Sérgio Soares prioriza time ofensivo e cai nas graças do torcedor tricolor
Em entrevista, ele mostra o porquê é conhecido por ser durão. Mas não deixa de sorrir
Foto: Mauro Akin Nassor
Ele é jovem, mas impõe respeito. Aos 47 anos, o paulista Sérgio Soares tem fama de disciplinador. À beira do campo é durão mesmo, mas não economizou sorrisos durante a entrevista exclusiva concedida ao CORREIO, ontem, horas antes de embarcar para Manaus, onde estreia com o Bahia na Copa do Brasil. Amanhã, às 21h50, sua equipe enfrenta o Nacional-AM com o que ele prefere chamar de “time alternativo”. Invicto há 10 jogos, o ex-volante implantou no Esquadrão um estilo de jogo ofensivo, que empolgou os torcedores na arquibancada e classificou o time para duas semifinais. Mas Soares sabe que precisa colocar a mão na taça pra fazer história no clube.
No domingo, enfrenta a Juazeirense pelo Campeonato Baiano. Na próxima quarta, reencontra o Sport no Nordestão. O time pernambucano foi o carrasco do treinador no torneio do ano passado, quando comandava o Ceará. Depois de golear o Vitória por 5x1 e chegar à final, deixou escapar o título. Apesar de jogar o favoritismo para o rival, Soares garante que não será surpreendido dessa vez. O técnico tricolor falou ainda sobre a saída dos atletas da base do time titular, a possível mudança de mando de campo para Pituaçu e revelou as equipes e treinadores que o inspiram. É só conferir.
Por que você vai utilizar um time reserva na estreia da Copa do Brasil?
Um time alternativo. Tudo tem um risco, mas tenho que confiar no elenco que temos. Sentimos um pouquinho no sábado. Se nós levarmos o time considerado titular para o jogo de quinta (amanhã), nós chegaremos aqui na sexta, pra viajar sábado e jogar domingo. E lá (em Juazeiro) ainda é quente. Então é para que tenhamos uma equipe descansada e que consiga recuperar para outra quarta.
Você poderia optar por ficar aqui preparando o time titular. Por que decidiu ir para Manaus?
É importante eu estar presente. Se é um time alternativo, do elenco, eu tenho que estar presente, para eles olharem pra beira do campo e enxergarem o professor ali. Do contrário, eu tô desvalorizando o meu elenco.
O gramado do estádio Adauto Moraes te preocupa na semifinal do Baiano?
Sim. Tanto é que vamos treinar no nosso pior campo aqui (Fazendão) para poder se adaptar. Penso que é melhor trabalhar num campo que tenha situação semelhante e, de repente, até colocar uns jogadores diferentes para poder se adaptar. Às vezes, não se consegue com a parte técnica e precisa de um pouco mais de força.
Já estudou o time da Juazeirense?
O comando tem que pensar sempre. Os atletas têm que focar no jogo do Nacional-AM. O Júnior Pipoca é uma preocupação. É um jogador experiente e tem faro de gol.
Essa mudança de mando de campo para Pituaçu te preocupa?
Onde nós tivermos que jogar, jogaremos. Essa é uma questão administrativa e nós temos que respeitar. Se nós tivermos que jogar em Pituaçu, nós faremos de Pituaçu a nossa casa.
Quem é o favorito na semifinal da Copa do Nordeste? Bahia ou Sport?
Por ser de Série A, o Sport. Por ter condição financeira maior, o Sport.
Mas o Bahia ainda ganha receita como um clube de Séria A...
Mas o investimento deles é maior que o nosso. Até o início do jogo, o favoritismo é deles.
E você vai dizer isso para os seus atletas na preleção?
Sim. Eles são os favoritos. A responsabilidade é deles. Nós vamos como franco atiradores. Até começar o jogo. Existem condições que antecedem o jogo. Nós temos melhor campanha, mas o Sport joga Série A, uma competição de um nível melhor que a nossa, então eles são os favoritos.
O Sport foi o seu carrasco no Nordestão passado, quando dirigia o Ceará. Esse reencontro mexe com você?
Não. Eu sou profissional. O que acontece é o seguinte: conheço bem o time do Sport do Eduardo Baptista. Dessa vez ele não vai me surpreender.
Analisou o que fez de errado na final do ano passado?
Sim. De errado não digo, mas acho que dá pra gente fazer diferente. A situação é semelhante, a gente vai jogar primeiro lá e depois em casa, que foi o que aconteceu no ano passado.
Você vai continuar jogando de forma ofensiva ou pode colocar o regulamento embaixo do braço?
Dentro do jogo sim, para iniciar não. Com a vantagem, você tem que entrar e usar ela dentro do jogo, não desde o início. Para iniciar, tem que fazer o normal que te conduziu até aquele momento. Disse pra eles (jogadores) que nós chegamos a duas semifinais, só que nosso trabalho só vai ser valorizado a partir de agora. A gente tem que trabalhar para chegar nas finais.
Dá para manter o estilo de jogo ofensivo do Bahia na Série B?
A Série B esse ano vai ser mais técnica, porque os gramados que vamos enfrentar nos dão condição de jogo. O único gramado que a gente pode vir a ter dificuldade é o do Oeste. Foi essa a leitura que fiz, que muita gente não fez ainda e está achando que esse ano a Série B vai ser aquela de campo apertado, ruim, que precisa de mais força. Se você tiver a qualidade de jogo e botar competitividade...
O seu estilo de jogo é inspirado em algum modelo do passado?
O Flamengo de 1981 e a Seleção Brasileira de 1982, porque eles jogavam muito próximos e, quando roubavam a bola, tinham qualidade de jogo. A maior judiação do futebol foi aquela Seleção de 82 não ter sido campeã. O futebol brasileiro teria mudado lá atrás, mas fomos obrigados a ser um time mais pragmático pra poder conquistar os resultados, porque estávamos há 24 anos sem ganhar. Não é que a Seleção do Parreira jogava para trás em 1994, porém, segurava mais. A Seleção de 82 é minha maior inspiração e também o Flamengo de 81.
Você faz o estilo linha-dura. Algum técnico te inspirou?
Eu tenho dois exemplos de treinadores que trabalharam comigo. O Candinho, que até trabalhou aqui numa época, que foi quem me subiu no profissional, e o Vanderlei Luxemburgo. Candinho tem uma conduta exemplar como profissional, como treinador, é um cara de comando, então isso para mim foi importante. E o Vanderlei fiquei com ele no Palmeiras e ali eu aprendi. São as minhas inspirações.
E por que esse jeitão sério?
Futebol profissional você tem que levar muito a sério, então eu sou sério. Em casa meus filhos falam: “Pô, pai, você é muito brabo”. Mas eu brinco muito e sou outra pessoa dentro do meu convívio familiar. Aqui dentro do meu trabalho, sou um cara muito sério. Até brinco, mas acho que você precisa ser sério para conquistar as coisas. Não que vai ser tudo a ferro e fogo, tem que ser flexível, tem hora que tem que segurar, tem que dar um abraço, mas tem hora que tem que dar uma porrada para fazer as coisas andarem. Essa é a minha linha de trabalho. Eu cobro muito para que a gente se aproxime da excelência. Os caras têm que sair de casa e pensar: “Vou trabalhar porque lá o Sérgio é chato”.
Já tinha trabalhado com tanto atleta da base no elenco?
Na maioria das vezes que eu trabalhei, a gente subiu os meninos. Eu não tenho medo nenhum e é legal botar o menino para jogar, o moleque ter oportunidade com 18 anos. Eu subi com 18 anos. Me borrei todo. Dá frio na barriga, é a oportunidade no profissional. Acho importante e essa filosofia do clube vai de encontro com a minha também, mas o moleque tem que ter responsabilidade. Amanhã ou depois o cara fala: “O professor me botou lá”. Fiquei superfeliz com a convocação do Jean. Jogou Taça São Paulo em janeiro e foi para seleção olímpica. Meu prazer é ver isso aí.
Jean vive uma situação de briga familiar fora de campo. Você precisou conversar com ele?
Eu só disse para ele uma coisa: “Nós acreditamos em você”. Questão pessoal a gente não se mete.
O time titular começou com muitos atletas da base, mas hoje só tem Jean e Patric. O que aconteceu para os outros deixarem o time?
Foi uma coisa natural. As peças foram se encaixando dentro do esquema que nós adotamos. A gente fala muito do Rômulo e do Bruno Paulista. São bons jogadores, com grande potencial, porém a gente precisa lapidar. Eles precisam melhorar alguns fundamentos. Eu entendo que o Bruno é um jogador com um baita potencial, que precisa ser lapidado. O Rômulo é outro jogador que enxerga bem o companheiro e precisa ser lapidado. Daqui a pouco, esses dois jogadores terão plenas condições de ser titulares do Bahia sem problema algum.
Qual o segredo do bom desempenho do time atualmente?
O maior segredo, se é que é segredo, é o comprometimento dos atletas, comprar a ideia e aceitar a ideia de um Bahia sempre para frente, que joga. Sempre vi o Maxi Biancucchi como um bom jogador e hoje vejo o cara jogando com alegria, se dedicando, dando carrinho. É o comprometimento que eles têm. A gente quer muito mais e a gente vai melhorando, mas o Bahia já começou a ter uma cara e um jeitão de jogar.
Por falar em Maxi, o que foi fundamental para recuperar ele e Pittoni?
Eles entram no campo sabendo o que vão fazer. Isso é fundamental. Além da qualidade técnica do Maxi, eu digo para ele: “A sua movimentação nesse jogo tem que ser x”. O Pittoni a mesma coisa. Além da experiência, ele sabe qual é a função que vai exercer dentro de campo.
Por que Léo Gamalho ainda não está rendendo o ideal?
Por que Kieza está disparadamente sobrando? Porque há uma preocupação muito grande com o Léo. Quando o Kieza joga centralizado, passa a ter mais dificuldade. A partir do momento que Léo entrou, mesmo ele não rendendo aquilo que a gente espera, ele contribuiu para o crescimento de Kieza. Há uma preocupação maior com o Léo por causa das características dele e aí acaba sobrando para o Kieza uma situação melhor. Léo vai melhorar, porém o custo-benefício dele fez com que o outro lado crescesse. Ele vai melhorar, sabe que precisa, que sou chato e que cobro dele.
Kieza poderia ajudar ainda mais a Léo Gamalho?
Kieza já fez muitas assistências. Tá tendo uma congruência entre eles. Vejo que ele tem ambição, mas não é fominha. É que a gente quer mais do Léo. Kieza tem uma característica e o Léo Gamalho outra. O Kieza é mais da briga e o Léo é um cara técnico.
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