Postado por - Newton Duarte

Resenha, insônia e badalação

Resenha, insônia e badalação: o dia seguinte ao gol histórico de Feijão

Volante foi o autor do milésimo gol do Bahia em Campeonatos Brasileiros e só conseguiu dormir depois das 3 horas da manhã desta sexta-feira

Treino de quarta-feira no Fazendão. Véspera do jogo contra o Internacional na Arena Fonte Nova. Véspera da partida em que o Bahia poderia fazer o milésimo gol no Campeonato Brasileiro. A maioria das fichas eram depositadas nos homens de frente do time. Fernandão, Wallyson, William Barbio. Mas uma senhora, de cabelo curto e jeito simples tinha outra aposta:

- Você vai fazer o gol mil. Do jeito que a bola vier, é para chutar que ela vai morrer dentro do gol – predestinou.

Foi assim que dona Altamira conversou com Feijão. A mãe do volante do Bahia acompanhou todo o treino e viu que o filho fez um dos gols da atividade. Para ela, aquele era um recado de que o primeiro gol do filho pelo Tricolor sairia no dia seguinte. E seria histórico.

- Mas logo eu, mãe? Tem tanta gente mais fácil para fazer. Não serei eu, não – rebateu Feijão, sem acreditar tanto nas famosas pragas de mãe.

Foi dito e feito. Aos cinco minutos do segundo tempo, Feijão aproveitou rebote e bateu como a bola veio. O conselho da mãe foi seguido à risca e colocou o garoto na história do Bahia. Há quem diga que não poderia ser diferente. Menino pobre, que rejeitou jogar no Vitória aos 5 anos, nascido e criado na periferia de Salvador, a cara do Bahia. A encarnação da paixão em azul, vermelho e branco.

Quando viu a bola dentro do gol, Feijão parecia não acreditar. Comemorou como louco e não parou por aí. O esforço do garoto foi reconhecido rapidamente entre os companheiros. No vestiário, foi motivo de comemoração e brincadeiras.

- Já passou o Túlio, hein?! - disse um companheiro.

- Feijão, você já se igualou a Pelé com o gol mil – rebateu um outro.

Com o sorriso tímido e zombeteiro, Feijão se divertia com tudo isso. E ficou assim por horas. Ao chegar no condomínio em que mora, foi "resenhar" com Hélder, Talisca e Freddy Adu. Só voltou para casa uma hora da manhã. Qualquer um, cansado de um jogo, pensaria em dormir. Mas não. Dona Altamira aguardava o filho acordada e se assustou quando ele ligou a televisão para rever o jogo contra o Internacional.

- Precisava ver para acreditar que fiz aquele gol – explicou o jogador.

Com a emoção à flor da pele, Feijão só deitou para dormir às 3 horas da madrugada. Pelo horário que o filho deitou, dona Altamira ficou tranquila pelo costume de saber que ele só acordaria já tarde. Ledo engano. Sem deixar o lance do gol sair da cabeça, o volante já estava de pé três horas depois. O motivo? Ver a reportagem do jogo do dia anterior.

Levantou cedo e seguiu para uma maratona. Pela manhã, foi procurado por um jornal e, em seguida, participou ao vivo de um programa de televisão. De lá, seguiu para o Fazendão. Fez a atividade regenerativa e, enquanto aguardava um funcionário do clube para uma sessão de fotos especiais para o Bahia, desceu para o campo para ver de perto o treinamento dos outros companheiros.

Sempre risonho e com um jeito tímido de ser, Feijão ainda não tem a verdadeira noção do feito. No dia seguinte ao ter entrado para a história do clube, ainda com a vigilância de perto da mãe, o jovem de 19 anos seguia com sua maneira simples de ser. Simples como um verdadeiro tricolor. Só que, neste caso, com mil motivos para sorrir.


Fonte: Raphael Carneiro – GE.COM