Postado por - Newton Duarte

'Pegaram junto, largaram igual': Aos 49, a macumba braba e pontual

Aos 49, a macumba braba e pontual

“Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”, repetia Neném Prancha (1906-1976), o maior filósofo do futebol brasileiro. Neném morreu antes de ver o campeonato terminar realmente empatado, em 1999, com dois campeões: o Bahia e o Vitória.

Naquele ano, o Ba-Vi final seria no Barradão, mas o Bahia obteve na Justiça a interdição da casa do rival, por falta de segurança, e a partida ganhou novo palco, a Fonte Nova. No domingo decisivo, entretanto, o Vitória alegou não ter recebido nenhuma ordem judicial. Assim, na hora marcada, os dois times pisaram no gramado, mas não houve jogo porque ambos decidiram jogar em casa: o Bahia entrou na Fonte Nova e o Vitória no Barradão. Dois times, um em cada estádio. Seis anos depois, em 2005, após idas e vindas aos tribunais, a Federação Baiana dividiu o título entre os dois.

Cito o triste episódio dos dois campeões para falar da macumba braba e pontual de ontem. Ambos amargaram a derrota aos 49 do segundo tempo, minuto em que Thiago Ribeiro fez o gol do Santos (1 x 0 Vitória) e Keirrison, o último do Coritiba (3 x 2 Bahia). Os baianos caíram para a Série B e sintetizaram uma agonia do futebol nordestino, hoje só vivo na Série A por conta do Sport Recife.

Quando a economia dos clubes dependia quase que somente da bilheteria dos estádios, o futebol do Nordeste era mais forte. Quando entraram na pauta (e nos cofres) verbas de publicidade, cotas de televisão e mensalidades de sócio-torcedor tornou-se mais escandalosa a diferença entre os que ficam acima e os quem ficam abaixo de Minas Gerais. Perdeu quem depende do espectador que decide no dia do jogo se vai ao estádio. Ou não.

Para agravar, o torcedor baiano já não é mais tão assíduo. A ocupação média das duas casas neste Campeonato Brasileiro foi de apenas 30%. E saiba que, considerando a meia-entrada, o ingresso baiano não é dos mais caros (pelo menos, para os padrões aqui do Sul). Este ano, o Bahia chegou a cobrar R$ 15 e o Vitória, R$ 20. Preços baratos e, infelizmente, equipes pobres de bola.

A macumba é um tempero do folclore do futebol baiano. Brinco com o folclore porque a realidade não tem graça. Ainda mais quando se lembra que o Bahia foi duas vezes campeão brasileiro (1959, contra o Santos de Pelé; e 1988) e que o Vitória já ficou com o vice (1993). Hoje em dia, nem pagando promessa...

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Na foto, Leonardo Villar e Gloria Menezes em O Pagador de Promessas, filme de Anselmo Duarte, rodado em Salvador e ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1962.