Postado por - Newton Duarte

Para premiar o jogo limpo e educar pelo esporte, Portugal cria cartão branco

Portugal cria cartão branco para premiar o jogo limpo e educar pelo esporte

Contra-ataque perigoso, cinco jogadores de ataque contra três de defesa. De repente, enquanto toca a bola com velocidade para envolver a zaga, os atacantes notam que um dos zagueiros desabou no chão, sentindo cãibras. Eles percebem que o adversário realmente está com problemas e que não é uma artimanha dele para paralisar a partida. Então, um deles coloca a bola para fora e abdica de uma oportunidade clara de gol, para que o companheiro do outro time possa ser atendido. O árbitro, que assiste a tudo de perto, vai até o jogador que tirou a bola do jogo e mostra-lhe um cartão… branco.

A cena é impensável no futebol profissional. Primeiro porque dificilmente um time abriria mão de um ataque promissor numa situação dessas. E segundo porque, obviamente, cartão branco não existe.

Mas ela pode começar a ser realidade em Portugal, nos jogos entre crianças e adolescentes de 10 a 15 anos de idade. Isso porque a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol e o governo português resolveram criar o tal cartão branco, que será utilizado pelos juízes para premiar atitudes de fair play. Ele pode ser mostrado a jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. E até mesmo a torcida, que obviamente não recebe o cartão, tem seu comportamento avaliado pelo árbitro no relatório do jogo.

A iniciativa não é totalmente inédita. A ideia começou a ser trabalhada no início do ano, pela Associação de Futebol de Setúbal. Agora, porém, ganhou projeção nacional, pois será utilizada em todo o país. Tanto que gente de peso esteve na cerimônia de lançamento do projeto, como o ex-árbitro Pedro Proença e o secretário de Estado do Desporto, Emídio Guerreiro.

Na prática, funciona assim: toda vez que o árbitro flagrar uma atitude que julgar digna de fair play, mostrará o cartão branco. Da mesma maneira que ocorre com os cartões amarelo e vermelho, ele será exibido sempre com o jogo parado e anotado na súmula – assim como o motivo pelo qual foi mostrado.

O caso hipotético narrado no início do texto está longe de ser a única situação em que o cartão branco será passível de ser mostrado. O regulamento da nova iniciativa prevê situações que vão desde o mero respeito às regras do jogo até o repúdio à dopagem, passando pelo respeito aos adversários, o reconhecimento da derrota e a recusa à fraude. Ao final dos campeonatos, os times que tiverem acumulado maior número de cartões serão premiados com o troféu fair play.

Evidentemente, os critérios para aplicação do cartão são subjetivos e poderão ser interpretados de várias maneiras por árbitros diferentes em situações idênticas (algo que já ocorre com o amarelo e o vermelho). Mas a ideia não é criar uma competição sobre quem pratica mais o “jogo limpo” e sim utilizar o esporte como meio educacional para as crianças e jovens.

O fato de um determinado jogador ser “premiado” com o cartão para todo o estádio ver que ele fez algo bacana tem, também, um aspecto psicológico. O objetivo é que ele se torne o centro das atenções naquele momento, assim como acontece com quem cometeu um deslize e é advertido pelo amarelo ou expulso de campo.

Apesar da coincidência da cor, vale lembrar que o cartão branco implantado em Portugal nada tem a ver com aquele que Michel Platini deseja introduzir para tirar um jogador de campo por alguns minutos, em caso de ausência de fair play (como simular faltas, por exemplo).

De todos os garotos que servirão de cobaias para a nova iniciativa, certamente poucos se transformarão em atletas profissionais no futuro. Mas, se o cartão branco servir para que eles aprendam a praticar o jogo limpo no campo e na vida, a iniciativa já terá valido a pena.