Postado por - Newton Duarte

Talisca garante ficar e descarta marra: 'Sempre tive estrela'

Aposta da base, Talisca garante ficar e descarta marra: 'Sempre tive estrela'

Promessa das divisões de base do Bahia dá primeiros passos para se tornar uma realidade no futebol profissional: 'Quem nasce para brilhar, não tem como apagar'

'A ficha ainda não caiu', diz Anderson Talisca


Tatuagens pelo corpo, camisa para fora do calção, cortes de cabelos nada ortodoxos e um olhar determinado, quase orgulhoso. Quem vê o meia Anderson Talisca pensa de imediato que se trata de um jogador marrento, de nariz em pé, que se acha intocável, o rei das quatro linhas. No entanto, toda essa impressão inicial se desmancha após algumas palavras. Com apenas 19 anos, o atleta do Bahia mostra toda a sua simplicidade nos primeiros cumprimentos. A fala ainda é de um menino que não está acostumado a ser protagonista entre homens, mas que começa a dar os primeiros passos para se destacar entre os grandes de verdade.

- A ficha ainda não caiu - confessa o jogador.

No último domingo, Talisca marcou o gol que definiu o triunfo do Bahia sobre o Cruzeiro, no Mineirão. O resultado eliminou qualquer possibilidade de queda do Tricolor para a Série B e tornou o Tricolor baiano o primeiro time do Nordeste a participar quatro vezes seguidas do Brasileirão na era dos pontos corridos. As entrevistas do meia ainda são meio desajeitadas. Típico de quem não está habituado às câmeras e microfones. Contudo, Anderson Souza Conceição sabe o que quer e fala abertamente disso. Não é marra, apenas a simplicidade de um jovem de 19 anos.

UMA APOSTA QUE COMEÇA A VIRAR REALIDADE

Fim de 2012, Bahia prestes a se livrar do rebaixamento. No Fazendão, o técnico Jorginho decide promover duas jovens promessas das divisões de base. Um deles era Talisca, atleta no qual o treinador depositava grandes esperanças. A temporada 2013 começou, e o meia finalmente teve a chance de mostrar para a torcida o motivo pelo qual era tratado como uma joia rara. As oportunidades, no entanto, se seguiram sem o sucesso esperado. Impacientes, os torcedores começaram a desconfiar do jovem atleta, que continuava à espera de uma sequência de partidas em que pudesse ser o diferencial.

A esperada sequência chegou no Campeonato Brasileiro. Talisca oscilou bons e maus momentos. De titular, acabou na reserva. Algumas vezes, sequer foi relacionado. Para não acabar desmotivado, o atleta se apoiou na família e nos amigos.

- Sempre tive essa estrutura. Saí do time titular e perdi ritmo de jogo. É claro que você fica chateado. Mas minha família, meus amigos, me apoiaram. Me deram motivação para jogar bem. Foi assim que me recuperei - contou.

Talisca revela que gol contra o Cruzeiro não foi marcado como ele queria

A recuperação de Talisca começou no triunfo sobre a Portuguesa, na Arena Fonte Nova. Cristóvão Borges decidiu surpreender e escalou o meia como titular. O jogador não decepcionou e foi um dos destaques do time, principalmente pela atuação no segundo tempo, quando o Bahia atuava com um a menos. No domingo passado, a redenção ficou completa. Talisca marcou o gol decisivo, já no fim do segundo tempo do triunfo sobre o Cruzeiro. Gol marcado de forma atrapalhada, mas mesmo assim comemorado como um título.

- A bola veio, e eu queria pegar de esquerda. Mas bateu em meu joelho e foi para o lado oposto ao que eu queria. Foi até bom assim. O Fábio estava indo para o canto que eu estava mirando. Ele até tentou voltar e não conseguiu. Se eu pegasse de esquerda mesmo, ele poderia ter defendido - lembra o meia.

O gol marcado contra o time mineiro foi apenas o terceiro de Anderson Talisca como profissional. Todos, no entanto, foram decisivos. O primeiro foi na semifinal do Campeonato Baiano, contra o Juazeiro, levando o Tricolor para a final da competição estadual. O segundo foi o da virada sobre o São Paulo, no primeiro turno do Brasileirão. Já o terceiro, contra o Cruzeiro, ainda está fresco na memória do torcedor.

- Sempre tive estrela, desde os tempos de categorias de base. Acho que é assim: quem nasce para brilhar, não tem como apagar - avaliou o atleta.

Talentoso com os chutes de longa distância, o meia espera poder em breve marcar um gol de fora da área, daqueles que a bola morre no ângulo e acabam na lista de mais bonitos de uma competição.

- Ainda não deu para fazer de fora da área. Quem sabe nos próximos jogos - cogita.

PERMANÊNCIA NO BAHIA

'Tenho contrato com o Bahia', garante jogador

Anderson Talisca sabe bem que ainda está nos primeiros passos de uma longa caminhada na carreira de jogador profissional. Talentoso, o meia reconhece que ainda não é efetivamente uma realidade. O caminho para o reconhecimento da torcida e do treinador é árduo e promete levar algum tempo para ser percorrido por completo.

- Depois do gol contra o Cruzeiro, comecei a pensar que estou me tornando uma realidade. Que estou começando a fazer as coisas que me cobravam. Fazer boas partidas e gols - diz Talisca, quase como se estivesse pensando alto.

O futuro imediato, o atleta garante que será no Bahia. Talisca tem contrato até 2017 e não pretende sair por agora do Tricolor baiano, apesar das especulações apontarem que o meia está de malas prontas para fora do país.

- A gente ouve essas histórias de negociações. Mas não tem nada disso. Tenho contrato com o Bahia. Estou mais preocupado em jogar - assegura.

Talisca promete jogar pelo Esquadrão em 2014 e fala da próxima temporada com muita esperança. O jogador diz que o atual elenco tricolor não é fraco, mas espera por contratações que possibilitem o time baiano a sonhar mais alto no ano da Copa do Mundo.

- O nosso grupo atual é bom. Não precisa de jogadores caros para se ter um grande elenco. Nosso grupo está fechado, e isso é importante. Para o próximo ano, teremos alguns reforços e assim poderemos brigar por outros objetivos - vislumbra Talisca.

SEM MARRA

Talisca pode até passar por um atleta marrento, mas garante que tudo não passa de uma impressão errada. De origem pobre, o meia garante que tem a humildade no DNA e que a simplicidade é um modo de vida.

- Todo mundo sabe das minhas qualidades. Tento me preparar bastante para jogar bem. A marra não existe, nunca existiu. Pode perguntar ao Feijão [volante do Bahia]. Morei na favela, não tem isso de marrento - comenta Talisca.

Mesmo sem marra, Talisca quer sempre ser diferente, principalmente com a bola no pé. Um lançamento inesperado, um chute que pega a todos de surpresa. Assim é que o jogador tenta sobreviver no mundo da bola. Apenas um menino que está em busca do sucesso.

- No futebol, tem que tentar algo de diferente. É isso que eu tento - conclui o jogador.


Fonte: GE.COM

Foto: Marcos Bezerra/Agência Estado e Thiago Pereira