Postado por - Heitor Montes

Por emoção da torcida, Bahia e Arena aparam arestas e planejam iniciativas

Bahia e consórcio querem que torcedor volte a se sentir em casa no estádio. Pedro Henriques fala sobre preços de ingressos e revela planos para aproximar tricolores

Desde que a Arena Fonte Nova foi inaugurada, o torcedor do Bahia não consegue ir ao estádio com a mesma alegria que ia à antiga Fonte. A mudança estrutural, a formalidade e os preços são alguns dos motivos que esfriaram a relação, e hoje o Tricolor tem média de 12.770 pagantes por partida. Mas, como quem luta para evitar que um casamento chegue ao fim, o clube e a administração da Arena estão em busca de uma sintonia para afinar os procedimentos e reaproximar o torcedor do estádio.

As conversas entre o clube e o consórcio sempre foram conturbadas. Não foram poucas as vezes em que o presidente do Tricolor, Marcelo Sant’Ana, se queixou publicamente do caso. Houve até um rompimento passageiro. Mas a maré virou. Atualmente, os dois lados têm tentado melhorar o casamento.

- A relação entre a Arena e o Bahia está cada vez mais alinhada. Temos compartilhado decisões importantes para atração de público e para melhorar, a cada jogo, a atmosfera da Arena para receber os tricolores. O clima é o melhor possível. Para criarmos apego a um lugar, precisamos gerar histórias, emoções, experiências ao longo dos anos. Tanto o Bahia quanto a Arena têm realizado todos os esforços para que os tricolores se sintam em casa, e isso também tem surtido efeito. Com o passar dos anos, temos certeza de que a nova arena terá um lugar especial no coração dos tricolores, assim como a antiga Fonte tinha e nunca deixará de ter - afirmou o presidente da Arena, Alexandre Gonzaga, em entrevista ao GloboEsporte.com.

A primeira grande ação da temporada foi o chamado Dia de Bahia. No evento, antes do jogo contra o Paraná, o torcedor teve uma série de atrações no estádio. Uma iniciativa similar tem sido preparada para as proximidades do dia das crianças. Além disso, para o jogo contra o Goiás, os torcedores puderam comprar o ingresso pela metade do preço até um dia antes do duelo.

As tentativas de levar o torcedor para dentro do estádio não ficarão somente na questão financeira. De acordo com o vice-presidente do Bahia, Pedro Henriques, a ideia é fazer com que o estádio se torne mais atrativo.

- Acho que, até o final do ano, a gente não vai usar mais o Super Norte para a torcida do Bahia. Vai ficar apenas para o visitante. Essa é uma demanda que a gente tem para deixar a torcida tricolor mais perto do campo, e o setor mais barato não ser um setor que fica tão afastado, tão prejudicado. Dar essa possibilidade para quem só pode pagar um valor menor. A gente vai instalar lá o CAS (Central de Atendimento ao Sócio), a loja, a própria sede do Bahia que vai ser instalada lá. Isso tudo, em conjunto, vai acabar melhorando - comentou.

Confira abaixo uma entrevista exclusiva com Pedro Henriques, vice-presidente do Bahia em que ele fala sobre a relação com a Fonte Nova, as próximas ações no estádio e, também, o que tem sido feito para melhorar a experiência do torcedor.

Marcelo Santana Presidente do Bahia Pedro Henriques, vice-presidente do Bahia

GLOBOESPORTE.COM: Historicamente, a relação entre o Bahia e a Arena Fonte Nova não é tranquila. Como está atualmente?
Pedro Henriques:
Tem melhorado. A gente pegou três presidentes de Arena só nessa gestão, eu e Marcelo [Sant'Ana, presidente do Bahia]. Marcelo se desgastou bastante, e hoje quem costuma fazer essa relação tem sido eu. Mas esse último diretor, que é Alexandre Gonzaga, Leco, tem tido posturas boas, tem sido parceiro, tem buscado entender o clube. Não que os anteriores, Marcos Lessa e Sinval... Eles não tiveram, talvez, uma continuidade de trabalho e uma habilidade, até porque eles tiveram que ficar bastante tempo focados na renovação do contrato. Quando Leco chegou, a gente já tinha renovado o contrato, e o que precisava efetivamente buscar eram ajustes do dia a dia da relação, principalmente no atendimento à torcida, entender que as demandas que o clube tem são para o bem do negócio também, não só para beneficiar o Bahia e seu torcedor, mas fazendo isso a Arena ganha também.

Uma queixa grande da torcida é sobre o valor dos ingressos. Contra o Paraná foi feita uma promoção, mas o preço voltou ao normal contra o Vasco. Como é feita essa negociação? Quem determina o valor do ingresso?

O valor de ingresso é uma determinação da Arena, em caso de divergência. Diferente da questão do acesso garantido. A gente tem mais poder no acesso garantido, e a Arena tem mais poder no ingresso. Os valores dos ingressos, na nossa leitura, começando de R$ 15, não é um valor fora da realidade. É um valor até bem próximo ao último acesso que o Bahia teve em 2010, em Pituaçu. A maioria dos jogos era R$ 30 / R$ 15. A gente tem um setor que comporta uma quantidade boa de torcedores por R$ 30/ R$ 15. A gente negociou bastante com a Arena, porque, na verdade, aquela promoção que foi R$ 20 / R$ 10, do Dia de Bahia, não era uma promoção de ingresso. Era um dia que a gente queria fazer diferenciado, uma espécie de dia para o torcedor, para ter uma experiência diferente, para fazer ações diferentes para o torcedor. E também proporcionar a ida ao estádio.

Você falou sobre o uso do espaço interno. Está sendo feito algo no sentido de atrair o torcedor, até para evitar que entre todo mundo faltando pouco tempo para começar o jogo?
Com certeza. Isso é um grande problema, é uma das coisas que tenho buscado conversar com o pessoal da Arena. O grande problema é o seguinte: a Arena tem as empresas que têm contrato com ela. A gente não tem, a gente Bahia, uma gerência direta sobre essas duas empresas. É difícil você convencer o torcedor a entrar para consumir lá dentro sabendo que o valor que está sendo cobrado lá é muito superior ao de fora. Por outro lado, tanto para o clube quanto para a Arena, é muito ruim que aconteça como acontece hoje, do acesso de, pelo menos, 50% do público nos últimos 30 minutos antes de o jogo começar. Por quê? Por mais que todas as catracas estejam disponíveis, por mais que tenhamos todos os funcionários possíveis nos seus postos, vai dar confusão. Não tem como entrar dez, cinco mil pessoas, faltando meia hora e ser uma coisa extremamente fluída. Não dá. É uma questão de vazão. Não tem como.

Pelo que você disse, baixar o valor do ingresso está praticamente descartado, então. Mas terão outras promoções?
Provavelmente terão outras promoções. Vai haver uma ação similar ao Dia de Bahia, provavelmente na época do Dia das Crianças. A gente já está desenvolvendo isso. E mudanças pontuais. Uma das coisas que a gente sempre defendeu aqui no clube era a mudança da forma de setorização. A gente sabe que essa é uma demanda do torcedor, a gente sabe que o torcedor gosta de circular no estádio, às vezes tem um amigo que assiste no Norte, e ele está no Leste, não pode encontrar. Essa é uma demanda antiga. Não podia ser feita muita coisa em relação a isso até a Olimpíada. Mas, a partir de agora, a gente tem uma liberdade um pouco maior. Com certeza mudança grande sobre isso vem no ano que vem, mas já nesse ano a gente pode fazer algumas experiências. Como foi no Dia de Bahia, que a gente unificou os setores Norte, Leste e Sul. Acho que até o final do ano a gente não vai usar mais o Super Norte para a torcida do Bahia. Vai ficar apenas para o visitante. Essa é uma demanda que a gente tem para deixar a torcida tricolor mais perto do campo, e o setor mais barato não ser um setor que fica tão afastado, tão prejudicado. Dar essa possibilidade para quem só pode pagar um valor menor. A gente vai instalar lá o CAS (Central de Atendimento ao Sócio), a loja, a própria sede do Bahia que vai ser instalada lá. Isso tudo, em conjunto, vai acabar melhorando.

A loja, o CAS e a sede seriam só para o ano que vem?
Olha, essas obras já estão acordadas. Já foi aprovado tudo isso junto ao Governo. A gente já está com arquiteto contratado para a instalação do CAS. Vamos começar as obras em breve. A depender do andamento, é possível que uma dessas três a gente consiga entregar já no final do ano.

Marcelo Santana Presidente do BahiaMarcelo Sant'Ana,presidente do Bahia (Foto: Felipe Oliveira)

O presidente Marcelo Sant’Ana disse uma vez que não se sentia em casa na Fonte Nova. Com essas mudanças, as instalações e a nova setorização, acha que isso pode mudar? O torcedor vai voltar a se sentir em casa na Fonte Nova?
O objetivo é esse. Fazer a torcida lembrar de como era a antiga Fonte Nova. Hoje até a forma de chamar é diferente. Ninguém fala que está indo para a Fonte Nova, fala que está indo para a Arena. É até outro conceito que já fica enraizado na cabeça das pessoas. A gente não vai dizer que o moderno é todo ruim. A Arena tem um conforto muito maior do que a antiga Fonte, mas a gente tem que saber que a cultura daqui é diferenciada, a gente não está na Europa, a gente não está nos Estados Unidos. O torcedor baiano tem a sua forma de ver, a forma como ele gosta de vivenciar a experiência do dia de jogo. A gente tem que tentar trazer isso para dentro e colocar o Bahia cada vez mais lá dentro da Arena Fonte Nova.

Fonte: Globo Esporte