Postado por - Newton Duarte

O delírio do Futebol

O prazer de delirar

O jogador croata Dejan Lovren segurou Fred?

Em 1998, o Brasil entregou o jogo final da Copa do Mundo para a França. Ronaldo simulou uma convulsão. Em troca, o Brasil ganhou o direito de disputar a Copa de 2014.

Fãs de futebol adoram teorias conspiratórias. Quanto mais mirabolantes, melhor. Além do prazer da criatividade delirante, elas ajudam a justificar fracassos. É o caso da teoria envolvendo a Copa de 1998. É no mínimo arrogante pensar que o Brasil só perderia aquele jogo por causa de alguma maracutaia. O Brasil perdeu da França porque a França de Zidane, Barthez e Henry  jogou melhor. Era o melhor time da Copa, bem melhor que o brasileiro. E jogava em casa. Simples assim.

Toda essa discussão surge a propósito do pênalti sofrido por Fred no jogo entre Brasil e Croácia. Objetivamente, não dá para dizer se foi ou não foi. O portal G1 mostrou o lance por 18 câmeras diferentes. Em algumas delas, parece que Fred se jogou. Em outras, ele é claramente puxado pelo ombro por um zagueiro croata.

Apesar disso, ou talvez justamente por causa disso, o lance despertou uma discussão passional, parecida com a que envolvia Beatles e Rolling Stones, nos anos 1970. Os torcedores mais fanáticos defendem que sim, foi pênalti. Os vira-latas fanáticos – que acham que o Brasil só pode ganhar com roubalheira – juram que o juiz Yuichi Nishimura inventou o lance. A verdade é que, dada a natureza incerta da jogada, tais opiniões valem tanto quanto dizer que Beatles é melhor que Rolling Stones, ou vice-versa.

Para além da viralatice, dizer que o juiz roubou tem um atrativo à parte. Permite criar várias teorias conspiratórias. Dilma Rousseff, em queda nas pesquisas, subornou a Fifa – e a entidade comprou os juízes para garantir a vitória do Brasil. De olho no mercado brasileiro, Nishimura fez um acordo com a CBF. No primeiro semestre de 2015, estréia como juiz no Campeonato Carioca. Nishimura tem antepassados brasileiros em São Paulo, vindos à bordo do Kasato Maru – e isso explica sua ligação afetiva com o país.

Tanto faz. Delirar é divertido. Discutir também. E lances dos quais é impossível tirar uma conclusão, como o pênalti sobre Fred, são excelentes para isso. É diferente do gol de mão de Maradona em 1986, ou o gol anulado da Inglaterra contra a Alemanha na última Copa – em que foi possível ver a bola dentro do gol pela reprise. Tais lances não geram discussão. São claros. Dar ou não um pênalti é uma decisão bem mais subjetiva. Uma das imagens mostra que Nishimura estava de frente para o lance, sem ninguém obstruindo sua visão.

É divertido imaginar que ele recebeu dinheiro de Dilma, da Fifa ou da CBF. Mas a verdade, como em 1998, parece bem mais prosaica. Diante de um lance difícil, Nishimura, um juiz em ascensão no cenário internacional, pode ter feito apenas o que lhe pareceu mais correto. Talvez tenha acertado. Talvez tenha errado. Pelas imagens, não dá para saber.

Simples assim.


Fonte: João Gabriel de Lima - ÉPOCA

Foto: Thanassis Stavrakis e Frank Augstein/AP

Copa do Mundo 2014 - Tabela e Classificação http://t.co/RVrPSOWcvz via @UniaoTricolorBa

— Newton Filho (@ncdfilho) 15 junho 2014