Postado por - Newton Duarte

Por um Conselho Deliberativo reformista

Por um Conselho Deliberativo reformista

Após oito meses da assembleia geral histórica na Fonte Nova – que contou com pouco mais de cinco mil sócios – e legitimou o primeiro Presidente eleito diretamente no clube, já é possível dizer que os ventos que sopraram ares democráticos vieram para ficar e não deixar que as nuvens do patrimonialismo impeçam a construção de um clube moderno e atento ao interesse social e coletivo que representa.

Sempre pensei que a atual gestão teria obrigação de ser progressista e reformadora diante do caos administrativo, financeiro e institucional encontrado. Mudar a cultura organizacional de uma instituição não é tarefa fácil, ainda mais quando, por quinze anos, apenas um grupo político ocupou o poder. Temos um déficit de duas gerações de sócios que nunca tiveram acesso a qualquer informação do clube e isso reflete na eficiência das soluções a serem encontradas.

A forma personalista que os antigos dirigentes tratavam o patrimônio do clube, mediante extra-oficialidade, sem registros, regramentos, normas de condutas, procedimentos e códigos de ética impõe à atual Diretoria e, também, ao atual Conselho Deliberativo uma atuação proativa, constante e efetiva na própria construção institucional do Clube.

Ainda que a composição do atual Conselho não seja o primeiro eleito diretamente, sem dúvida a composição proporcional trazida pelo novo estatuto conduziu à sua formação mais legítima até aqui; isso sem falar, obviamente, no inédito bate-chapa. E, isso, nos traz, mais que tudo, responsabilidades: se antes reunia os “amigos do Rei”, hoje representa o órgão fiscalizador do clube. É quem tem o poder de dosar e equilibrar os poderes e atos da Diretoria Executiva.

Até aqui, o CD realizou doze reuniões, todas com um quórum bem significativo, com cerca de 60% dos integrantes, cujo maior legado, a meu ver, foi a aprovação do Regimento Interno do próprio Conselho. Para quem não sabe, este é o ato que estipula as regras, procedimentos e recursos das decisões do Conselho. É o que garante que cada Conselheiro, individualmente, tenha a garantia e a independência para trabalhar pelo Clube, não estando submisso à qualquer grupo detentor de poder.

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É inquestionável os avanços nos trabalhos e na própria dinâmica do Conselho, mas é necessário, pela disseminação da cultura de respeito institucional entre os diversos órgãos do clube, ir adiante. É preciso reformar. Afastar qualquer tipo de acomodação. Somos atores principais da consolidação da democracia. O paradigma que buscamos talvez sequer exista face a intensidade na vanguarda que almejamos.

A última reunião do CD foi há pouco mais de dois meses, no dia 27/03/2014, ainda que seja notória a existência de pendências na sua pauta, tais como: a) análise do parecer do Conselho Fiscal sobre as contas do ano de 2013; b) aprovação da revisão ortográfica no Regimento Interno aprovado para posterior registro em Cartório; c) viabilidade ou não de uma reforma estatutária; d) abertura de sindicância para avaliar conduta de sócios da ex-gestão; e) situação da negociação com a OAS sobre o CT e contrato de patrocínio da Nike; f) divulgação dos direitos federativos dos atletas da base, etc.

Não tenho dúvida sobre a honestidade e o compromisso ético dos que integram, atualmente, a Diretoria Executiva, mas penso que esse novo Bahêa merece seja acentuada ainda mais a participação do CD como órgão de fiscalização. Não devemos nos pautar por quem está transitoriamente no poder, mas pela cultura de respeito que queremos disseminar para toda e qualquer gestão do clube. A omissão de hoje pode ser o precedente ruim de amanhã.

Já propus um calendário anual de reuniões, até para facilitar o seu planejamento, mas não foi aprovado. O que não entendo é porque não avançamos mais. O que nos impede de conhecer e debater todos os temas de interesse do Clube. Fomos eleitos e representamos os sócios. Estamos ali para isso. Queremos contribuir com a Diretoria na solução dos problemas identificados, além de sugerir práticas de gestão corporativa que entendemos adequada para o nosso Clube. Não queremos escalar jogadores. Essa não é a nossa função.

Eis a reflexão que gostaria de compartilhar. O déficit democrático no Clube é imenso e a cultura institucional pouco ajuda. Muitos torcedores ainda não perceberam a importância da associação e o próprio poder do seu voto. Não foram acostumados a isso. Ou fazemos as reformas que precisamos fazer ou podemos pagar um preço muito alto adiante. O novo Bahêa precisa ser reformista. Não há espaço para conservadorismo.


Fonte: Marcelo de Sá Mendes - Conselheiro do Esporte Clube Bahia

Foto: ECB

(Texto publicado com autorização do autor)