Ousar e variar: de vez em quando é bom
Ganhando ou perdendo, dentro ou fora de casa, na chuva ou com sol, vestindo branco ou azul com rosa degradê, às 16h ou às 18h30, o Bahia é um só. E todo esse mérito é também o maior problema do time.
Se antes já era nítido, a derrota para a Portuguesa da maneira vergonhosa que aconteceu no sábado à noite escancarou que o Bahia não varia sua estratégia nem quando mais precisa. Cristóvão Borges, tão merecidamente elogiado por ter dado um padrão de jogo e por deixar um elenco limitado sempre entre os 10 primeiros do Brasileirão, também merece a crítica. Afinal, cabe ao técnico treinar alternativas para o time fazer algo diferente quando a tática habitual não está funcionando. Isso o Bahia não faz. Nem tenta fazer.
O plano A é conhecido de todos, inclusive adversários. Com três volantes – sendo que dois deles participam do jogo ofensivo –, dois pontas e um centroavante, o tricolor adianta a marcação, troca passes pelas laterais, faz rápidas inversões de jogada. Os jogadores são bem treinados e sabem o que fazer quando entram em campo. Ponto pra Cristóvão. Mas nem sempre funciona. E quando não funciona...
O Bahia não tem plano B. Demonstração dada, mais uma vez, logo aos 4 minutos de jogo no Canindé. Após falhas de Lucas Fonseca e Hélder na marcação, a Portuguesa já vencia por 2x0 quando Rafael Miranda teve que sair, machucado. Diones mostrou o conservadorismo do treinador, embora até justificável para alguns por ainda estar no comecinho do jogo. E, no bar, o torcedor, que começou a noite de sábado pedindo um chopp, então pediu a conta.
Aos 25 minutos do primeiro tempo, o ápice da falta de ousadia: por opção do técnico, William Barbio substituiu Marquinhos. Naquele momento, o lado direito ficava com Madson, Diones e Barbio juntos em uma mesma partida de Série A. E o chopp, antes gelado e cremoso no ponto certo, tornou-se apenas amargo.
Após a derrota, Cristóvão justificou a alteração: “O time tomou três gols em seis minutos e era preciso mudar”. Perfeito. Mas mudar vai além de trocar seis por meia dúzia em substituições de jogadores da mesma posição. Aliás, pelo futebol que Marquinhos Gabriel vem jogando e pelo que William Barbio ainda não mostrou, não dá pra considerar exatamente seis por meia dúzia.
Cristóvão mostra-se refém de um só esquema tático. E, se é verdade que não dá para fazer muita coisa com as poucas opções que o elenco proporciona, é fato também que o próprio Cristóvão não se ajuda. Prefere as substituições programadas de sempre à contratação de um camisa 10 que jogue como um quarto homem de meio-campo ou de um 10 clássico, que cadencie o jogo.
Considera que esse perfil não se encaixa no sistema de jogo implantado. No titular, não. Mas seria uma opção e tanto para sair da mesmice. O Bahia não tem ninguém assim no elenco. E pelo menos no banco de reservas, onde agora podem sentar 12 jogadores e para onde o treinador levou dois zagueiros e três volantes entre os dez escolhidos contra a Portuguesa, esse meia teria lugar.
Fonte: Herbem Gramacho - Correio
Foto: DMESPORTES