Postado por - Newton Duarte

'Quem quer muito, trás de casa': A hora e a vez da Divisão de Base

Do discurso à prática: Bahia investe na base e sonha com time "feito em casa"

GE.com inicia série especial de análise do trabalho feito nas categorias de base de Bahia e Vitória. Confira aqui a primeira matéria feita no Esquadrão de Aço

Pense na seguinte formação: Jean; Railan, Robson, Everson e Vitor; Yuri, Gustavo Blanco e Rômulo; Mário, Zé Roberto e Jacó. Quem imaginaria ser possível, há dois, três anos, escalar a equipe principal do Bahia apenas com jogadores formados nas divisões de base? Hoje, sim, é possível. Exceção feita a Everson, zagueiro de 18 anos tratado como joia dentro do clube, todos os outros dez atletas tiveram oportunidade de atuar pelo time profissional. Todos os dez sentiram o peso e saborearam o gosto de começar uma partida vestindo o manto azul, vermelho e branco. Quatro deles, Robson, Yuri, Vitor e Gustavo Blanco, ganharam sequência entre os titulares com o técnico Sérgio Soares. A base tricolor colhe bons frutos.

Façamos algumas ponderações. Railan e Rômulo foram promovidos à equipe principal em 2014, o último deles na reta final do Campeonato Brasileiro, sob a batuta do então técnico e  hoje auxiliar Charles Fabian. A lista até poderia ser maior. O lateral-esquerdo Pará foi vendido ao Cruzeiro no início do ano em transação que rendeu R$ 3 milhões aos cofres tricolores, além do empréstimo do volante Souza pela equipe celeste. No início de agosto, o promissor Bruno Paulista foi negociado pela cifra de 3,5 milhões de euros, o equivalente a cerca de R$ 13 milhões – o Tricolor ficou com pouco mais de R$ 11 milhões, maior valor arrecadado pelo clube em uma transação. A base tricolor rende boas cifras.

Os outros jovens citados foram todos lançados em 2015 por Sérgio Soares. Uns com sucesso imediato: os atacantes Zé Roberto e Jacó entraram no time, fizeram gols e ganharam a confiança do treinador tricolor; Vitor desbancou Marlon e Ávine e tomou conta da lateral esquerda antes da contratação de João Paulo; Jean acumula passagens pela Seleção olímpica. Outros são encarados como aposta para o futuro próximo: Mário mostrou serviço quando requisitado e segue em observação. Fora os atletas que transitam entre o sub-20 e o profissional, entre eles Éder e Sávio. A base tricolor é feita de boas esperanças. 

Hayner, Blanco, Rômulo e Vitor: todos frutos da base do Bahia (Foto: Divulgação/E.C. Bahia)

A guinada nas divisões de base do Bahia salta aos olhos. Mas quais as razões para o sucesso do trabalho realizado este ano, que reflete no aproveitamento de jovens jogadores no time de cima e com a venda de talentos promissores por valores antes inimagináveis? Foi justamente essa a pergunta que norteou todo o trabalho do GloboEsporte.com. Como resultado, uma série de três matérias. A primeira, um panorama geral sobre o trabalho desenvolvido pela gestão do presidente Marcelo Sant’Ana, você confere agora.

BAHIA RESPIRA BASE

“O Bahia hoje respira base”. A frase foi cravada por Aldo França, coordenador de captação, principal responsável por garimpar novos talentos para o Tricolor. Não é falácia. A política de valorização e aproveitamento das divisões de base dão o tom no Fazendão, como os números comprovam: 17 dos 36 jogadores do atual elenco foram formados dentro de casa. Quatorze destes jovens foram lançados este ano, incluindo nessa lista o lateral Hayner, de 19 anos, que chegou ao clube depois do Campeonato Baiano e foi integrado ao time sub-20 – o jogador, que veio do Rio Branco-ES, estreou pelo time profissional contra o Sport, na Copa Sul-Americana.

Para fazer uma análise sobre o presente, é preciso voltar ao passado. Entre o final de dezembro e o início de janeiro, para ser mais exato. Primeiro, a escolha de um treinador que não tem qualquer resistência em lançar jogadores jovens. Depois, a própria montagem do elenco, pensada de modo que pudesse acolher atletas que mostravam potencial na equipe sub-20. Daí em diante, foi alinhar o discurso da valorização à prática de colocar os meninos para jogar. Aqueles que mostraram maior potencial, cavaram espaço. Aí entra o critério da meritocracia, defendido por Charles Fabian, campeão brasileiro pelo Bahia como jogador em 1988.

Os garotos se sentindo valorizados, sabendo que se produzirem, se trabalharem, se mostrarem dentro de campo – e o extra, que é importante – que têm potencial, têm condições e querem jogar no Bahia, com certeza o jogador terá uma grande possibilidade de ter sua oportunidade.

Charles Fabian,

auxiliar técnico do Bahia

- O presidente [Marcelo Sant’Ana], Éder [Ferrari, gerente de futebol], Alexandre [Faria, diretor de futebol], eles têm como meta e planejamento valorizar a base. Passa muito por isso. Então, os garotos se sentindo valorizados, sabendo que se produzirem, se trabalharem, se mostrarem dentro de campo – e o extra, que é importante – que têm potencial, têm condições e querem jogar no Bahia, com certeza o jogador terá uma grande possibilidade de ter sua oportunidade – afirma Charles, que treinou a equipe sub-20 entre 2013 e 2014, e tem forte relação com as divisões de base do Bahia.

No organograma do futebol tricolor, não existe uma linha que divida profissional e divisões de base: Alexandre Faria, diretor de futebol, é responsável por gerir as duas áreas. Abaixo dele está o gerente de futebol, Éder Ferrari, que é quem de fato conduz o trabalho realizado nas categorias inferiores do Bahia, com os conceitos que defendia na época em que atuava no jornalismo. Ele é um dos principais responsáveis pelo processo de mudança no modo como se enxerga a base no Fazendão.

- É um pensamento que eu sempre tive, de que o Bahia, para poder ter sucesso, para poder se igualar aos clubes do sul do país, que têm uma receita muito maior, e também a questão da mídia, que eles também têm mais do que a gente, é a divisão de base. Porque aqui a gente consegue formar o jogador que, no mercado, a gente não consegue contratar – explica o gerente de futebol.

A primeira medida tomada pelo clube para tentar encurtar o caminho percorrido pelos garotos até o time profissional foi alinhar a programação do sub-20 à do time principal. Assim como os profissionais, os jovens passaram a trabalhar em dois turnos. Os horários, sempre que possível, são os mesmos das atividades comandadas por Sérgio Soares no campo principal do Fazendão. Essa é uma filosofia de trabalho adotada por alguns clubes do Brasil que são referência no assunto, entre eles Santos e Internacional.

Horário de treinamento alinhado ao profissional foi uma das medidas adotadas (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

A convergência não para por aí. Encarados como "pré-profissionais", definição dada por Sérgio Soares, os atletas do sub-20 recebem uma carga de trabalho intensa, com volume alto, próximo do que se vê nos jogos, para que o processo de condicionamento físico dê resultado. Um exemplo para mensurar a eficiência dessa metodologia atende pelo nome de Jacó. Uma semana antes de estrear na equipe principal contra o Paysandu, pela Série B, ele brilhava no Campeonato Brasileiro sub-20. Requisitado por Soares, foi a campo e marcou os dois gols do triunfo tricolor na Arena Fonte Nova.

Outro ponto em que os vértices se encontram diz respeito à filosofia de jogo. Embora Aroldo Moreira, treinador da categoria, tenha liberdade para trabalhar à sua maneira, ele precisa passar para os garotos conceitos de um time ofensivo: marcação alta, sob pressão, transição em velocidade... Reconhece tais elementos? Acertou quem os associou à equipe de Sérgio Soares, que fala sobre a importância de transmitir esses valores ainda na base.

- É importante para o menino, quando chegar no profissional, saber que aqui não dá para trabalhar atrás, tem que trabalhar na frente, tem que ser ofensivo, tem que ter ações verticais. A gente passou essa ideia, sempre deixando ele [Aroldo Moreira] à vontade - explica Soares.

A liberdade de Aroldo Moreira termina justamente onde começa o esquema com três zagueiros ou três volantes. O treinador do time sub-20 explica.

- O presidente, a diretoria me proíbem de usar três volantes. A filosofia aqui é de um time ofensivo desde a base - revela Moreira.

CONCEITOS POR CATEGORIA

A ideia vigente hoje é de que o garoto que ingresse na base do Bahia passe por diversos estágios ao longo da formação como atleta. Para cada categoria, conceitos diferentes sobre o futebol, que vão evoluindo de maneira gradativa. Dos 13 aos 15 anos, o clube trabalha em cima da educação dos jovens, que são tratados como crianças. A intenção é de que eles não atropelem o lado lúdico, a propagada “ousadia e alegria” brasileira, nas palavras de Éder Ferrari. 

A partir do sub-17, o tratamento dispensado ao jovem atleta é completamente diferente. De criança, ele passa a ser encarado como adulto. Nessa fase, o trabalho físico é intensificado, com atividades mais puxadas na academia do clube, além das noções táticas que são incutidas para que eles possam compreender o jogo de maneira ampla.

Hoje, a gente tem atletas do sub-17 que tranquilamente podem jogar no profissional, pela qualidade que têm, pela força que têm, pelo psicológico que têm, sem que fosse pular etapas de maneira tão forte.

Éder Ferrari,

gerente de futebol do Bahia

- Hoje, a gente tem atletas do sub-17 que tranquilamente podem jogar no profissional, pela qualidade que têm, pela força que têm, pelo psicológico que têm, sem que fosse pular etapas de maneira tão forte. São jogadores que, se hoje precisar jogar pelo profissional, esses caras vão jogar. Então, esses caras precisam ter um entendimento tático maior, precisam ter uma responsabilidade maior. Esses, sim, a gente já tem que tratar como profissional – analisa o gerente Éder Ferrari.

Se os jogadores que integram o sub-17 são tratados como profissionais, imagina os do sub-20?! A um passo da profissionalização, eles são submetidos aos mesmos trabalhos físicos, táticos e técnicos pelos quais passam os jogadores de Sérgio Soares. Nessa etapa, a ideia é realizar o mínimo de trabalhos de fundamentos, coisa que deve ser feita nas categorias inferiores.

- O atleta jovem, hoje, ele nunca chega pronto no profissional. Por várias razões. O trabalho de base, ele é muito aquém em termos de fundamentos. Isso precisa ser melhorado, para que o atleta, quando chegue no profissional, não tenha que trabalhar fundamento. Isso não deixa o atleta pronto, quando chega com 19, 20 anos. Então, a gente tem que continuar trabalhando, lapidando – opinou o técnico Sérgio Soares.

"O atleta jovem nunca chega pronto no profissional", avalia Sérgio Soares (Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia)

Chama certa atenção em alguns jogadores do Bahia a constituição física privilegiada. É o caso de Yuri, jovem que se adaptou ao futebol profissional com muita tranquilidade. Corre o campo todo, marca, tromba e desmonta defesas adversárias com uma intensidade de jogo que impressiona. Tem também Jeam. Além de ser geneticamente favorecido, o atacante trabalha a parte física com muito afinco. De volta à equipe sub-20 para disputar o Campeonato Brasileiro da categoria (O Fluminense foi campeão ao bater o Vitória), parecia desfilar entre adolescentes mirrados tamanha era a vantagem que levava no corpo a corpo.

Além de Yuri e Jeam, é possível citar o exemplo de Jacó, que mostrou ter corpo para aguentar o tranco no embate contra zagueiros adversários. A força física é, sem dúvida, elemento que favorece os atletas que a utilizam com inteligência, aliando-a a velocidade, por exemplo. Por isso o departamento de fisiologia tricolor trabalha para fazer avaliações de cada jogador de forma individual, identificando as necessidades de cada um.

Jacó é exemplo de constituição física oriunda da base (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

Embora seja elemento importante, a constituição física não é critério primordial na busca por novos talentos. O que mais importa ainda é o talento, como explica Paulo Ricardo, gerente das divisões de base do Bahia. 

- A capacidade física vem sendo trabalhada desde que os meninos chegam no sub-14. Uma coisa construída a longo prazo, nada muito rápido. Tem meninos que, de vez em quando, sobem mais cedo, eles têm essa facilidade genética. Já têm esse potencial. A gente apenas explora um pouco mais isso. Não é o perfil. Não está dentro do perfil que nós queremos. Agora, se tiver atletas com bom potencial técnico e tático, com bom conhecimento de jogo e fortes, isso é praticamente o ápice de qualquer atleta – afirma.

Na contramão do físico privilegiado de Yuri e Jeam, estão jogadores de corpo franzino que precisam ganhar força física e massa muscular. Identificados pelo fisiologista Maurício Maltez e pelo preparador Reverson Pimentel, esses jovens foram inseridos em um grupo especial, criado no início do ano em conjunto com as comissões técnicas de todas as categorias das divisões de base.

Os resultados apareceram. Rodrigo, um zagueiro magro do sub-20, ganhou seis quilos de massa magra em um mês, com o clube controlando alimentação e suplementação do atleta. Outro que ganhou massa magra com o trabalho feito no grupo especial foi Wesley Castro, volante de 18 anos que também atua pelo sub-20 e treina com a equipe profissional.

E como não citar o caso de Gustavo Blanco? Com idade estourada para atuar pelo sub-20, foi integrado ao time de Sérgio Soares. A ideia inicial era emprestá-lo para que ganhasse rodagem, mas, pouco a pouco, foi conquistando espaço no elenco, até que teve a chance de estrear contra o Nacional, pela Copa do Brasil. Foi bem. Duas, três vezes. Agradou. Mas aí veio o problema: a capacidade física de Gustavo deixava a desejar. Seus exames eram dos piores do elenco profissional. Fez quatro jogos e foi substituído em todos.

Gustavo Blanco fez trabalho diferenciado para melhorar rendimento físico (Foto: Divulgação/Bahia)

O jovem foi submetido, então, a um trabalho diferenciado para melhorar seu rendimento físico. Alimentação, academia, suplementação. Em oito meses, ganhou cinco quilos. O resultado prático veio na partida contra o Sport, pela Copa Sul-Americana: Gustavo Blanco resistiu a um jogo inteiro pela primeira vez desde que tinha 16 anos. Contra o CRB, marcou seu primeiro gol com a camisa tricolor já no apagar das luzes de um jogo dramático.

TALENTO NÃO RENDE TÍTULOS

A geração que enche os olhos nas divisões de base tricolor só não consegue transformar o talento em títulos. Das principais competições que disputou em 2015, os garotos do Esquadrãozinho só soltaram o grito de campeão na Copa Dois de Julho de Futebol sub-15, disputada no mês de julho, quando bateu o Atlético-MG na decisão por pênaltis. Fazendo uma rápida comparação com o rival Vitória, atual campeão da Copa do Brasil sub-17 e vice-campeão do Campeonato Brasileiro sub-20, os resultados ficam aquém do esperado.

A temporada começou com a tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal vitrine de novos talentos do futebol nacional. Após uma boa campanha na primeira fase, o time sub-20 do Bahia caiu para o Fluminense na primeira rodada de mata-mata. No Campeonato Baiano da mesma categoria, derrota para o Vitória e vice-campeonato. No Campeonato Brasileiro sub-20, disputado no mês de agosto, a eliminação veio na segunda fase, após um início de competição arrasador.

Na filosofia do Bahia hoje, o título é importante. Claro que o título é importante. Você forma jogadores acostumados a serem campeões. Mas o mais importante é você não perder o foco do trabalho. O Bahia passou três anos sem ganhar título na base, no sub-20. Nem por isso se deixou de trabalhar.

Charles Fabian,

auxiliar técnico do Bahia

Apontada por muitos dentro do clube como a “menina dos olhos” da base do Bahia, a categoria sub-17 abriga muitos dos talentos em potencial. Em campo, porém, o resultado também não foi dos melhores: o Esquadrãozinho foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil e da Taça BH, por Corinthians e Atlético-MG, respectivamente.   

Só que ganhar títulos com as categorias inferiores é tratado de forma secundária no Bahia. Ser campeão, claro, é importante. Mas a prioridade do clube é formar jogadores, como destaca Charles Fabian.

- Na filosofia do Bahia hoje, o título é importante. Claro que o título é importante. Você forma jogadores acostumados a serem campeões. Mas o mais importante é você não perder o foco do trabalho. O Bahia passou três anos sem ganhar título na base, no sub-20. Nem por isso se deixou de trabalhar. Acho que dessa forma que tem que se pensar. Você tem que ganhar título no profissional. Na base, você tem que formar. Fico muito feliz de trabalhar no Bahia hoje com esse pensamento – pondera o auxiliar técnico tricolor.

É o pensamento corroborado por Éder Ferrari ao se referir aos resultados abaixo do esperado dos garotos do time sub-17.

- Até os resultados esse ano não condizem com a qualidade que eles [sub-17] têm. Mas isso faz parte do processo de formação. A gente não está muito preocupado em ganhar títulos, a gente está preocupado em formar jogadores. Esse tipo de resultado está nos ajudando a criar nesses jogadores o conceito de que, se você não se doar mais, você não vai conquistar, mesmo sendo superior ao seu adversário. Isso tem ajudado para eles entenderem que tem que dar sempre 100% nos treinos, nos jogos, para poder evoluir como atleta – diz.

PEDRAS NO CAMINHO

Não é tarefa fácil gerir a divisão de base com uma dívida de aproximadamente R$ 180 milhões e um orçamento que não faz nem sombra aos ganhos dos grandes clubes do Sul e Sudeste do país. Falta um aparelho aqui, um profissional ali, e o jeito é arranjar soluções eficientes para superar as deficiências. É desejo do departamento de futebol tricolor contar com mais um auxiliar para o time sub-20, dispor de recursos para melhorar alimentação e suplementação dos atletas e também investir no alojamento para a base.

Cidade Tricolor tem oito campos em boas condições para treinamentos (Foto: Thiago Pereira)

O grande vilão, no momento, é a falta de campos de qualidade para que os garotos possam trabalhar no Fazendão. Fora o campo principal do centro de treinamento do Bahia, que é utilizado pelos jogadores profissionais, todos os outros se apresentam em condições precárias, dificultando a vida de treinadores e jovens atletas, que ainda convivem com o risco de lesões.

Estes problemas podem começar a ser resolvidos em breve. A solução mais viável passa pela troca do Fazendão pela Cidade Tricolor, desejo este que já foi sinalizado pelo presidente Marcelo Sant’Ana. O novo centro de treinamento, erguido à época de Marcelo Guimarães Filho, presidente deposto em 2013, conta com oito campos de qualidade bem superior aos do Fazendão.

- A gente está dependendo de uma questão que vai ser resolvida pela diretoria executiva, que é a questão dos CT’s. A partir do momento em que isso estiver resolvido, a gente tem como atacar de maneira mais forte a questão do nosso material de trabalho, principalmente do equipamento que é o campo. Quando isso for resolvido, e aí é uma coisa que não passa por mim, aí vai facilitar o meu trabalho para a gente poder qualificar o nosso dia a dia e a nossa formação – garante o gerente de futebol, Éder Ferrari.

ALÉM DO DISCURSO

Quantas vezes nos últimos anos você ouviu de dirigentes tricolores promessas do tipo “vamos valorizar a base” ou “o objetivo é aproveitar os jogadores formados em casa”? A cada início de temporada elas se repetiam. Agora quantas vezes, de fato, isso aconteceu? Quantos meninos apontados como futuros talentos se perderam sem ter sido minimamente aproveitados na equipe principal? Fábio Gama, Anderson Melo, Paulinho, Ítalo Melo, Brendon... A lista é extensa.

Relembremos o time vice-campeão da Copa SP de Futebol Júnior em 2011, derrotado naquele ano para o Flamengo: Renan; João Marcos (Valson), Dudu, Everton e Laércio; Anderson, Fernando (Rodrigo), Brendon (Mansur) e Filipe; Fábio e Rafael. Além de Rafael Gladiador, quantos tiveram sequência entre os profissionais?

Presidente Marcelo Sant'Ana conversa com jogadores do Sub-20 do Tricolor (Foto: Divulgação/EC Bahia)

Este ano, o roteiro do filme tem sido diferente. A teoria foi aliada à prática, reflexão feita pelo zagueiro Robson, hoje dono da camisa número 3 do Bahia. Ninguém melhor do que ele, que há seis anos chegou no Fazendão, para falar sobre o atual momento do Tricolor.

- É só olhar para a quantidade de jogador [da base] que tem jogando no elenco. A diretoria tem essa ideia de valorizar, de botar para jogar mesmo. Não fica só na conversa. Então, realmente, a base do Bahia é valorizada. São seis anos no clube. Esse ano, desses seis que estou aqui, é o ano que mais tem jogadores jogando no profissional. Em relação a isso, o Bahia está fazendo um bom trabalho. Em geral, o Bahia esse ano está bem. Espero que possa melhorar no final do ano – diz o jogador.

Pensamento esse que é compartilhado pelo coordenador de captação do Bahia, Aldo França.

O meu planejamento é que em 2017 a gente comece, pelo menos, de um elenco de 30 jogadores, com pelo menos 20 formados nas divisões de base. (...) Quanto menos você for ao mercado, mais você tem a possibilidade de ir acabando com a dívida que o Bahia tem.

Éder Ferrari,

gerente de futebol do Bahia

- Diferença enorme. Diferença absurda. Eu estou me sentindo muito feliz. Não é a primeira vez que trabalho no Bahia. E hoje eu me sinto muito feliz, prazer muito grande em ir para o Fazendão trabalhar, porque eu vejo que a diretoria, o presidente, toda a direção tem um comprometimento muito grande com o nosso trabalho. Presidente Marcelo Sant’Ana, Éder Ferrari, Alexandre Faria, quando querem conversar conosco, vão na base, vão almoçar lá com a categoria, vão na beira do campo ver o infantil treinar. É uma diferença muito grande, absurda, e não é à toa, não é por acaso que está se colhendo os frutos – diz.

E a meta para o futuro próximo é aproveitar a base cada vez mais. Em um prazo de dois anos, ter o elenco principal formado por aproximadamente 70% de atletas formados em casa.

- O meu planejamento é que em 2017 a gente comece, pelo menos, de um elenco de 30 jogadores, com pelo menos 20 formados nas divisões de base. Formados assim, que forem lançados em 2016. Não que em 2016 eu chegue e diga “Ah, o Rômulo está aqui, Yuri está aqui, Bruno Paulista está aqui”. Esses jogadores, eu não quero que estejam inseridos nesses 20. É para estar inseridos nos cinco, sete ou oito que a gente imagina ter, e contratar cada vez menos. A gente vai ter custo menor de salários e ir aos poucos pagando as dívidas que o Bahia tem, e investindo aos poucos na formação. Quanto menos você for ao mercado, mais você tem a possibilidade de ir acabando com a dívida que o Bahia tem para que, quem sabe em 2020, 2022, seja a gestão que for, possa utilizar esse nível de excelência que a gente quer implantar nas divisões de base para contratar cada vez menos jogadores. E estar cada vez mais inserido no mercado, fazer vendas grandes, e ter o retorno de títulos com jogadores que a gente forma. Parece até utopia o que eu estou falando, mas eu acredito que com o tempo, a gente consiga atingir isso – finaliza o gerente de futebol, Éder Ferrari.