Tillemont abre o jogo sobre diretoria, descarta presidência e cita Pittoni: “Ninguém diz a verdade”
Contratação de Alexandre Faria é considerada um erro e trabalho do dirigente é taxado de “lamentável”
Críticas de Tillemont vão do departamento de futebol à ausência de Pittoni entre os titulares (Foto: Reprodução)
Antonio Tillemont abriu o jogo sobre a atual situação do Bahia. Segundo candidato mais votado nas eleições para presidência do Bahia em 2014 e sócio de uma das maiores empresas no ramo de marketing esportivo, o radialista e empresário revelou que considera ‘lamentável’ o trabalho conduzido pela diretoria de futebol do clube ao longo da temporada.
Ainda no papo, Tillemont questiona a ausência do volante paraguaio Wilson Pittoni na equipe titular, diz que não considera o formato de eleições como ideal e declara que sairia vencedor do último pleito se formato fosse diferente. Confira esses e outros temas da entrevista exclusiva concedida ao Varela Notícias.
Varela Notícias – Qual a sua análise sobre o atual momento do Bahia após uma sequência de três jogos com resultados ruins?
Antonio Tillemont – Eu acho difícil. Acho que não vai subir, embora matematicamente ainda tenha possibilidade. O Bahia não tem condições de vencer três partidas seguidas. Só aconteceu uma vez no campeonato, se não me engano. É um momento delicado, um momento difícil. O carro chefe do clube é o futebol e mais uma vez não está dando certo. Exatamente o que aconteceu na gestão de [Fernando] Schmidt, está acontecendo agora.
VN – Qual o maior erro da administração nesta temporada?
AT – As contratações. Pela quantidade de atletas que chegaram, o percentual que deu certo é muito baixo. O maior acerto foi Kieza. Que por sinal já estava aí quando essa diretoria assumiu. Se você for olhar bem, os erros superam os acertos neste quesito.
Alexandre Faria é criticado pela pouca efetividade à frente da diretoria de futebol do clube (Foto: Felipe Oliveira/ Divulgação/ ECBahia)
VN – Faltou experiência da nova diretoria?
AT – Não, porque o Alexandre [Faria, diretor de Futebol] é experiente. Se eles estavam contratando, o problema não foi esse. Contratou errado mesmo. Se foi o Marcelo [Sant’Ana, presidente] que estava contratando, claro que deveria ser o Alexandre, porque ele foi contratado para isso, não deu certo. De novo. Se olhar bem o América-MG do ano passado, que foi armado por Alexandre, também não deu certo. Olha o desse ano. Não acho que ele teria sido a melhor opção, embora só agora se possa fazer um julgamento. Não pode é dizer que ele seria uma opção boa sem nem ver o trabalho do cara. O principal erro foi esse. Errou quem dirigiu o futebol lamentavelmente, embora me pareça uma boa pessoa, mas realmente não deu certo. Muito por deixar de aplicar algumas ações que deram certo no primeiro semestre, que até então, tudo estava indo bem. Depois do jogo contra o Ceará que as coisas começaram a desandar.
VN – Então faltou foco no futebol?
AT – Não é que faltou foco, não foi bem conduzido. Foco é possível que teve, até porque o lema da campanha dele [Marcelo Sant’Ana] dizia ‘é a vez do futebol’. Sempre foi esse. Mas quando você parte no início, aí eu falo de novo do profissional e não da pessoa, e contrata mal quem vai dirigir departamento de futebol. Teria que ser uma escolha que desse mais certo no futebol para que as coisas começassem a andar. No começo deu impressão que sim [dava certo] e de repente a coisa desandou. Nessa hora, só quem está lá dentro para saber. O que eu não consigo entender como uma hora é [Wilson] Pittoni, outra é Tiago Real ou Maxi Biancucchi que vai para o banco. Esses caras não são ‘cracassos’ de bola, mas com o atual elenco que o Bahia tem, nenhum desses caras, Pittoni, Souza, Maxi, Tiago Real, nenhum desses pode ficar fora do time. Tem que estar jogando. O time ideal do Bahia foi aquele que promoveu uma virada história contra o Sport na Arena Fonte Nova pela Copa do Nordeste. Por sinal, esse time nunca mais jogou junto.
Ausência de Pittoni “parece um problema administrativo” na visão do empresário e radialista (Foto: Felipe Oliveira/ Divulgação/ ECBahia)
VN – A efetivação de Charles Fabian em substituição a Sergio Soares foi uma decisão correta?
AT – No momento era a decisão mais acertada, mas na prática não vem sendo. Não tem dado o retorno que se esperava. Aí a gente vê que o problema não era só Sergio Soares. O problema realmente é de uma formatação ruim do elenco, das contratações que foram feitas. Aí onde cabe a culpa dos treinadores? Claro que eles também têm uma parcela, mas cabe a culpa de algum problema interno ter acontecido. Não se consegue entender, por exemplo, por que Pittoni não joga. Nem com um, nem com outro [técnico]. Está parecendo mesmo que é um problema administrativo. Alguma coisa está acontecendo. Dizem que ele quis renovar o contrato de forma antecipada com um valor muito alto e o Bahia não concordou. Aí surgiu aquele boato do pré-contrato com o Vitória, coisa que Anderson Barros nega categoricamente. Depois desse boato pra cá, não deixaram mais o rapaz jogar. Alguma coisa está errada aí e ninguém vem a público dizer a verdade sobre o que realmente está acontecendo. Porque quando se leva o jogador para o banco é porque, teoricamente, ele tem condições de jogar e nem quando está no banco ele [Pittoni] entra para jogar.
VN – Quanto ao plano de sócios? Foi uma estratégia que deu certo?
AT – O plano de sócio não foi assim o que se esperava. Onde eu mudaria? Não sei, porque não tenho conhecimento profundo sobre isso, nem da forma como eles estão fazendo. O torcedor do Bahia tem uma coisa muito positiva que é o amor que ele tem pelo clube, mas a negativa que é quando [o time] não dá certo ele deixa de pagar [o plano] e deixa de ser sócio. Aí concordo com Avancini [Jorge, diretor de Mercado] de que não pode ser nesse sentido, de que, ou o cara quer colaborar com o clube, ou não. Esperar pelos resultados em campo, não dá. O Bahia não consegue passar de oito mil [sócios] adimplentes. Não consegue passar disso. Mas a verdade não é bem como Avancini diz, que ‘o maior adversário que ele tem é a praia’. Não pode dizer um negócio desses porque Salvador sempre teve praia e o Bahia sempre encheu estádio. Acho que tem alguma coisa errada na formatação. Como é que lá no sul dá certo, sem ter praia, sem ter nada e aqui não vai dar certo por causa disso? Acho que é uma questão de time mesmo. O Bahia infelizmente não tem condições de fazer um bom time pelas dívidas que tem. Um clube que estava praticamente falido, mas é aí que acho uma parte boa na administração de Sant’Ana, porque atualmente o financeiro vem bem. Mais organizado que antes.
“Existe algum erro na formatação do plano de sócios. Bahia não consegue passar de 8 mil adimplentes”, diz. (Foto: Divulgação/ ECBahia)
VN – Algumas pessoas vêm criticando as eleições diretas, você acredita que essa é a forma correta?
AT – O formato pode não ser totalmente certo, mas não tem nenhum outro que se aproxime do melhor que esse aí. O negócio é que há interferência de fora para dentro. Existem grupos mais fortes, então esses grupos sempre irão fazer o presidente. Por exemplo, se você fosse perguntar ao torcedor tricolor em quem ele votaria na época, 80% ou 90% responderia ‘Antônio Tillemont’, mas esse contexto [das eleições] é o de sócio. Aí já é outra coisa do que o [contexto] de somente torcedor. Envolve grupos organizados e outras coisas mais.
VN – Nessa situação, você como presidente já estaria planejando 2016?
AT – Já deve estar em planejamento. Mas no momento tem que focar o ‘agora’, focar em 2015. Matematicamente, como tem chance [de acesso à série A] não pode se entregar. Mas que está difícil, está. Eu não estou acreditando muito porque não vejo qualidade no time que está jogando. O Bahia já não faz uma partida boa em frente aos torcedores há algum tempo. Então esse tipo de futebol pífio que tem apresentado não dá esperança de que possa reverter a situação, embora tudo possa acontecer. Não estou muito otimista.
Tillemont afirma que “80% ou 90%” dos torcedores estavam a favor dele, mas formato da eleição impediu o triunfo (Foto: Reprodução)
VN – Você volta a se candidatar à presidência do clube?
AT – Não. Não mais tenho vontade. Não é nem questão de estar decepcionado, é mais por entrar em uma disputa que é desigual. Eu não tenho por trás uma força política então é sair candidato para ficar perdendo toda hora, aí não adianta.
VN – Então o plano pode ser uma candidatura a vereador?
AT – Não. Eu apenas me filiei ao partido [DEM], mas para decidir se saio candidato a vereador ou não é lá para fevereiro ou março. A convenção ainda é em junho, então tem tempo suficiente. Eu me filiei somente para não perder o prazo legal.