Postado por - Newton Duarte

Parceria de sucesso

Parceria de sucesso

A reação do Bahia no Brasileirão tem muito a ver com relação entre Gilson Kleina e Charles. Em momento algum, desde que chegou ao Fazendão, Kleina bateu de frente com Charles, ídolo do clube e com moral em alta diante de torcida e elenco, pela curta, mas eficiente passagem como interino. Percebeu que, num possível embate, a queda de braço seria totalmente favorável ao eterno artilheiro tricolor. Na primeira derrota, pipocariam questionamentos sobre a não efetivação e o porquê do ex-interino não ser aproveitado na comissão técnica.

Malandro, Kleina abriu mão dessa briga. Preferiu trazer Charles pro lado dele. Com isso, agregou o conhecimento do auxiliar sobre o elenco, inegavelmente superior, e, de quebra, ganhou alguém para dividir responsabilidades.

Desde a estreia - empate com o Corinthians fora de casa (1x1)-, Charles foi tratado como maior conselheiro por Kleina. Foi o escolhido pra ficar no banco de reservas. Na passagem do técnico pelo Palmeiras, essa tarefa era do auxiliar Jair Leite, que também veio pro Bahia, mas, aqui, acompanha às partidas dos camarotes.

A presença de Charles ao lado de Kleina não é meramente simbólica. Os dois passam os 90 minutos interagindo. O relato é do amigo Matheus Carvalho, editor-chefe do Globo Esporte, e que também faz reportagens de campo pro SporTV. Ele acompanha muitas partidas bem perto da dupla. Segundo Matheus, Charles tem toda a liberdade para passar instruções aos jogadores e é constantemente consultado por Kleina sobre características dos atletas e questões táticas.

Desse diálogo permanente, vieram decisões importantes, como a efetivação de Railan, por exemplo. Charles sabia o que o lateral podia render, por ter sido treinador dele na base. Kleina confiou na percepção do auxiliar. Bancou o garoto no time e ele se firmou. As incorporações das promessas Bruno Paulista e Rômulo também têm o dedo de Charles.

Outro sinal de prestígio ao auxiliar veio no episódio Rhayner. Charles se desentendeu com o atacante nos vestiários do Mineirão, depois que Rhayner saiu de campo bradando por ter sido substituído, na derrota pro Cruzeiro. Mesmo sem anunciar publicamente, a partir dali, Rhayner saiu dos planos de Kleina e parou de ser relacionado. Com a atitude, o técnico ratificou a autoridade de Charles diante do elenco. Mais tarde, o atacante seria oficialmente afastado depois de brigar com o diretor de futebol Rodrigo Pastana.

Além da preservação do espaço de Charles, Kleina tem outros méritos. Com ele, o rendimento ofensivo melhorou. Isso tem a ver com variações táticas implementadas pelo treinador, como a escalação dos laterais Guilherme e Diego Macedo no meio de campo, pra aumentar a velocidade; o gradual desuso o tão questionado esquema com três volantes - o time atuou com apenas dois nos últimos jogos; e a utilização de três atacantes, como no segundo tempo das vitórias contra Sport e Botafogo.

Kleina também tem se destacado na gestão do elenco. Ganhou a confiança dos boleiros por tomar partido em reivindicações sobre salários e bichos junto à diretoria. Tem sido hábil em contornar problemas internos - como no caso Rhayner, em que foi apoiado pelo grupo. Também é elogiado pelos jogadores por manter a motivação dos que não estão jogando e dar-lhes oportunidade. Foi assim que resgatou gente que vinha em má fase, mas tem sido decisiva, como Barbio, Maxi, Emanuel, Branquinho, Lucas Fonseca e Uelliton.

Os primeiros resultados positivos da era Kleina começaram a aparecer. O Bahia é o terceiro melhor do returno - apenas um ponto a menos que Atlético-MG e Internacional. É o melhor ataque da fase, com 11 gols em seis jogos - a mesma quantidade que fez em 19 partidas no primeiro turno. E, o mais importante - o time vem tendo atuações convincentes.

A situação do Bahia ainda é delicada. Dos 13 jogos que restam, o time precisa ganhar pelo menos 5 pra chegar aos 44 pontos que devem ser suficientes pra garantir a permanência na elite. Parece pouco, mas não é. Mas também é inegável que as perspectivas num passado recente já foram bem piores. A torcida tricolor deve boa parte desse reforço no otimismo ao trabalho de Gilson Kleina.