Postado por - Newton Duarte

'Só continuará no Bahia quem quiser ficar', diz novo Presidente

Marcelo Sant'Ana: 'Só continuará no Bahia quem quiser ficar'

Marcelo Sant'Ana, presidente do Bahia

Marcelo Sant'Ana é oficialmente presidente do Bahia desde a noite de quarta-feira, 17. Antes da cerimônia de posse, o jornalista deu entrevista exclusiva para A TARDE. Entre as várias novidades, o novo mandatário tricolor falou sobre o seu corpo de diretores, anunciando, inclusive, o primeiro deles: Marcelo Barros, da administração. Comentou também sobre em que pé estão as negociações com os novos técnico e diretor de futebol, além das movimentações no elenco. O presidente quer manter uma folha salarial de até R$ 1,7 milhões. Hoje, sem os jogadores devolvidos e em final de contrato, ela já é de R$ 1,4 milhões.

Você será empossado hoje. Como está se sentindo?

Com a convicção de que vai dar tudo certo. Durante todo esse período a única hora de angústia foi quando o portão da Fonte Nova foi fechado e ficamos esperando resultado da eleição. Foi a hora que fiquei nervoso e cheguei a chorar. É cansativo, desgastante, muita gente me telefonando... Mas tenho muita confiança, porque o trabalho da gente não é de uma pessoa só, é de um grupo. Acho muito bom ter essa oportunidade ainda jovem porque acredito que um jovem é que tem condição de transformar o Bahia no que a gente quer.

Como jornalista, você sempre foi crítico. Como encara a mudança para alvo das críticas?

A função me obriga a saber lidar com as críticas, independentemente de gostar ou não. A crítica da imprensa dificilmente vai me magoar. O que machuca é a crítica de algumas pessoas que eu tinha como amigos. Porque muitas delas não querem criticar seu trabalho, mas te denegrir. Quando a pessoa te conhece, sabe como você é, e mente, isso, sim, magoa. Sempre fui muito crítico, então seria injusto dizer que espero compreensão sempre.

Indo direto ao assunto futebol, você já tem técnico definido? Fala-se de conversas adiantadas com Sérgio Soares (ex-Ceará).

A conversa está adiantada, já foi discutida inclusive a parte salarial. Agora, só vou contratar um técnico quando tiver um diretor de futebol contratado. Entendo que seria desrespeito dar esse pacote pronto ao diretor. A participação dele será decisiva. Pode ser contrário e até sugerir nomes.

Por que Sérgio Soares?

Acredito que técnico deve ter um desses dois perfis: alguém já consagrado por bons trabalhos que você contrata para ter um crescimento automático ou alguém que está desenvolvendo bons trabalhos e que está numa linha de crescimento. Enxergo Sergio nesse último perfil. Já fez bons trabalhos no Santo André, no Atlético-PR e mais recentemente no Ceará. Ele chegou lá no ano passado, foi finalista da Copa do Nordeste e eliminou o Inter na Copa do Brasil. Tem um estilo de jogo ofensivo e agressivo. Na Série B sempre esteve no G-4 até um momento que o Ceará parece ter perdido o foco. Não sei o que aconteceu e vou conversar com ele sobre isso.

Já que você vai contratar um técnico, qual será o futuro de Charles Fabian no clube?

Entendo que o melhor para o Bahia e para o Charles agora é que ele seja auxiliar técnico. É um cara que tem identificação com o torcedor, sabe como a gente se sente. Mas pelo que entendo do futebol, para ele ser um técnico de primeira linha, precisa melhorar alguns aspectos profissionais. Ele agora está no Rio, fazendo um curso por iniciativa dele, o que mostra que tem preocupação com a carreira. O caminho é esse.

Você entende que ele falhou ao reclamar dos jogadores que não viajaram para Curitiba?

Eu não estava no Bahia quando aconteceu. Ainda não consegui falar com Charles até agora. Agora, entendo que ele falou boa parte das coisas que o torcedor queria ouvir. Foi decisão dele. Prefiro não julgar.

Tem se falado que Lomba e Pará receberam propostas para sair do Bahia. É verdade?

Sobre Lomba eu não tive nenhuma informação. Sobre Pará, a informação que foi passada pelo próprio Schmidt é que teria uma proposta de um grupo investidores, mas ele não me deu o valor exato. Temos que avaliar se é interesse do atleta ficar no Bahia. Tem a questão economica também. Fiquei sabendo que o Bahia ainda não pagou a folha atual e o décimo-terceiro.

Quando tomou posse, Schmidt disse que o Bahia era terra arrasada. Continua assim?

Não tenho dúvida nenhuma de que o Bahia hoje é um clube bem mais estruturado. Mas essa é uma análise externa. Eu entendo que o Bahia ainda é um clube com muita dificuldades, com uma dívida altíssima, de mais ou menos R$ 127 milhões. Mas é um clube altamente viável, com a marca e a torcida que tem.

O clube já adiantou as cotas de TV do próximo ano?

A informação que tive é que a diretoria teria adiantado cerca de R$ 5 milhões. Se a gente vai precisar antecipar mais dessa receita ou não, eu tenho que conversar com calma com a minha equipe administrativa. Mas se houver algum adiantamento vai ser dentro do próprio ano fiscal. Não quero antecipar receitas.

Quanto aos seus diretores, já possui todos os nomes?

Anunciarei na posse o diretor executivo, que será Marcelo Barros. É um profissional que tem experiência de mercado, trabalhou muitos anos na Unifacs e também na Secretaria de Administração do Governo do Estado por três anos. Entendo que ele tem total gabarito para entender o Bahia como uma gestão profissional. Os outros, pretendo anunciar cada um em um dia, a partir da posse.

Como será sua diretoria?

Trabalharemos com três diretores: um executivo, um de mercado e um de futebol. Depois anunciarei a equipe de gerentes e responsáveis dentro de cada diretoria. Primeiro, temos que fazer o diagnóstico dos funcionários que estão lá.

O que cada diretor vai fazer?

O executivo vai cuidar da administração, das finanças e da parte estrutural. O de mercado vai cuidar do marketing, do comercial, dos sócios e da comunicação. O setor jurídico vai funcionar separado, como se fosse uma superintendência. Eu, como presidente, fico mais focado com o diretor de futebol. O sub Pedro Henriques, que é advogado, vai ficar mais próximo do jurídico.

Alguém da atual diretoria vai continuar na sua gestão?

Os profissionais com trabalho bom no clube têm que ficar. Não é porque participaram da diretoria com futebol incompetente que eles precisam ser punidos. Não conversei com ninguém, porque os diretores não foram anunciados e eles precisam ter opinião na equipe que vão trabalhar.

Bellintani e Rátis estão te ajudando nessas indicações?

Ratis me ajudou em alguns eventos de campanha que ele tomou iniciativa de organizar. Bellintani, da mesma maneira, muito solícito. Não conhecia ele até entrar na campanha. Nenhum dos dois terá cargo na minha diretoria, mas serão pessoas que vou consultar com frequência.

Você já tem um diretor de futebol definido? Seria Alexandre Faria (do América-MG).

Olha, na conversa entre eu e a pessoa que eu acredito que será o diretor de futebol, faltam só dois detalhes: botar salário no papel e assinar o documento. Alexandre é um bom profissional. Conheço seu trabalho. Também tenho alguns amigos dentro do América que dizem que visão dele é mais macro, o que me agrada.

Seria então uma pessoa de fora. Por suas propostas, não seria melhor uma solução caseira?

Eu não enxergo mercado baiano um profissional pronto para ser diretor de futebol do Bahia. Vou buscar alguém que tenha know how e colocar ao seu lado um profissional baiano que entenda nossa cultura e hábitos, e o perfil de atleta que a gente gosta. Com o tempo esse profissional baiano será trabalhado para eventualmente ser nosso futuro diretor.

Essa pessoa seria Éder Ferrari (jornalista, ex-Bahia Notícias)?

Eu acredito que Éder Ferrari terá um papel no futebol profissional do Bahia porque é uma pessoa que tem esse conhecimento de mercado, é da minha confiança, e pode crescer muito se bem trabalhado. Seu cargo ainda não foi definido, porque o diretor também ainda não foi definido.

A negociação com Jael avançou? A lesão  no tornozelo não complica a negociação?

Conversei com empresário dele, Raudinei. A informação que tenho é que Jael tem interesse de jogar no Bahia. Ele tem identificação com a  torcida e nas duas passagens aqui, foi bem. O Bahia não pode se preocupar em ter atleta para um mês ou dois. Tem que se preocupar para a temporada e render nos momentos decisivos.

Schmidt abriu mão do próprio salário para não prejudicar o clube, mudando a natureza da entidade. Você terá remuneração?

A legislação foi modificada, e hoje é possível uma entidade como o Bahia dar remuneração ao presidente de até 70% do maior salário do funcionalismo público, em torno de R$ 20 mil. O Bahia já entrou com um parecer na Receita e na Fazenda para que se posicionem.

Dos jogadores que tem contrato, você quer que continuem ou há possibilidade de acordo?

Só vai continuar o atleta que quiser ficar. Se ele disser que quer ficar, vai ser decisão do clube se ele merece ou não. Cada caso vai ser observado sob essa ótica, e se ele merece a remuneração que recebe em relação à situação do clube, que é de Série B.

Especificamente Maxi, há intenção de fazer acordo?

Caso Maxi seja um jogador profissional, ele sabe que deixou a desejar no Bahia. O motivo, quem tá lá dentro pode falar melhor. Vou procurar essas pessoas para que me digam o que aconteceu. Agora, é um atleta com contrato com o Bahia, é um patrimônio, e a gente tem que fazer uma reflexão se ele é um jogador ruim ou se foi mal nessa temporada.