A Copinha dos cansados e o calendário Frankenstein da base brasileira
São Paulo, Corinthians, Internacional, Cruzeiro, Ituano. A Copinha chega às fases decisivas, e os melhores times seguem no caminho. Se não há certeza sobre quem será o vencedor, há, em contrapartida, uma clara impressão: todos estão cansados. Exaustos, jogando em campos castigados pela chuva e sem tempo de recuperação até o dia 25 de janeiro, data da final do torneio.
A razão é clara: o calendário Frankenstein da base brasileira consegue, em alguns casos, ser mais apertado do que o dos profissionais. É remendado, com um torneio encaixado em cima do outro e ao longo do tempo, sem planejamento antecipado. Em 2015 aconteceram, ao todo, cinco grandes competições sub-20 para as equipes de Série A: Copa São Paulo, Campeonato Brasileiro, Campeonato Estadual, Copa do Brasil e Copa RS.
Somados todos os jogos desses campeonatos, um time de ponta poderia chegar a disputar até 68 partidas em 2015, no caso dos paulistas (30 no Estadual, oito na Copinha, 13 no Brasileiro Sub-20, dez na Copa do Brasil Sub-20 e sete na Copa RS) ou 76, no caso dos cariocas (com a possibilidade de jogar 38 jogos no Campeonato Estadual). No caso do Rio de Janeiro, com a Copa OPG, a soma pode ser ainda maior.
O número é semelhante ao profissional, com uma diferença: os intervalos entre as partidas são menores, pelo menos na Copinha e na Copa RS. Joga-se de três em três, ou de dois em dois dias. Junte-se isso com as viagens para torneios internacionais (necessários para dar rodagem e experiência a garotos que disputam boa parte de suas partidas no Brasil contra os Bambalas dos Estaduais), e podemos ter uma soma superior a 80 jogos no ano.
É claro que os clubes grandes poupam seus atletas quando jogam contra times teoricamente mais fáceis, mas ainda assim é um absurdo. O São Paulo, se chegar à final da Copinha, somará inacreditáveis 16 jogos em 50 dias.
Diante desses dados, ficam perguntas: quando um jogador do sub-20 treina? Quando ele pode realmente corrigir os tais defeitos de fundamento que tanto se veem em jogos de base? Será que os problemas de fundamento são tão graves assim ou o jogador, estourado pela sequência absurda de jogos, não consegue render o que sabe? Sem tirar a parte de responsabilidade que cabe aos clubes, empresários, à família e ao próprio jogador em sua formação, fica a reflexão para o debate de uma discussão que está bem longe de ter um ponto final