Postado por - Newton Duarte

O uso das Divisões de Base pelos clubes do Brasileirão

Clubes do Brasileiro usam um terço da Base no profissional

Apesar da grande quantidade de talentos que são revelados no dia a dia do futebol brasileiro, os clubes da elite nacional já não aproveitam as futuras promessas no próprio time como antigamente.

Em 1992, o Flamengo, por exemplo, foi campeão brasileiro com a maioria do seu elenco profissional sendo formada nas suas categorias de base. Porém, esse retrato está longe de ser reproduzido nesta temporada.

De acordo com levantamento da <b>Folha</b>, dos jogadores que pertenciam aos elencos profissionais dos 20 clubes no início deste Campeonato Brasileiro, somente 36%, ou pouco mais de um terço, haviam sido formados no mesmo clube que jogam.

Em números absolutos, apenas 247 dos 687 atletas que começaram a atual Série A passaram pelo processo de formação e conseguiram se profissionalizar na mesma equipe.

O baixo índice de aproveitamento dos jogadores da base nos times profissionais é reflexo de uma série de desafios que os jovens têm de enfrentar para continuarem no clube após a sua formação e não serem negociados ou até desistirem das suas carreiras.

Segundo especialistas que vivenciam este cenário, um dos problemas é a forte resistência dos treinadores profissionais em trabalhar com jovens jogadores. Outro fator é a pressão que empresários e investidores exercem sobre os clubes para que os talentos sejam negociados antes da profissionalização.

Além disso, há uma lacuna muito grande entre a última categoria de base (juniores) e o profissional, apontam. Para eles, a ausência de uma competição nacional sub-23 organizada pela CBF para fazer essa aproximação e se tornar uma válvula de escape para o desenvolvimento dos atletas de idade entre 20 e 23 anos também contribui com esta realidade.

"Imagine uma empresa que aproveita somente 36% da sua matéria-prima. Ou seja, descarta 64% de tudo o que ela produz. Qual empresa é viável desta maneira? Então, o que falta? Processos, normas, gestão, enfim, uma política clara e bem definida para que promova essa aproximação. No futebol brasileiro, a base ainda é um mundo totalmente à parte do profissional", analisa Varley Costa, que já trabalhou na formação de clubes como Cruzeiro e Atlético-MG, e atualmente é professor de futebol da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Ele acrescenta que a cobrança por resultados nas categorias de base também é outro ponto maléfico e que prejudica a formação continuada dos futuros futebolistas. O correto, diz, seria o treinador que atua na iniciação ser cobrado pela quantidade de jogadores revelados e não por vitórias ou títulos.

"Como o dirigente que manda no clube não entende o processo, ele se baseia na única coisa palpável, que é o resultado. E isso atrapalha a cadeia de formação dos atletas. Em média, dos 30 jogadores que começam no sub-11 de um clube, somente 3 chegam ao sub-20 do mesmo. E, no profissional, somente um. Então, não interessa para o atual sistema formar jogadores", completa.

Já a saúde financeira dos clubes tem influência direta no ritmo dos investimentos destinados às duas frentes de atuação. O foco é sempre no profissional, mas se não houver dinheiro disponível nos cofres para as contratações, as apostas vão em direção dos garotos da base, geralmente mais baratos.

O atacante Gabriel, um dos jogadores formados pelo Santos, comemora gol na Vila Belmiro

É o caso da Chapecoense. Com o dinheiro extra obtido pela inédita participação na Primeira Divisão do Nacional, a diretoria do clube optou por trazer muitos jogadores que atuaram nos Estaduais do primeiro semestre e "subiu" somente um jogador formado no clube para o elenco profissional, o zagueiro Fabiano.

"Penso que temos de melhorar essa nossa integração entre profissional e categorias de base. Mas, atualmente, não temos um bom potencial para ser aproveitado e, se apostássemos nos jovens, iríamos ficar em 20º no Brasileiro", justifica João Carlos Giovanaz, vice de futebol do clube catarinense, o último do ranking no quesito aproveitamento, com apenas 2,9%.


Fonte: Guilherme Yoshida – Folha de São Paulo

Foto: Ricardo Saibun/Divulgação/Santos FC