar melhor de qualidade e rendimento. A gente participou de tudo isso.
A manutenção da base e a estruturação do clube seriam seus maiores legados?
Na minha primeira entrevista, quando cheguei, falei que queria levar o Bahia para a Série A. Durante esse trajeto tivemos muitas dificuldades, mas o principal objetivo foi conseguido. Vim da série A para a B e voltei para a Série A. Acho que esse é o principal legado. Junto com esse resultado técnico, acho que essa questão de estruturação e manutenção do elenco de um ano para o outro é um legado importante.
Apesar do acesso, o presidente disse que o time deixou a desejar. Você pensa o mesmo?
Tinha. Sofremos. Tivemos um início muito bom com Doriva, um aproveitamento de 100% durante dois meses e meio e perdemos as finais. Não chegamos às finais da Copa do Nordeste por erros nossos. No Campeonato Baiano houve uma interferência externa, na questão da arbitragem principalmente. Iniciamos bem a Série B e tivemos mais uma dificuldade no meio da competição. Houve aquela mudança da comissão técnica e cinco ou seis atletas. E voltou aos trilhos com Guto [Ferreira]. Fizemos a melhor campanha, com rendimento altíssimo, o que levou o Bahia à Série A.
O presidente também disse que foi a favor da sua manutenção ao fim da Série B, mas a condução do trabalho em dezembro foi a gota d'água. O que aconteceu em dezembro?
Acho que os únicos fatores que posso falar foram esses que já disse, que foram na prática os que aconteceram. Todos os jogadores que acabaram chegando, com exceção do Matheus, que a gente não participou da contratação, todos os demais a gente participou em conjunto. No Bahia e em todos os clubes que trabalhei, as decisões não são únicas do executivo de futebol. É um trabalho de conjunto. Principalmente no Bahia, onde o presidente e o vice são atuantes, são contratados, funcionários do clube, participam diariamente de todas as negociações. Não tenho nenhum tipo de vaidade em relação a isso. A gente desencadeia o processo. Quando há alguma dificuldade, alguém entra para facilitar a negociação. Entendo que mantivemos uma base forte de um ano para o outro, contratações pontuais indicadas pela comissão técnica. Acho que houve um trabalho de equipe muito bem feito. No final, talvez por uma pressão externa, uma questão que a gente não consegue identificar, a saída. A troca de um profissional do clube não é nenhum problema. A única coisa que acabou me chateando foi o momento em que foi feito. Acho que não foi uma coisa resolvida entre o Natal e o Réveillon. Era uma coisa que já tinha sido resolvida antes, provavelmente. Talvez a demora na tomada de decisão acabou atrapalhando meu futuro profissional. Mas há mal que vem para o bem. De repente estou precisando voltar para casa, fazer exame médico, até visitar a família. Não consigo ver minha mãe há bastante tempo.
Você disse que das contratações feitas só não participou da de Matheus. Já deixou boa parte engatilhada?
Estávamos tocando todas as negociações. Do Wellington [Silva], do Edson, do Eduardo, do Edgar [Junio], do Renê [Júnior], do Gustavo já estava consolidada, Zé Rafael também estava consolidada. A maioria das negociações já estavam encaminhadas, com exceção do Diego [Rosa] e do Matheus, que a gente não participou diretamente porque aconteceram depois.
Deixou mais alguma que ainda não foi anunciada?
Não.
Havia incômodo com a demora em apresentar reforços?
Todos os clubes que trabalhei, enquanto não fecha o período de inscrição, a torcida espera contratação o tempo todo. Isso é igual em todos os clubes. Todo mundo quer uma contratação. Enquanto não encerra a inscrição, a necessidade de contratação é importante. A não ser que você esteja fazendo uma campanha muito boa que faça isso ser secundário.
O presidente disse que, internamente, havia questionamentos ao seu trabalho. Você sentia isso? Por parte de quem?
Olha, eu não sei. Não tenho como dizer isso. Meu relacionamento dentro do clube, com a diretoria, qualquer dúvida que tivesse era só ter conversado. Não sei se isso se refere a torcida, conselho, grupos de apoio, não sei. Eu não participo. Em relação a conselho e grupos de apoio, eu participo muito pouco. Gosto muito de estar no campo com comissão técnica, atletas, no vestiário, e não cuido muito desse extracampo que envolve a política do clube. Procuro me manter afastado da política do clube. Isso pertence ao clube.
Chegou a ter contato com jogadores do elenco após sua saída?
Vários atletas me ligaram perguntando o que aconteceu. A gente tem proximidade. Muitos atletas trabalharam comigo em outros lugares. Muitos atletas a gente fez a abordagem direta. Caso de Jackson, de Cajá. Fui até Campinas atrás de Cajá, fui até a cidade de Jackson parta fazer a negociação com o empresário dele, o Hernane a mesma coisa, trouxe do Sport para cá. Assim, vários atletas você acaba tendo uma proximidade maior. Eu sempre gosto de conversar com o atleta.
Quais seus planos daqui para frente?
Estou voltando para São Paulo hoje. Vou fazer algumas coisas pessoais. Fazer exame médico, ir no dentista, visitar minha mãe que tem mais de um ano que não vejo. Isso deve demorar uma ou duas semanas. Depois vou acompanhar futebol, estudar um pouco mais. Vou aproveitar para fazer isso.
Fonte: Ge.com