Postado por - Newton Duarte

Raio-X do Nacional e da Sul-Americana

Raio-X do Nacional e da Sul-Americana

A alegria da torcida do Bahia por enfrentar um time do exterior em jogo oficial já mostra o acerto em valorizar a Sul-Americana. Contra o Nacional, em Medellín, o jejum de 24 anos chega ao fim.  É chance de mostrar aos países vizinhos que existe além do videogame. Vai ser duro: o líder do Colombiano é favorito.

O lateral/zagueiro Medina, 21 anos, e o volante Mejía, 24, fazem parte do grupo da Colômbia, vice-líder das eliminatórias e já classificada à Copa de 2014. O lateral-esquerdo Valencia, 28, também já foi convocado pelo argentino José Pekerman.

O técnico do Nacional, Juan Carlos Osório, é estudioso. Ficou cinco anos como auxiliar-técnico no Manchester City, antes dos petrodólares chegarem ao time londrino, e estudou na Holanda e na Inglaterra. Nas férias de 2009, foi ver o trabalho de Guardiola, no Barcelona; e de Van Gaal, no Bayern de Munique.

Na volta pra casa, conquistou a Liga Postobon pelo Once Caldas.  No ano seguinte, na Libertadores 2011, bateu no mata-mata o Cruzeiro, dono da melhor campanha na fase de grupos, e caiu nas quartas para o Santos de Neymar, que seria campeão.

A fama do futebol colombiano é de alegria e jogo de toques rápidos, em boa parte fruto da geração de Higuita - ídolo do próprio Nacional -, Rincón, Valderrama e Asprilla. Mas o estilo do rival que o Bahia enfrenta fora de casa foge à tradição local. Aposta mais na organização que no improviso. É outra escola.

Defensivamente, são três zagueiros e dois volantes. O desafogo é pelas laterais, especialmente a esquerda, com jogadas entre Valencia e Sherman Cárdenas. Este último é um meia rápido e canhoto, com liberdade para circular pelo campo. Curiosamente,  o Bahia, embora tenha Madson, Angulo e Neto, tem chance de improvisar Fabrício Lusa como lateral-direito.

Sherman é a velocidade; Mejía é equilíbrio, é quem controla o ritmo de uma intermediária a outra. O volante tem a confiança do técnico Osório, de quem foi cria no Once Caldas.

Na história brasileira na Sul-Americana, o Goiás é o único entre 10 clubes a ter chegado ao menos à semifinal e ser rebaixado na Série A. O Goiás, vice-campeão em 2010, perdendo a final para o argentino Independiente, passou 32 das 38 rodadas na zona de rebaixamento. E era o lanterna ao começar a Sul-Americana. A regra é clara: time forte na Sul-Americana caminha junto com boa campanha no Brasileirão.

O desgaste físico atrapalha sim. Mas há coisas que prejudicam mais. É muito pior, por exemplo, receber salário atrasado, ficar desmotivado por não disputar bons jogos e títulos, cair na fase de grupos da Copa do Nordeste ou perder da Luverdense na Copa do Brasil. Jogador bom é jogador com fome. De títulos.

Espelho  A Taça Sul-Americana é disputada desde 2002, mas só ganhou destaque no Brasil a partir de 2008. O Inter, campeão da Libertadores dois anos antes, a valorizou jogo a jogo na campanha que o levaria ao inédito título.

A estratégia tinha duas frentes: manter a marca em evidência no exterior e abafar a irregular campanha no Brasileirão. O Inter era 11º lugar ao final da 23ª rodada. A tabela mostrava 30 pontos: nove pontos atrás do G-4 e sete na frente do Z-4.

Disputar títulos dá apetite aos jogadores, motiva elenco, facilita contratações futuras e ainda suaviza às cobranças pelos erros administrativos. O Inter tinha em quem se espelhar: o São Paulo de Telê Santana foi um case de sucesso.

Antes da geração de Raí, nosso futebol somava cinco títulos em 32 edições de Libertadores. O bicampeonato em 1992/93 nos abriu o apetite. De 1994 para cá, foram 10 taças em 20 edições. Na Sul-Americana, o impacto é semelhante. Antes do Inter, em seis edições, nunca um clube do Brasil havia sido finalista. Após o título colorado, são três finais em quatro anos.


Fonte: Marcelo Sant'Ana - Correio