Postado por - Newton Duarte

Os erros e acertos de Sérgio Soares no Bahia

O caminho até a queda: os erros e acertos de Sérgio Soares no Bahia

Demitido na última terça-feira, após o empate com o Paysandu, treinador tem 57% de aproveitamento no Tricolor. Charles Fabian é efetivado e assume a equipe na Série B

Sérgio Soares foi demitido na última terça-feira, após o empate com o Paysandu (Foto: Thiago Pereira)

Queda de rendimento do time, substituições questionáveis e relacionamento conturbado com a torcida. Os pecados cometidos por Sérgio Soares em pouco mais de dez meses custaram-lhe o cargo de técnico do Bahia. A demissão foi oficializada na última terça-feira, após o empate sem gols com o Paysandu, no Mangueirão, pela 30ª rodada da Série B. O caminho para a queda foi trilhado entre os acertos e erros do treinador, que se apoiou na própria convicção para adotar escolhas, mas não resistiu ao peso das consequências.

Sérgio Soares comandou o Bahia em 62 partidas, com 29 triunfos, 20 empates e 13 derrotas, rendimento de 57%. Na lista de sucessos pelo Tricolor, está a conquista do título baiano, e a concretização de uma exigência da diretoria tricolor. Quando o técnico foi contratado, o presidente Marcelo Sant’Ana afirmou que um dos requisitos para a escolha do treinador havia sido a filosofia ofensiva. E com Soares, o Bahia transformou o desejo do dirigente em realidade. Foram 100 gols marcados no ano, 25 deles anotados por Kieza, artilheiro do time em 2015.

- Agora o Bahia tem que ser um time protagonista. Quando eu contratei ele [Sérgio Soares], eu citei bem claramente isso: “Sérgio, você está sendo contratado, porque eu acredito que você é um técnico novo, com a mentalidade diferente. Seus times têm uma característica de buscar o resultado, de incomodar o adversário, é para isso que você está sendo contratado para o Bahia. Por essa qualidade que você tem, por essa virtude. Claro que você jogar criando, atacante, agressivo, você termina muito mais exposto. Mas eu, como presidente, estou disposto a junto com você a pagar esse preço – disse Sant’Ana em entrevista concedida ao GloboEsporte.com no início deste ano.

Sérgio Soares deixa o Bahia com aproveitamento geral de 57% (Foto: Thiago Pereira)

A demissão restando apenas oito rodadas para o fim da Série B ocorreu três dias após Marcelo Sant’Ana defender Sérgio Soares publicamente. No sábado passado, logo após a derrota no Ba-Vi, o presidente tricolor o garantiu no cargo. O empate em Belém, contudo, modificou os planos dos dirigentes e interrompeu o planejamento traçado para que o técnico permanecesse no Fazendão durante toda a temporada. Anunciado nesta quarta-feira, Charles Fabian, substituto de Sérgio Soares, terá 10 dias até a partida contra o Oeste. Neste tempo, ele tentará fazer com que o elenco repita o bom futebol do primeiro semestre, e que consiga em oito jogos alcançar um objetivo cercado de dificuldades.

OS ERROS DE SÉRGIO SOARES

O primeiro semestre encheu o torcedor do Bahia de esperança. O título estadual e o vice-campeonato da Copa do Nordeste passaram a impressão de que o acesso para a Série A seria conquistado sem grandes dificuldades. A realidade, entretanto, foi ingrata com as expectativas da torcida tricolor. Peças importantes, como Souza, Pittoni e Tiago Real, caíram de rendimento, e Sérgio Soares não conseguiu intervir de forma efetiva para que o time permanecesse no caminho do sucesso. Experiências malsucedidas contribuíram para a queda de desempenho da equipe. 

Técnico não conseguiu dar consistência ao time no segundo semestre da temporada (Foto: Thiago Pereira)

O treinador passou boa parte da Série B em busca da escalação ideal. A formação com três atacantes, utilizada no primeiro semestre, foi colocada de lado em detrimento de em um sistema mais consistente no meio de campo, com dois volantes e dois armadores. A mudança surtiu efeito de início, mas se mostrou insuficiente para que o time voltasse a empolgar. Sérgio Soares também teve dificuldades para encontrar laterais que dominassem o setor. Após a saída de Titi, negociado para o futebol turco, a defesa passou a sofrer com as bolas aéreas. Encontrar um parceiro para Yuri segue como um tormento no meio de campo.

Sérgio Soares teve ainda dificuldades para conseguir mudar o panorama de determinadas partidas. Contra o Paysandu, na última terça-feira, o Bahia permaneceu engessado mesmo com um jogador a mais em campo durante boa parte do segundo tempo. As substituições realizadas também não agradavam a torcida. Tornou-se comum nos últimos jogos realizados na Arena Fonte Nova que a torcida questionasse as decisões do treinador, e até se despedisse em coro e cânticos entoados das arquibancadas.

Inconsistente, o Bahia empatou 12 partidas na Série B, algumas delas contra adversários da parte de baixo da tabela. Para completar, o Paysandu foi o único time que está na briga pelo G-4 vencido pelo Tricolor - 2 a 0 no primeiro turno, na Arena Fonte Nova.

OS ACERTOS DE SÉRGIO SOARES

Nos dez meses em que Sérgio Soares esteve à frente do Bahia, os jovens formados nas categorias de base do clube ganharam bastante espaço. O técnico lançou 14 atletas de categorias inferiores ao time principal, e os utilizou em todos os setores do campo. Em 2015, Jean, Hayner, Carlos, Patric, Eder, Vitor, Robson, Sávio, Gustavo Blanco, Yuri, Mateus, Luan, João Leonardo e Mário tiveram a oportunidade de atuar pela primeira vez no grupo profissional por opção do treinador.

Com Sérgio Soares, o Bahia também recuperou jogadores desacreditados. Kieza, Maxi e Titi não conseguiram desempenhar bom futebol na temporada passada, quando o Tricolor foi rebaixado, e despertaram a desconfiança da torcida. Os três assumiram a titularidade desde o início de 2015, reverteram o quadro e se transformaram em referências no time. 

A ofensividade foi outro ponto forte do time enquanto Sérgio Soares comandou o time. Em dez meses, o Bahia marcou 100 gols e superou os números de 2013, quando disputou 63 jogos e marcou 64 gols. O Tricolor também superou a temporada de 2014, período em que marcou 68 gols em 66 jogos.

O ponto alto do Bahia com Sérgio Soares, entretanto, foi a conquista do título estadual. O Bahia perdeu a primeira partida para o Vitória da Conquista por 3 a 0, e precisava reverter a desvantagem poucos dias após ser derrotado pelo Ceará na final da Copa do Nordeste. Na Fonte Nova, o Tricolor não tomou conhecimento do Bode e venceu por 6 a 0, maior goleada do time em 2015.