Postado por - Newton Duarte

O Chile tentou, mas parou na Holanda de Robben; Raio-X e os gols

Holanda vence, cala mar de Chilenos e se classifica como líder do grupo B

Europeus e sul-americanos agora aguardam a definição do Grupo A, o do Brasil, para saber quem vão enfrentar na fase de oitavas de final da Copa

Louis Van Gaal pode ser arrogante, sisudo, chato. Mas sabe que tem algumas joias que fazem a Holanda ser, talvez, o time mais traiçoeiro desta Copa do Mundo. Ela deixa o adversário jogar, sofre pressão em alguns momentos, mas na hora de decidir... Mesmo sem Van Persie, a Laranja segurou o empolgado Chile na tarde desta segunda-feira, na Arena Corinthians, fez 2 a 0 em dois lances isolados e garantiu a liderança do Grupo B, com nove pontos. Com o brilho de Robben e os gols dos reservas Fer e Memphis Depay, os holandeses calaram o mar de chilenos no estádio – foram a grande maioria dos 62.996 pagantes.

Com seis pontos, o Chile termina a primeira fase na segunda posição, provavelmente no caminho do Brasil já nas oitavas de final – se a seleção de Felipão vencer Camarões. A Holanda enfrenta seu rival no domingo, às 13h (horário de Brasília), no Castelão, enquanto o Chile aguarda o líder do Grupo A, sábado, às 13h, no Mineirão.

Van Gaal disse um dia antes do jogo: o Brasil não deve querer enfrentar a Holanda. Ninguém deve querer. O talento, mesmo, está concentrado no ataque, com Sneijder, Robben e Van Persie – que voltará às oitavas de final com sede de gols. Mesmo assim, o técnico tem uma liderança e um domínio sobre o grupo capaz de colocar Dirk Kuyt, atacante, como um lateral-esquerdo. Ele não deixou Alexis Sánchez jogar.

O Chile leva uma lição para aprender em casa. Mesmo com um time mais talentoso, é preciso saber o momento certo de vencer. Arturo Vidal faz uma falta imensa ao meio-campo, que não mostrou criatividade nesta segunda-feira – poupado, o meia voltará ao time nas oitavas.

Partida tem início morno

Hino à capela, torcida quase inteira a favor, um técnico que não parou de se mexer na sua área ao lado do campo... O Chile fez da Arena Corinthians a sua própria casa, e por isso propôs o jogo, deixando a Holanda mais posicionada em seu campo de defesa. Com 68% da posse de bola durante o primeiro tempo, os chilenos tocaram, tocaram, tocaram e acharam poucos espaços na disciplinada seleção europeia.

Leroy Fer celebra o primeiro gol: ao fundo, mar de chilenos se cala na arquibancada

Louis Van Gaal sabia que o adversário não teria Arturo Vidal. Com as atenções concentradas em Alexis Sánchez, o holandês não teve vergonha de colocar o atacante Dirk Kuyt na lateral esquerda, ajudando Blind, formando uma linha de cinco defensores e encaixotando o principal jogador chileno em uma área muito limitada de atuação.

Sem poder entrar em campo, o técnico Jorge Sampaoli não parou de se mexer. Como se regesse sua própria orquestra, orientou, abriu os braços, reclamou de três supostos pênaltis em seus jogadores – em dois deles, o holandês Ron Vlaar bancou o valentão e deu bronca dura em Vargas e Alexis, acusando-os de cavarem a penalidade. A impaciência começou a atrapalhar o Chile.

A Holanda usou exatamente a arma que rendeu a goleada histórica sobre a Espanha. Chamou ainda mais o rival e deu dois botes, nas chances mais claras da primeira etapa. Sem Van Persie, suspenso, Robben chamou a responsabilidade, roubou bolas e armou sozinho os contra-ataques. Aos 38 minutos, o lance quase decisivo: o camisa 11 disparou na diagonal, em seu movimento característico, e chutou sem chances para Bravo. A bola passou pertinho da trave esquerda.

Sem gols, os torcedores chilenos e holandeses mostraram tensão. Os brasileiros fizeram piada e cantaram músicas da seleção nacional. Os corintianos gritaram “Timão” e provocaram Valdivia, palmeirense, que estava no banco de reservas.

Jogo aéreo alivia os holandeses

A Holanda demorou para descobrir o ponto fraco da defesa chilena. Estava ali, escancarada, a diferença de altura entre os jogadores das duas seleções. Van Gaal preferiu continuar confiando no brilho de Robben, cada vez mais isolado entre um mar de chilenos. Ainda assim, exigiu grande defesa de Bravo em chute de fora da área.

Memphis Depay empurra para o fundo da rede: era o segundo gol da Holanda

O Chile precisava vencer, e queria o resultado para manter a maré de confiança que tomou conta do país nas últimas semanas. Jorge Sampaoli, mais do que ninguém, teve essa noção. Tirou o zagueiro Francisco Silva e lançou Valdivia, que entrou em campo num misto de vaias e aplausos – coisas de palmeirenses e corintianos. Sampaoli sabia que emoções maiores viriam. Só não sabia para qual lado.

A saída de Silva acabou deixando um buraco maior na defesa. Só aí a Holanda resolveu investir nas jogadas aéreas. Van Gaal tirou o apagado Sneijder, 1,71m, e lançou o meio-campista Leroy Fer, 1,88m – mais alto do que toda a zaga chilena. No primeiro escanteio vindo da direita, Janmaat só teve o trabalho de alçar a bola na área. Aos 31 minutos, Fer, sozinho, deslocou Cláudio Bravo e iniciou a festa laranja na Arena Corinthians.

Sampaoli ainda tentou levar o Chile ao ataque com a mesma arma. Colocou Pinilla, 1,85m, para reforçar o poder ofensivo. Não é essa a característica da “Roja”. As bolas alçadas na área mais pareciam desespero. E não funcionaram. Nos acréscimos, De Jong lançou Robben na velocidade, pela esquerda, e o atacante holandês fez o que se espera dele: foi ao fundo e rolou com açúcar para Memphis Depay empurrar para a rede e fechar o placar.


Holanda 2 x 0 Chile

Copa do Mundo – Grupo B


Local: estádio de Itaquera, em São Paulo (SP)

Data: 23 de junho de 2014, segunda-feira

Horário: 13 horas (de Brasília)

Árbitro: Bakary Gassama (Gâmbia)

Assistentes: Evarist Menkouande (Camarões) e Felicien Kabanda (Ruanda)

Cartões amarelos: Silva (CHI); Blind (HOL)

Público: 62.996 pagantes

Gols: Holanda: Fer 31’ 2º T e Memphis 46’ 2º T

Holanda: Cillessen; Janmaat, De Vrij, Vlaar e Blind; De Jong, Wijnaldum e Sneijder (Fer); Robben, Lens (Memphis) e Kuyt (Kongolo)

Técnico: Louis Van Gaal

Chile: Bravo; Silva, Medel e Jara; Isla, Aránguiz, Díaz e Mena; Gutiérrez (Valdívia) (Beausejour); Sánchez e Vargas (Pinilla)

Técnico: Jorge Sampaoli

O CARA

Arjen Robben

É um capeta com a bola nos pés. Rápido, forte, habilidoso, foi um temor para a zaga chilena o tempo todo, mesmo com a Holanda se defendendo o tempo todo – ou até por isso. Robben, todos sabiam, seria o estilingue, aquele que colocaria os contra-ataques em velocidade acelerada, que causaria problemas. Causou, de fato, e o segundo gol da Holanda, quando a vaca chilena já parecia deitada, foi só a cereja do bolo. Robben é, até aqui, um dos melhores jogadores da Copa – discutivelmente o melhor, até. Em uma Copa do Mundo tão cheia de problemas físicos, parece que Robben está voando. E isso pode fazer diferença.

OS GOLS

32’/2T: GOL DA HOLANDA!

Janmaat recebe de Robben e cruza para a área, Leroy Fer subiu sozinho e, com uma bela cabeçada, mandou para a rede para abrir o placar na Arena Corinthians.

47′/2T: GOL DA HOLANDA!

Com o Chile todo no ataque, a Holanda contra-atacou com maestria. Bola nos pés de Robben, que correu como um demônio no lado esquerdo até chegar dentro da área e cruzar para Depbay completar.

A TÁTICA

As formações iniciais de Holanda x Chile

As formações iniciais de Holanda x Chile

Sem poder contar com o seu capitão e artilheiro Van Persie e nem com o zagueiro Martins Indi, machucado, Van Gaal escalou Kuyt na ala esquerda, deslocando Blind para a zaga, e Lens no ataque, para dar velocidade. O time se defendeu o tempo todo, deixando o Chile com a bola. Os chilenos, com Aránguiz fazendo o papel de meia que Vidal fez no segundo jogo, não conseguiu ser criativo para vencer as sempre bem posicionadas linhas defensivas holandesas. Sánchez tentou a movimentação para arrancar os holandeses de dentro da área, mas não conseguiu. Sampaoli não conseguiu mudar isso durante o jogo.

A ESTATÍSTICA

29

Número de cruzamentos que o Chile tentou no jogo. Veja bem: o Chile, com seus dois atacantes que são mais de lado de campo, sem um centroavante de ofício, contra a Holanda com três zagueiros de área, tentou muitos cruzamentos. É claro que isso estava fadado a não dar certo. Isso só aconteceu porque a Holanda deixou os cruzamentos como uma das poucas opções de jogo.

Estatísticas da Partida

Posse de bola: Holanda 36% x 64% Chile

Chutes: Holanda 13 x 7 Chile

Chutes a gol: Holanda 8 x 1 Chile

Cruzamentos: Holanda 9 x 29 Chile

Desarmes: Holanda 13 x 11 Chile

Escanteios: Holanda 2 x 7 Chile

Impedimentos: Holanda 1 x 2 Chile 

Atuações: Robben dá bom passe para segundo gol; Sánchez brilha sozinho

Atacante da Holanda participa dos dois gols da partida. Já chileno, dribla, finaliza e é caçado, mas sozinho não consegue vencer a boa defesa europeia

Header Holanda (Foto: Infoesporte)

CILLESSEN – GOLEIRO

Praticamente não foi exigido nos 45 minutos iniciais. Ganhou tempo nas reposições de bola, pois o empate já deixaria sua equipe em primeira do grupo. Seguro na bola aérea. Fez boa defesa em chute de Sanchez.

Nota: 7,0

JANMAAT - LATERAL-DIREITO

No começo do jogo, deu alguns espaços às suas costas. Mas logo compôs bem a linha de cinco jogadores na parte defensiva, e esbanjou fôlego. Fez o cruzamento perfeito para o gol de Fer.

Nota: 7,0

VLAAR – ZAGUEIRO

Vigiou de perto os chilenos, errou uma saída de bola e quando foi preciso afastou o perigo mais na vontade do que na qualidade.

Nota: 6,0

DE VRIJ – ZAGUEIRO

Seguro na marcação, apareceu bem no ataque para um cabeceio no primeiro tempo. Levou a melhor na maioria dos lances.

Nota: 6,5

BLIND – LATERAL-ESQUERDO

Bem na cobertura enquanto Kuyt fazia o papel de ala esquerda. Sempre atento à marcação, ficou mais preso na parte defensiva e cometeu falta que lhe rendeu cartão amarelo.

Nota: 6,5

DE JONG – VOLANTE

Firme no combate, e boa movimentação em diversos espaços do campo. Quando preciso, fez bem a proteção à zaga, com vigor.

Nota: 6,5

WIJNALDUM – MEIA

Boa movimentação, mas pecou em alguns passes errados. Demonstrou disciplina tática.

Nota: 6,0

SNEIJDER – MEIA

No primeiro tempo, fez uma cobrança de falta sem muito perigo. Até teve boa movimentação, se deslocou bem, mas sem ser brilhante.

Nota: 6,0

FER – MEIA

Mostrou estrela. Pouco depois de entrar em campo, apareceu bem na área para, de cabeça, abrir o placar.

Nota: 7,0

ROBBEN – ATACANTE

Esteve bem quando conduziu a bola deixando os adversários para trás. Foi o responsável pela melhor chance da Holanda no primeiro tempo. Na segunda etapa, conseguiu outra boa finalização em chute rasteiro. Fez grande jogada no segundo gol.

Nota: 7,5

LENS – ATACANTE

A bola não chegou muito aos seus pés. Ajudou a dar o primeiro combate. No segundo tempo, buscou mais o jogo, mas quando tentou ajudar a zaga levou um drible desconcertante de Sanchez. Foi substituído.

Nota: 6,0

DEPAY – ATACANTE

Entrou arisco,e logo exigiu bela defesa do goleiro chileno em boa finalização de fora da área. No fim, ainda estava bem posicionado para fazer o segundo gol da Holanda.

Nota: 7,0

KUYT – ATACANTE

Atuou pela ala esquerda, onde ajudou na marcação e alçou bolas nas áreas.  Ficou mais na função defensiva do que ofensiva. E cumpriu bem o seu papel.

Nota: 6,5

KONGOLO – ZAGUEIRO

Entrou aos 43 minutos do segundo tempo.

Sem nota.

Header Chile (Foto: Infoesporte)

BRAVO – GOLEIRO

Espalmou perigosamente chute forte de Robben. Depois, defendeu boa finalização de Memphis e não teve o que fazer nos gols da Holanda.

Nota: 5,5

SILVA – ZAGUEIRO

Fechou os espaços pela direita da defesa enquanto esteve em campo. O melhor do sistema de marcação. Foi substituído no segundo tempo.

Nota: 6,5

VALDIVIA – MEIA

Ovacionado pela torcida, entrou aos 24 minutos do segundo tempo e produziu pouco.

Nota: 5,0

MEDEL - ZAGUEIRO

Centralizado, rebateu algumas bolas e ajudou nas coberturas de Jara, mas foi facilmente driblado por Robben. Fez faltas desnecessárias.

Nota: 5,5

JARA – ZAGUEIRO

Ajudou Mena pela esquerda, mas hesitou em lances perigosos e não conseguiu parar Robben nem com falta. Falhou no gol holandês.

Nota: 4,5

ISLA – ALA-DIREITO

Ficou mais preso na defesa e fechou os espaços quando o time atuou com três zagueiros. Depois, após sofrer o primeiro gol, teve dificuldades.

Nota: 6,0

DÍAZ – VOLANTE

Principal marcador do meio chileno, cruzou bola na cabeça de Gutiérrez em falta perigosa.

Nota: 6,5

ARÁNGUIZ – MEIA

Revezou com Gutiérrez na armação das jogadas e também ajudou na marcação. Mas errou passes infantis na defesa e quase ajudou holandeses.

Nota: 6,0

MENA – ALA-ESQUERDO

Muito acionado, teve liberdade para apoiar e ir até a linha de fundo. No geral, foi bem na marcação e nas subidas ao ataque.

Nota: 6,5

GUTIÉRREZ – MEIA

Foi inteligente para sair da marcação e concluir jogada ensaiada com Sánchez em escanteio. Quase abriu o placar em cabeçada, após cruzamento de Díaz, mas também armou contra-ataque holandês. Substituído no intervalo.

Nota: 6,0

BEAUSEJOUR – MEIA

Entrou no intervalo substituindo Gutiérrez e praticamente sumiu.

Nota: 5,0

VARGAS – ATACANTE

Correu muito, mas produziu pouco. Tentou uma finalização e só.

Nota: 5,5

PINILLA – ATACANTE

Entrou no fim do jogo e pouco pôde fazer.

SEM NOTA

SÁNCHEZ – ATACANTE

Foi o jogador mais ousado do Chile. Driblador, sempre buscou o jogo e até recuou para ajudar na armação. Levou a melhor sobre a marcação na maioria das vezes e acabou caçado. Deu passe interessante para Gutiérrez em escanteio ensaiado.

Nota: 7,5


Fonte: Diego Ribeiro e Janir Júnior e Marcelo Hazan/GE.COM - Felipe Lobo/Trivela - GENET

Foto: Agência Reuters – AP – AFP – Getty Images