Postado por - Newton Duarte

Procura-se candidato à altura do Bahia

Procura-se candidato à altura do Bahia


Depois de tanta luta para conquistar o direito do voto direto do sócio à presidência do Bahia, o movimento das urnas eletrônicas aponta para a carência de candidatos à altura da nação tricolor. A sensação que fica é um misto de surpresa e desalento. Então, foi pra isso que tanto se lutou para tirar a nobreza e a tirania que se encastelou no poder tricolor de Osório a “Marcelinho”?

Falta a ousadia de permitir que jovens e anônimas lideranças se habilitem a liderar o clube, na lógica do intelectual orgânico de Antonio Gramsci. Assim como revelamos craques nas categorias de base, por que não fazer um esforço também para qualificar novíssimos candidatos a tirar o clube da Idade Média e conduzi-lo à era da revolução informacional? Com certeza, encontraremos tricolores honestos e capacitados entre o público universitário, ou mesmo nas feiras livres da cidade.

E por que não confiar o clube a um tricolor com este perfil em vez de repetir ladainhas antigas representadas pelos atuais postulantes? Seria bom ver um destes abnegados que só querem o bem do tricolor podendo governar o clube. De preferência, um desconhecido, fora deste ambiente de falsas celebridades da crônica esportiva e da política de palácio que podem vir a se locupletar com o capital simbólico e financeiro do clube. Não se pode levianamente suspeitar da boa intenção dos candidatos, mas não se pode também negar que todos trazem vestígios e rastros de bastidores e ambientes que apontam para a permanência do Velho Aeon, em vez da tão sonhada Revolução Tricolor.

Antes da eleição, amigos tricolores, não teria sido oportuno abrir um processo maior de discussão que pudesse revelar estes novos craques dirigentes livres dos vícios que vão manter a situação que se quer superar? Um concurso de projetos, que tal? Um super-seminário Bahia Gigante com a discussão de temas em mesas redondas? A web, cadê a utilização das redes sociais que tanto sucesso fazem na organização das comunidades no mundo contemporâneo?

Este artigo, portanto, é o lamento de um jornalista habituado a conviver com os tipos consagrados no ambiente esportivo e que conhece suas tristes limitações e qualidades. E também de um pesquisador de futebol pessimista em relação a este quadro sucessório sem qualquer novidade que mereça a grandeza do Bahia.

Parem este processo eleitoral e voltem duas casas, como naquele antigo joguinho de dado. Reorganizem esta história para conduzir a um final feliz. Repetir, pela via direta, antigos padrões de administração, apenas com o cosmético de serem de “oposição” é muito pouco, pouco mesmo, diria Geraldo José de Almeida. Para identificar a liderança que vai tirar o Bahia do antigo Testamento, é preciso coragem, ousadia, talento e certeza na mudança também de paradigma de gestão.

De positivo, no entanto, entre outros avanços no querido clube baiano, está a determinação da turma tricolor para acabar com o vazamento da riqueza gerada pelo clube para terceiros, o que, segundo os críticos, dilapida o patrimônio tricolor. Façam uma devassa para dar nome a estes bois sanguessugas do futebol. E, na sequência, a torcida poderia exigir a devolução de parte deste patrimônio subtraído dos cofres do clube. Eis aí uma boa medida para o novo presidente, mas com este horizonte eleitoral, o habitual conchavo vai dar o tom: a carência do novo Bahia seguirá gerando a necessidade de mobilização dos tricolores rumo a um futuro digno da altura do clube.


*Paulo Roberto Leandro é doutor em Cultura e Sociedade, jornalista esportivo há 30 anos e professor da Unijorge


Fonte: Colunistas – Correio*

Foto: Internet