Postado por - Newton Duarte

'O risco de rebaixamento caiu, mas existe', diz Schmidt em entrevista

Fernando Schmidt: 'O risco de rebaixamento caiu, mas existe'

Schmidt não admite a acusação de ser um presidente de fachada

Perto de completar um ano à frente do Bahia, Fernando Schmidt pode se orgulhar de ser o atual campeão baiano e o primeiro presidente democrático da história do clube, tendo pregado transparência nas finanças. Contudo, neste curto período, Schmidt já coleciona crises, principalmente relacionadas aos resultados no Brasileirão. E, nesta entrevista a A TARDE, não foge a elas. Ele assume o receio em ser rebaixado na Série A, os problemas nas finanças do clube e os erros administrativos que levaram à estagnação do número de sócios, que não supera 24 mil desde abril.  Por outro lado, mostra confiança em um acerto de patrocínio com a Caixa Econômica, relata a evolução nas finanças e apresenta uma projeção de um Bahia com patrimônio mais consolidado e grandes contratações num futuro próximo.

O Bahia tem andado constantemente na zona de rebaixamento. No quê a torcida pode  confiar para acreditar que não cairá de divisão?

A atitude do time é uma questão fundamental. E ela evoluiu muito ultimamente. Isso devido ao Charles, que trouxe uma outra motivação para a equipe. Devemos muito isso a ele. A partir de agora, vejo o Bahia em um novo momento, com um time muito mais motivado e de atitude em campo. Não que Marquinhos Santos fosse um mau treinador. A questão é que Marquinhos já sabia dois jogos antes de ser demitido que a situação dele não estava boa. Havia uma forte pressão sobre ele. Então, Marquinhos meio que já estava se desmotivando, e isso levou os jogadores juntos. Charles recuperou a motivação e atitude dos atletas.

Se o time estava insatisfeito, por que não ter tirado Marquinhos antes? A situação dele não se arrastou demais?

Difícil raciocinar isso como se fosse uma mera relação de causa e efeito. Há uma série de fatores que influenciam e devem ser levados em conta. Tivemos uma intertemporada na Copa, na qual tinhamos expectativa de que, durante ela, teríamos uma oportunidade de formar uma grande equipe nas condições ideais. Infelizmente, essas coisas não aconteceram e eu não culpo Marquinhos Santos exclusivamente por isso.  Todos nós temos responsabilidade nessa história. A situação financeira do clube foi muito decisiva para que essa questão acontecesse. No entanto, chegou um momento em que tínhamos fazer a troca de treinador, e fizemos.

Só a troca de treinador é suficiente para acreditar que Bahia vai se recuperar?

Não. Há condições de a torcida acreditar que o risco do Bahia ser rebaixado caiu e  poderá ser superado. Veja bem:  tirando aquela elite que está disputando os quatro primeiros lugares do Brasileiro,  é tudo japonês e pode acontecer qualquer resultado. O risco de rebaixamento caiu, mas existe. Mesmo assim,  acho que minimizou muito por causa da mudança que foi feita não só dos treinadores, mas sobretudo da nova atitude dos jogadores.

Em menos de um ano, o Bahia teve quatro diretores de futebol.  Por que tanta alternância? Isso não tem afetado o desempenho do time?

Eu acho que atrapalhou, sim. Agora, acho que nas circunstâncias que esse fato se deu, eram inevitáveis as trocas. Na verdade, havia necessidade de integração maior entre as varias peças que compõem a diretoria de futebol.

O Bahia sabia que Rodrigo Pastana, novo diretor de futebol, responde a um processo de improbidade administrativa?

O Bahia tinha notícias sobre isso, mas Pastana nos deu explicações do que levou a esse tipo de atitude do Ministério Público. Pelas explicações, parece que todas as iniciativas do MP, com todo respeito, estão equivocadas. Quem vai dizer sobre isso em definitivo é o Judiciário. Por isso, ele continua merecendo nossa confiança.

Voltando ao time: o declínio do acordo com Romagnoli e todo esse imbróglio sobre a vinda ou não do jogador  não vai prejudicar a imagem da diretoria junto à torcida? Tem muita gente criticando que o clube estaria aceitando diminuir a multa para fechar o distrato.

Não. Por uma razão muito simples: a vida não é uma coisa estática. Ela é dinâmica. Os fatos que justificaram a assinatura do pré-contrato com estabelecimento de multa mudaram completamente. O desejo do San Lorenzo após a conquista da Libertadores em contar com Romagnoli para disputa de torneios futuros, em especial o Mundial de clubes, cresceu bastante. E o jogador também está com problemas pessoais que precisam da presença dele na Argentina. Problemas que não existiam no momento da assinatura do pré-contrato. O que nós estamos fazendo é uma negociação para que saiamos do processo de judicialização, cujo resultado ninguém sabe quando ocorrerá nem qual será o resultado. Optamos por uma negociação concreta da qual  poderemos vir a abrir mão de uma parte dessa multa em favor do Bahia. Seria evitar um problema maior.

Maxi Biancucchi foi contratado para ser o grande jogador do Bahia em sua gestão. Ele tem o maior salário do elenco, mas, em oito meses, fez apenas dois gols  e hoje é reserva. Foi a grande decepção de sua gestão?

Não acho isso de forma nenhuma. Maxi  teve problemas pessoais e está bastante empenhado em superar essa situação. Os problemas não dependem só dele e  são problemas pessoais que não me cabem aqui externar. A própria agressão que ele sofreu aqui causou um problema familiar muito sério. A esposa dele não se sente segura mais aqui e pensou em voltar para a Argentina. É uma injustiça se demonizar a figura do Maxi agora. Eu acho que ele ainda prestará bons serviços e trará alegrias ao Bahia

Numa entrevista a A TARDE, o senhor disse que o Bahia buscava uma parceria para que a Arena Fonte Nova ajudasse na contratação de jogadores. Houve avanço neste sentido?

Vamos ter no dia 28 de agosto uma reunião com a Fonte Nova para examinar todo o material construído ao longo desses tempos por um grupo de trabalho formado da outra vez que tivemos uma reunião. Buscamos  ver o que se conseguiu, o que se pode conseguir. Queremos ver  como a imagem do atleta pode ser utilizada pela Fonte Nova em relação a novas contratações para o Bahia. Estou muito otimista quanto a isso.

O Bahia, que passou por uma crescente impressionante de sócios, estagnou o número em 24 mil desde abril. Isso contrariou a meta estipulada de 30 mil até o meio do ano, quando se contrataria um grande camisa 10, e a meta de 50 mil até o fim do ano. Sua gestão faz um mea culpa por isso? 

Temos dificuldade de natureza operacional. O sistema de facilitação para que a pessoa seja sócia ainda não está funcionando como nós gostaríamos. Temos recebido várias queixas de sócios que já pagaram e são cobrados de novo. Até setembro, elas estarão resolvidas.  E a segunda questão para o problema, não vamos ser hipócritas, é o campo. Os resultados em campo influenciam. Tem muito torcedor que só se associa quando o time está ganhando, quando devia ser o contrário. Associar-se para fazer o time forte. Mas todos nós cometemos erros e alguns erros foram corrigidos no curso da caminhada.

Sobre a situação financeira, hoje a dívida do Bahia é de R$ 100 milhões. Em 11 meses de gestão, o que mudou? A dívida antes era ainda maior?

Ninguém sabia de quanto era a dívida. Primeiro, começamos a trabalhar com orçamento e com transparência. Estamos rigorosamente em dia com a divulgação dos balancetes do Bahia. Isso era palavrão na antiga gestão. Planejamento ninguém sabia o que era.  Num determinado período, houve atraso dos balancetes em função da mudança na auditoria externa. A nossa principal meta não é entregar o clube completamente saneado. Seria impossível uma geração de receita dessas para poder ter isso e também uma equipe de futebol digna das tradições do Bahia.  Mas vamos entregar ao futuro gestor um clube muito diferente do que encontramos. Os salários, hoje, estão em dia. Outro exemplo é a questão trabalhista. Fizemos um acordão com débitos trabalhistas do Bahia que até o final do ano significam um dispêndio de quase R$ 300 mil por mês e que está sendo cumprido em dia. A dívida está diminuindo. Hoje você sabe quanto é a dívida e pode trabalhar para resolver o problema.

O que foi feito com os R$ 6 milhões da venda de Talisca?

Basicamente usamos para pagar funcionários e atletas. E algumas contratações também, como a de Kieza, que precisavam ser feitas. Teve também o bicho do Baianão, que foi pago. Não acabou ainda, mas não tem tanta coisa assim, não, até porque o dinheiro não é tanto. Este é um exemplo do estado em que se encontra o futebol brasileiro, que, para poder sobreviver, tem que sacrificar seus melhores jogadores.

A atual diretoria já discute seu sucessor?

É preciso que esse processo de abertura do clube seja prorrogado um pouco. Deve acontecer só em outubro (o mandato de Schmidt vai até dezembro). Participarei dessa eleição como magistrado (risos). Se eu adotar uma candidatura, eu abrirei agora o processo de sucessão de forma institucional e eu não quero fazer isso. Tem gente que chega para falar e eu ouço. E só. Tenho uma capacidade de ouvir incrível (risos).

Fala-se muito que a diretoria do Bahia está rachada, principalmente entre Reub Celestino e Valton Pessoa. Você, como líder do grupo, pode dizer o quê da relação desses membros? 

Se em algum momento houver divergência  entre um ou outro diretor sobre este ou aquele assunto, o clube tem presidente, sou eu, e eu decido. De uma forma ou de outra, eu decido. A divergência é natural e a gente tem que conviver com ela. A divergência constrói. Não sei se houve algum mal-estar entre eles. Comigo não houve. Não atrapalhou de jeito nenhum o futebol. Para mim, não atrapalhou. Se há uma coisa que eu não faço é me omitir.

O que falta para  anunciar a Caixa como patrocinadora?

Tive uma reunião terça-feira com a Caixa e, dessa reunião, eu saí muito esperançoso de fecharmos o patrocínio logo. Fala-se muito que o patrocínio master do Bahia até hoje não está sendo utilizado e, em função disso, baixou a receita. O patrocínio que a OAS pagava representava 3% da receita. E só. Posso dizer que a negociação com a Caixa está bem adiantada.