Postado por - Newton Duarte

Poluição e descaso: No Oi Rio Pro, Surfistas passam mal e criticam a qualidade da água

Surfistas passam mal e criticam a qualidade da água do Postinho

Filipe Toledo rumo ao aéreo que lhe valeu a nota 10 | Guito Moreto

Filipe Toledo, C. J. Hobgood, Wiggolly Dantas e Kelly Slater foram alguns dos surfistas que estavam se sentindo mal ontem no WCT do Rio. Os sintomas são parecidos: enjoo e ânsia de vômito. Ainda não é possível afirmar se foi a qualidade da água que causou o mal estar. Mas muitos competidores reclamaram de um odor estranho no mar. De longe, era perceptível a olho nu que havia uma mancha escura saindo do Canal da Joatinga encobrindo toda a área de competição.

— Dentro da água, estamos sentindo um cheiro de fossa. Não passei bem hoje de manhã depois de surfar. Vi agora na área dos competidores que o C.J. e o Kelly também não estavam se sentindo bem — comentou Wiggolly Dantas.

O australiano naturalizado irlandês Glenn Hall teve um relato bem parecido com o de Wiggolly:

— A água cheira mal. É nojento. Também vomitei e fiquei doente, a Sage (a americana Sage Erickson) também está se sentindo mal — disse.

Faixa de água poluída no canto esquerdo da praia da Barra

Faixa de água poluída no canto esquerdo da praia da Barra | Divulgação Mario Moscatelli

Já Adriano de Souza, que deixou de treinar alguns dias pois estava se sentindo mal e com febre, optou por não fazer uma ligação direta entre seu mal estar e a qualidade da água.

— É difícil falar... porque esse evento é feito pelo estado (a Secretária Estadual de Esportes e Lazer apoia o WCT do Rio através da Lei de Incentivo), que vem investindo no esporte, colocando uma grande estrutura para milhares de pessoas acompanharem. Então jamais vou falar qualquer coisa má do evento. Mas posso dizer que existiram obstáculos, tentei ultrapassar, mas não consegui — analisou Adriano, que logo em seguida foi perguntado se a água estava poluída, e respondeu apenas com um olhar dando a entender que sim.

Já Filipe não quis ficar em cima do muro. Anteontem, ele não competiu mas apareceu para prestigiar as baterias da repescagem. Muito agasalhado, o paulista disse que estava bastante enjoado, mas que iria continuar na competição. Ontem, antes de se classificar para as quartas de final, ele afirmou que as causas de seu mal estar apontavam para a qualidade da água. Apesar das queixas, a organização do WCT informou que não recebeu nenhuma reclamação formal dos competidores.

Previsão de mais sujeira

A linha que divide a cor do mar, mais perto da ilha, dá noção da poluição na Barra da Tijuca | Victor Costa

O biólogo Mario Moscatelli já havia alertado à organização do WCT do Rio do perigo de se fazer o evento no início da barra da Tijuca. Ele afirma que a situação deve piorar até sexta-feira, [ultimo dia da janela de competição. Já que as trocas de maré serão mais intensas e também existe a previsão de fortes ventos de leste que empurram a água com esgoto que sai do canal para a área de competição.

— O governo estuda a qualidade da água. E quase sempre essa região do início da Barra está imprópria para o banho. Mesmo sabendo disso, eles apoiam através da secretária de esportes que os principais surfistas do mundo compitam nessas ondas sujas. É, no mínimo, um contrassenso. Eles sabem que é perigoso e mesmo assim expõem os atletas ao risco de contaminação— questionou o biólogo.

A secretária informou que não é responsável pela escolha do local do evento, mas que apoia o WCT do Rio pois acredita que é importante para a cidade. Diante de tanta sujeira, é impossível não fazer comparação com a Baía de Guanabara, que mesmo poluída irá receber os melhores velejadores do mundo nos Jogos Olímpicos, em 2016.