Postado por - Newton Duarte

Reub: Do vermelho para o azul

Diretor prevê saldo positivo em 2014 e prega fair play financeiro no Bahia


Reub Celestino diz que Bahia vai antecipar valor de acordo com a Arena Fonte Nova para quitar dívidas e detalha planejamento orçamentário do Tricolor para próximo ano


Receita milionária subtraída por dívidas exorbitantes elevadas potencialmente pelo caos financeiro. Durante muito tempo, essa foi a equação matemática mais utilizada no Bahia. Apesar dos recursos numerosos que ingressavam nos cofres do clube, o Tricolor acumulou casos de atrasos salariais, penhora de valores nas contas bancárias, débitos com empresas prestadoras de serviços, problemas trabalhistas e finanças sempre no vermelho. A fama de mau pagador se enraizou no time baiano, que mesmo com um nebuloso quadro econômico à frente, insistia em repetir a mesma fórmula equivocada a cada ano.

Para 2014, no entanto, a promessa é de uma mudança na planilha. Diretor financeiro do Tricolor, Reub Celestino apresentou na última semana, durante reunião com os conselheiros, o orçamento do clube para a temporada 2014. O plano de ação é dividido em duas partes, mas tem apenas um objetivo: mudar a equação usada anos a fio para salvar as finanças do Bahia e dar ao clube um horizonte mais promissor, com saúde econômica e potencial para investir no mercado.

Reub tem visão otimista para as contas do Bahia a partir de 2014

A primeira parte do planejamento elaborado pelo diretor financeiro isola 2014 em uma espécie de bolha. O projeto engloba apenas as receitas e despesas previstas para a próxima temporada, e antevê um final de ano com saldo positivo após anos de déficit nas finanças do clube.

- A ótica é a seguinte: existe um estoque grande de dívidas no Bahia, um passível grande. Isso pressiona bastante toda a administração. O orçamento que fiz tem que ser considerado em um universo isolado para entender que a gestão 2014 será positiva. A apresentação que fiz ao conselho é de um orçamento rigoroso, austero, que exige respeito e atenção da diretoria. Caso os princípios, os objetivos estratégicos e operacionais, valores expostos, intenções e a concepção forem respeitados, teremos um resultado orçamentário de R$ 3 milhões em 2014. As receitas estão estimadas em termos líquidos em R$ 74 milhões, mas tiramos quatro milhões em deduções nove em adiantamentos. São, portanto, R$  61 milhões de receitas e R$ 58 de despesas – afirmou Reub Celestino em conversa com o GE.

- Fizemos um planejamento começando do zero e terminando no final. Atrás de 2014 nós ficamos com os estoques de dívidas. Depois teremos outra gestão. Quero dizer às pessoas que o Bahia tem jeito. Se consigo fazer um orçamento do zero e terminar positivo, o Bahia tem jeito operacional. Isso é uma grande lição – complementou o dirigente.

Apesar de isolar 2014 no planejamento, Reub afirma que o Bahia não deixará de cumprir os compromissos assumidos com os credores. A segunda parte do plano de ação elaborado pelo diretor financeiro prevê uma negociação para o pagamento das dívidas assumidas pelo clube. O objetivo é diluir os valores em parcelas para que o Tricolor consiga honrar com os pagamentos em dia.

- Montei a casa, mas as pessoas entram e precisamos arrumá-la. Temos um estoque de dívidas que arrebenta tudo. Tenho que organizar o pagamento das dívidas, definir quais são as prioridades. Claro que definir o que é mais importante na visão do gestor, já que para o credor a dívida dele é sempre mais importante. Tenho que diluir as dívidas no tempo através de mecanismos. A gente pode ainda ter melhorias da receita programada no próprio orçamento e redução de gastos. Com isso, terei dois financiamentos dentro da própria estrutura do orçamento. Tudo isso para pagar o estoque de dívida. A gente pode fazer parcelamento de tributo. Posso parcelar com os próprios credores. Com a vontade deles ou não. Pedir um abatimento e pagar em um ano ou dois, alongando o período de pagamento da dívida. Viabilizando em tempo maior a vida do Bahia. Em resumo, a primeira parte do orçamento resolve a vida do Bahia em 2014 contido nele próprio. A segunda parte resolve a estrutura de dívida e tenta livrar o clube da má fama no tempo futuro – explicou.

FAIR PLAY FINANCEIRO

Atraso nos salários é preocupação de Diretor

Uma das preocupações de Reub Celestino para a próxima temporada é com o cumprimento dos prazos para o pagamento das dívidas. O fair play financeiro está entre os primeiros itens da cartilha do diretor financeiro tricolor, que promete, logo de início, regularizar o pagamento de salários para jogadores e funcionários do clube.

- Ainda não paguei os salários atrasados. Já fiz uns quinze telefonemas para resolver isso, mas ainda não conseguir. Existe uma prática no Bahia de pagar o salário no dia 20 do mês seguinte ao vencimento. Ainda não consegui acabar com isso aqui. Mas o plano é entrar em janeiro sem essa situação. Quero pagar os salários atrasados, incluindo o 13º salário de forma integral, benefício que não foi pago em 2011 e 2012, e começar janeiro em dia. Esse é o plano – declarou.

Segundo dados divulgados pela assessoria do Bahia, os gastos administrativos do clube foram reduzidos em 50% desde que Fernando Schmidt foi empossado presidente. Reub Celestino destaca que o fair play financeiro pauta também membros do departamento de futebol, como o diretor William Machado e o técnico Marquinhos Santos.

- O salário do William já vem reduzido em comparação ao mercado. O salário do técnico também. Uma ilustração do fair play financeiro que me tocou foi conversando com o próprio William. Em uma conversa pessoal, perguntei quando ele retornava para Salvador, já que o diretor de futebol tem direito a um carro alugado e tinha que fazer isso. Só que ele falou que não queria que o Bahia alugasse um carro. Ele disse que ia comprar um pra ele. Isso bateu dentro de mim com um bom exemplo. O Marquinhos Santos informou que vinha para Salvador com a família. Liguei para perguntar quando ele viria para comprar as passagens. Mas recebi a informação de que ele pagaria a passagem da família. Isso serve de exemplo de que todos estão empenhados com a ideia no clube – contou o dirigente.

ACORDO COM A FONTE NOVA

Reub Celestino revelou ainda que uma reunião entre diretores do Bahia e representantes do consórcio Arena Fonte Nova discutiram o contrato firmado no ano passado, durante a gestão de Marcelo Guimarães Filho. Um aditivo foi incluso no acordo para possibilitar que o Bahia salde as dívidas deste ano e entre em 2014 sem saldo negativo. O objetivo é antecipar parte da receita originalmente programada para 2014.

- Estive em uma reunião na sexta passada com a arena para conseguir recursos deles, de crédito futuro. Alteramos o contrato com a Fonte Nova. Um aditivo contratual. Foi-me informado que na sexta-feira conseguiríamos o apoio do conselho. Não me passaram ainda. Na hora que me passarem o que foi acordado, já existe um lado financeiro pronto. Se fizer isso hoje, pago não só o salário do mês de novembro, que está atrasado, como o de dezembro, o direito de imagem e o 13º integral. Vamos poder regularizar a situação e começar a pagar os salários no quinto dia do mês - garantiu.

Por contrato, o Bahia recebe nove milhões anuais da Arena Fonte Nova. Segundo Reub, o Tricolor vai tentar antecipar a maior quantia possível para saldar as dívidas.

- Precisamos antecipar o máximo que pudermos, já que precisamos pagar isso agora. O máximo que a gente puder. Além de pagar a folha, temos que pagar fornecedores, acordos judiciais e extrajudiciais – contou.

De acordo com o diretor financeiro tricolor, a dívida do clube ultrapassa os R$70 milhões, sendo que a maior parte consiste em tributos.

- É a maior parcela da nossa dívida. As dívidas trabalhistas giram em torno de R$ 20 milhões, com os fornecedores é de R$ 10 milhões. Já os tributos são de aproximadamente R$ 42 milhões – descreveu Reub Celestino.

A maior parte da receita do Tricolor ainda é proveniente das cotas de transmissão para os jogos. Contudo, parte da verba foi antecipada pela antiga gestão, comprometendo os valores a receber até 2018.

- A televisão ainda é nossa maior fonte de receita. Mas tem valores que foram antecipados. Em 2014 vai dar uma melhorada em comparação a 2013. Fizeram adiantamentos até 2018 referentes às luvas. Precisamos criar outras fontes de receita. Aumentar o número de sócios. Precisa ser mais otimista em cima disso. Tudo o que fizer será pra melhor – projetou.


Fonte: Thiago Pereira – GE.COM

Foto: Priscila Ulbrich/Divulgação/Esporte Clube Bahia