Postado por - Newton Duarte

Para que servem as categorias de base no futebol?

Para que servem as categorias de base no futebol?

Bicho-Papão

A divulgação recente de custos anuais astronômicos de clubes brasileiros com as categorias de base convida à reflexão. Afinal o que buscam os clubes com elas? O que antigamente era luxo, hoje é cesta básica. Nosso futebol, cada vez mais exportador de pé de obra, se viu diante de um fenômeno outrora inexistente.

Na época áurea em que o mercado europeu era fechado, e o “sportbusiness” ainda engatinhava, nossos clubes dispunham de times com vários craques, alguns de Seleção, que permaneciam vários anos defendendo os mesmos clubes.

O mundo mudou, os europeus enriqueceram mais, abriram seus mercados para os jogadores de futebol do “Novo Mundo”, afetando o nosso delicado equilíbrio (antes vinham aqui e levavam pau-brasil, açúcar e ouro, agora levam “futeboleiros”) para sempre. Os garotos da base, que só ascendiam ao time principal com 20, 21 e até 22 anos, agora sobem aos 17 ou 18. Os garotos são vendidos aos 19 e substituídos pelos de 17.

A necessidade de renovação em espaço cada vez mais curto de tempo, aliada com a de fechar as contas do ano com essas vendas, fizeram com que os clubes investissem mais e mais na formação e qualificação de seus jovens jogadores. Imaginaram construir uma espécie de fábrica, capaz de revelar craques todos os anos. Ou seja, difundiu-se entre os clubes o conceito de que investir apenas na infraestrutura dos profissionais não era suficiente. Era preciso investir na construção de ‘infra’ semelhante para os jovens.

Essa semana leio uma matéria que mostra uma certa insatisfação no Corinthians pelos R$ 10 milhões / ano investidos na base, sem que houvesse o reforço do time principal. Na mesma matéria é revelado que o Santos, um dos clubes mais bem sucedidos nessa área nos últimos anos, investe cerca de R$ 8,5 milhões, e que o SPFC, talvez o pioneiro na construção de instalações de excelência para os garotos, investiria astronômicos R$ 25 milhões.

De fato, depois de alguns anos revelando bons valores e faturando milhões com isso, parece que a produção da “fábrica são paulina” está numa preocupante entressafra, revelando apenas 1 jogador entre os atuais titulares. Bem, depois de vários anos conhecendo, e algumas vezes colocando em prática os métodos de craques nesse assunto, aqui e na Europa, aí vão alguns conselhos para evitar decepções, e sonhos irreais.

Não invista em categoria de base esperando revelar um Neymar. Neymar é um ponto fora da curva, e, se aparecer alguém semelhante, agradeça aos céus. Mas ele é um sonho. O objetivo é abastecer anualmente o time profissional com alguns bons jogadores, que possam compor bem o elenco, baixar o custo da folha salarial, incorporar jogadores identificados com o clube e sua cultura, e, quem sabe, aprimorá-los para que possam gerar uma boa receita ao clube.

Categoria de base não é matemática, onde investir X significa um resultado garantido de Y. Pense sempre no ‘médio e longo’ prazos.

Dê aos garotos uma ‘infra’ confortável, que lhes permitam desenvolver-se física e tecnicamente, e cerque-os de bons profissionais e de pessoas que acima de tudo sejam “educadores”. Luxo é excesso, desnecessário e indesejável. Não jogue dinheiro fora. O mercado atual cria a necessidade de meninos-homens, maduros, e não de crianças mimadas.  

Crie uma conexão bem afinada entre as comissões técnicas do time profissional e as das demais categorias. Métodos de treinamento e sistemas de jogo semelhantes facilitam a adaptação dos garotos quando subirem.

Outro ponto importante. Ser campeão de Taça isso e aquilo, e Copinhas sub qualquer coisa, não valem para nada. O que vale é identificar os talentos e prepará-los corretamente para a incorporação entre os profissionais. Ao invés de disputar Copinhas pelo Brasil (e cacarejar títulos inúteis), o melhor e promover o intercâmbio regular com equipes estrangeiras (europeias de preferência), participando de torneios no exterior. Isso irá dotá-los de experiência internacional, e certamente acelerará o amadurecimento dos garotos, muito mais que jogos contra times inexpressivos de empresários por aqui.

E finalmente, disponha de um excelente departamento jurídico. Sem ele todos os itens anteriores poderão ser inúteis.


Fonte: Ricardo Araújo - Blog Novas Arenas – Exame