Postado por - Newton Duarte

Skank: 'Tem de repensar a ideia de manutenção dos estádios'

Skank sobre shows nas 'arenas': 'Tem de repensar a ideia de manutenção dos estádios'

"Estamos em dívida com o público soteropolitano". A culpa confessa é de Henrique Portugal, guitarrista do Skank. A banda mineira já não se apresenta em Salvador há um bom tempo, mas neste sábado (31), é uma das atrações da grade do Circuito Banco do Brasil, que trará à capital baiana os também mineiros do Jota Quest, a banda carioca Monobloco, a cantora inglesa Joss Stone, dentre outros. Para a gravação do último DVD, a banda chegou a cogitar Salvador. No entanto, pela relação que têm com Minas e com o futebol, os meninos do Skank decidiram gravar, em 2010, o "Ao Vivo no Mineirão" - antes de o estádio entrar em reformas para a Copa do Mundo. "Então, quem quiser conhecer o Mineirão antigo, antes das reformas, tem que comprar o DVD do Skank [risos]", avisou Henrique, em tom de brincadeira, em entrevista ao Bahia Notícias. Na conversa, o músico falou ainda sobre o caráter multiuso das arenas, criticou a forma como são organizados os grandes shows no Brasil - "são locais de pouco conforto, feitos para um público jovem" - e contou novidades sobre o novo álbum, previsto para ser lançado até o início do ano que vem.

BN - Em 91 vocês fizeram um show em São Paulo que foi todo gravado, mas esse material só se transformou em disco recentemente. Intitulado "91", o que esse último álbum do Skank significa para a banda e para os fãs?

HP - Na verdade, eu acho que a música de hoje está sendo trabalhada de uma forma independente. Os artistas de hoje estão trabalhando de uma forma muito solta, de maneira geral, e esse é um cenário muito diferente de quando surgiu o Skank. Com esse lançamento, a gente queria mostrar o nosso início, a nossa história, todas as coisas que produzimos antes do nosso primeiro álbum, lançado por uma gravadora. Talvez mostrar como nós começamos possa ser um grande incentivo para quem está começando, já que normalmente as pessoas só têm acesso a um novo artista depois que ele já apareceu no rádio, na TV... A gente tinha esse material guardado e apenas organizou para lançar. Eu faço questão de dizer para as pessoas que encontro que "a gente começou assim, ó", dessa forma que agora está acessível com esse disco. Começou pequeno, não tinha nada exatamente pronto, nosso primeiro show estava vazio, mas foi um trabalho longo. Acho legal mostrar essa cara. Tem duas bandas em Salvador que eu tenho conversado muito nos últimos tempos, que é a Maglore e o Cascadura, são bandas muito legais, e talvez esse nosso exemplo sirva de referência.

BN - Quando o Skank surgiu, gravar qualquer coisa era quase um evento, devido ao fato de tudo ser muito caro e mais difícil. Vocês acompanharam essas trasnformações no modus operandi da música. Como é produzir hoje para vocês?

HP - A gente sempre pensou de forma independente, a gente nunca pensou de forma muito diferente, mesmo depois das gravadoras. Continuamos tomando as nossas decisões, acreditando nas nossas ideias, na nossa forma de pensar - sempre nessa dobradinha com a gravadora. Acabamos montando um estúdio em Belo Horizonte, justamente pelo fato de acharmos importante dedicar mais tempo a esse ambiente, à produção do disco efetivamente. Não é simplesmente "ah, pensei na ideia, em segundos está tudo pronto e vamos embora", que é uma característica do mundo atual. As bandas novas gastam pouco tempo no estúdio produzindo um projeto e muito tempo divulgando. Acho que as bandas deveriam gostar mais de estúdio, de produzir e elaborar mais o produto antes de sair com ele pela estrada.

BN - É justamente o que vocês tentam retomar agora, com esse intervalo maior entre os discos, não é? Quando está previsto o lançamento do álbum está em fase de produção?

HP - Exatamente. A gente ainda não sabe quando esse disco vai sair. A gente ainda está trabalhando na parte de composição. Talvez saia no final do ano, mas é mais provável que saia no início do ano que vem.

BN - Foi em 1996, no terceiro álbum de vocês, o "Samba Paconé", que a parceria com Nando Reis aconteceu pela primeira vez. De lá para cá foram muitas parcerias de sucesso com o compositor. Tem mais coisa do Nando no disco? Que parcerias antigas vocês retomam nesse novo trabalho?

HP - Tem mais coisa do Nando Reis com o Samuel. Tem o Chico Amaral, que é o nosso parceiro mais antigo, mas a gente ainda tem um trabalho longo pela frente e vai demorar um pouco para gente saber quem entra efetivamente no novo disco. Por enquanto, posso afirmar que é certo a presença do Nando e do Chico Amaral e estamos tentando fechar uma parceria com algum artista do novo cenário. Talvez tenha alguma coisa do Emicida, vamos ver... Temos um volume legal de músicas, mas demora ao menos dois meses para que tenhamos uma dimensão exata do que será esse novo disco.

BN - O que vocês têm ouvido atualmente? O que tem inspirado a banda?

HP - Eu sempre fui muito ligado à música independente. Eu tenho um programa web chamado Frente, que é exatamente para divulgar esses trabalhos. O Maglore está lançando um disco novo, inclusive, morando em São Paulo... Tenho escutado muita coisa nacional. Tem um cara que eu gosto muito, que apesar de não ser tão novo ainda não explodiu, que é o Tiago Iorc. Tem uma banda de Brasília que eu gosto muito, que o Faluja, parceira da Som Livre. Então a cena está se acostumando agora – até que enfim! – e criando uma dinâmica própria. Antes as bandas se diziam independentes, mas estavam de olho na gravadora. Hoje, essa coisa mudou. Elas são independentes e quem continuar independentes, pois há como se manter e se consolidar nesse mercado. Se antes era uma alternativa, hoje está se tornando a primeira opção.

BN - Como foi receber o convite do guitarrista Carlos Santana para cantar, na gravação do DVD dele, em Las Vegas, a música "Saideira", em português?

HP - Até agora só foi gravada uma versão em português, mas acho que vai acontecer a versão em espanhol e talvez em inglês. Poxa, foi super bacana, é um projeto super legal da Sony e dele também. É uma referência, um ícone da música mundial, não só latina. Um cara que tocou em Woodstock e que está aí tocando, fazendo show. Há muitos anos atrás eu conversei com ele no camarim de um show que ele fez no Brasil. Um cara solícito, educado. Tem pessoas que você olha e brilham. E ele é assim, "ligado na tomada", tem essa energia e ama a música. O arranjo da música é muito parecido com o arranjo da música original. Essa gravação trará alguns desdobramentos, talvez um show no México, no final do ano.

BN - Vocês têm uma relação fortíssima com o futebol. Em 2010 vocês gravaram o DVD no Mineirão. O show também marcou a despedida do Gigante da Pampulha, que foi fechado para reformas para a Copa do Mundo de 2014. Como foi fazer esse show lá?

HP - A nossa relação com o futebol é natural, não é uma coisa montada, forçada e tal. A gente ter gravado esse DVD no Mineirão foi a realização de um sonho. A gente tinha gravado um DVD em Ouro Preto, um em São Paulo, até chegamos a iniciar umas conversas para gravar um DVD em Salvador, mas acabou não se concretizando, e aí a gente conseguiu essa data para a gente poder "fechar" o Mineirão. Então, quem quiser conhecer o Mineirão antigo, antes das reformas, tem que comprar o DVD do Skank [risos].

BN - Por essa relação que o Skank tem com o futebol, como vocês veem o caráter multiuso das novas arenas? Muitas delas já receberam shows e tiveram seus gramados e estrutura física danificadas. Como fãs de futebol, o que vocês acham desse uso?

HP - Eu acho sensacional a ideia. Tudo vem em uma curva de aprendizado. Não basta apenas reformar o estádio, tem de se repensar as ideias de manutenção desse estádio. A gente vê o gramado de alguns estádios, como você mencionou, que já estão sofrendo. Mas eu acho também que estão sofrendo por causa do inverno. O último grande show que aconteceu em um estádio brasileiro foi a gravação do DVD da Claudia Leitte na Arena Pernambuco e realmente vemos que o gramado do estádio está judiado. No Mineirão está funcionando. Já tivemos Elton John, Paul McCartney, Beyoncé, então acho que é uma curva de aprendizado mesmo. Só depois da Copa que a gente vai poder falar com certeza se valeu a pena. De antemão acho que valeu, pois foi uma união de forças isso acontecer. Tirando isso, vamos ver o que acontece.

BN - Em uma entrevista recente, você comentou que "shows para grandes públicos no Brasil normalmente são locais de pouco conforto. E isso significa que o público é jovem". O que você quis dizer com essa afirmação?

HP - A maioria dos shows de grande porte faz com o público o seguinte: define o preço do ingresso, um horário para abertura dos portões, abre os portões, as pessoas entram, vêem o show e pronto. Não existe muito conforto. Por isso que é legal essa coisa dos novos estádios. Você ter banheiros em bom estado, ter locais de boa qualidade colocando alimentação de um padrão pré-estabelecido. Acho que isso é sinônimo de cuidado com o público. Uma pessoa mais idosa, que quer ir ver um show grande tem de ter um acesso mais próximo ao local do show. São várias coisas: você tem que conseguir entrar e sair rapidamente, não ter tantas filas e espera gigantesca, eu acho que é muito isso. Por isso que falei que é uma curva de aprendizado e nisso temos de aprender bastante.

BN - Inclusive, algumas das críticas ao Circuito Banco do Brasil, foi justamente ter escolhido o espaço do Wet'n Wild - um parque aquático desativado - para a edição deste ano, com a Arena Fonte Nova já pronta...

HP - Já morei em Salvador, em 1989. Morei na Barra. A Fonte Nova é no centro da cidade, não é?! Com relação à localização, não é uma coisa que temos de emitir opinião, pois essa é uma decisão de quem organizou o evento.

BN - E como é voltar a Salvador dentro de um festival grande como o Circuito Banco do Brasil?

HP - Com relação a tocar em um festival, essa é uma coisa extremamente natural para nós. Na verdade, a gente faz isso com muita frequência. É super legal voltar a Salvador. A gente estava demorando demais! Temos um fã-clube aí super ativo e estávamos devendo há um bom tempo. Nas redes sociais as pessoas sempre pediam, perguntavam quando voltaríamos. "Tocam em Aracaju, mas não tocam em Salvador", falavam. Então, para gente está sendo super legal, um evento bacana, bem estruturado, com bons artistas e que tem tudo para dar certo. Acho que passamos do tempo, demoramos demais para voltar. De certa forma, estamos em dívida com o público soteropolitano.


Fonte: Marília Moreira – Bahia Notícias

Foto: Divulgação/ Washington Possato e Weber Padua, Arquivo