Postado por - Newton Duarte

Tem que chegar gente, sair gente: Guto Ferreira fala em problemas imensos

Guto Ferreira analisa atuação do Tricolor diante do Vila Nova e não poupa críticas, fala em equipe espaçada e sem padrão, mas diz que dez dias não serão solução

Quando assinou contrato com o Bahia, Guto Ferreira sabia que teria muito trabalho pela frente. Apresentado numa segunda-feira com estreia no dia seguinte, ele sabia que tempo não seria um elemento disponível. E, apesar de o Tricolor ser classificado por muito como o clube de melhor elenco da Série B, o treinador sabia que não era apenas com nomes numa lista que teria seus frutos colhidos.

Na noite desta terça-feira, Guto Ferreira pode ter pensado que o trabalho, que seria árduo, talvez seja um pouco pior. Diante do Vila Nova, o treinador viu o Bahia atuar de forma desorganizada e afobada, sem padrão tático ou capacidade de trabalhar a bola. O saldo foi desfavorável: 1 a 0para a equipe goiana, a sexta derrota em sete partidas disputadas pela Série B. Na entrevista coletiva concedida após o duelo, o treinador não poupou críticas ao desempenho do time baiano e também não fugiu da responsabilidade.

- Os problemas são imensos. Passa por situações de administração de plantel. Passa por questão psicológica. Passa por questões físicas. E passa por questões estruturais. Na partida em que vencemos o Oeste, a equipe pelo menos buscou uma entrega muito grande em termos de marcação e soube ocupar os espaços que o adversário cedeu. Contra o Ceará, houve uma falha logo no início, a equipe foi buscar, teve um certo padrão de posicionamento, até fez um gol, mal anulado, mas não adianta reclamar. Hoje, não. A equipe não teve nada. Foi espaçada. A bola pegou fogo no pé de muitos jogadores. Não teve condições, raramente teve situações de chegar consistente para finalizar. Chegou muito mais na disposição do que na organização. Não é isso que a gente quer. Quero uma equipe organizada, consistente, que proponha o jogo e tenha o controle da partida. Não trabalhamos o suficiente para isso. Mas talvez um pouco melhor a gente conseguisse. Temos muito trabalho, assumo a responsabilidade da partida de hoje e do trabalho eu tenho para fazer. Se estamos aqui, é porque sabemos da responsabilidade do trabalho que tem para ser feito. Se fosse fácil, qualquer um faria. Temos que aproveitar esses dez dias e depois mais uma semana, outra semana. Não é no fim de dez dias que vai estar maravilhoso. É um processo evolutivo, temos que melhorar vários aspectos, correções de peças, saídas, contratações. A partir disso, buscar uma equipe mais estruturada, competitiva, bem diferente da que foi hoje - analisou.

Ciente de que os dez dias que separam esta terça-feira da próxima partida não serão o suficiente, Guto Ferreira não escondeu: será preciso trabalhar em diversas frentes, inclusive na composição do elenco. Para ele, será necessário contratar, mas também dispensar atletas que não têm rendido o esperado.

- Justamente trabalhando dentro de campo, dia a dia, melhorando questões estruturais. Trazendo peças que possam agregar. Atacando problemas maiores da equipe, qualidade de passe. Primeiro, melhoria da condição física, para ter condição de marcar mais forte e controlar o adversário. Na hora que tem a posse da bola, tem que ser mais agressivo, chegar de forma mais consistente. Isso não é em dez dias. É um trabalho progressivo. Temos que melhorar em cima do rival que vamos enfrentar. Temos que buscar resultados para terminar o primeiro turno pelo menos próximo da zona de classificação. Depois, nos 19 jogos, depois desse emaranhado de espaço para treinos, que na somatória dará quase seis semanas, a gente estar no ideal. A gente estar com a equipe com a cara que a gente quer. Volto a falar, não adianta atacar só com quem está aí. Tem que chegar gente, sair gente. E atacar os mais variados setores do indivíduo. Para reestruturar a equipe e ter a equipe competitiva novamente - disse.

Com o resultado, o Bahia é o nono colocado da tabela, com 20 pontos. A equipe, no entanto, ainda pode perder posições até o encerramento da 15ª rodada da Segundona, no sábado. Confira abaixo outros trechos da entrevista coletiva de Guto Ferreira.

OTIMISMO EM RELAÇÃO AO ACESSO

- Continuo otimista. Encontrei situações piores em outros clubes que trabalhei e, no fim, atingi o objetivo. Nada resiste ao trabalho, e dessa maneira pretendo superar esse momento. Dessa maneira, reerguemos a Portuguesa e terminamos na 12ª posição. A Ponte, encontrei em situação até pior. A direção com mentalidade de brigar pelo rebaixamento e subimos com cinco rodadas de antecedência. Equipe com algumas coisas em condição melhor. E é justamente isso que precisamos. Aproveitar esse tempo que temos, jogar esses jogadores para cima, mental física, técnica e tática. Encaixar a equipe, estrutura e competir.

EVOLUÇÃO DO TIME NA "INTERTEMPORADA"

- Acho que sim. Justamente em cima desse espaço que a gente pretende dar essa guinada. Dar essa recuperada, alavancada e transformar a equipe em competitiva.

QUESTÕES FÍSICAS E RENDIMENTO DE FEIJÃO

- Difícil falar e expor outras situações. Mas tiveram alguns jogadores que chegaram em condição aquém, outros se lesionaram. É da própria estrutura. Retornaram de forma rápida [do departamento médico], nem sempre na melhor forma. Dentro da estrutura da equipe, em uma competição intensa, com jogo teça e sexta ou sábado, chega uma hora que é o terceiro jogo de intensidade em oito dias. A quantos jogos vem em sequência? Chega uma hora que o tanque esvazia. Tem que ter equipe estruturada para mexer para que essas situações não ocorram dentro de campo. Hoje, por exemplo, um dos jogadores que se salvaram foi o Feijão, que não jogou último jogo. Os que jogaram de forma mais intensa no jogo passado tiveram dificuldade.

O JOGO

- Acho que o principal fator foi o espaçamento da equipe. Espaçou demais. Deu à equipe do Vila Nova os espaços que precisava no contra-ataque. O principal fator foi que o Vila se encolheu. A gente precisa ter força para furar o bloqueio. Não tivemos. À medida que solta a bola pelos lados e não encontra sequência de jogadas, perde a posse. Assim eles encontraram o contra-ataque. Tiveram uma estratégia que tivemos contra o Oeste. A diferença é que jogamos dentro de casa e esperamos. Mesmo pressionando mais alto. Hoje a situação do Vila foi defender de maneira intensa e usar o contra-ataque. Nessa situação, [o Vila Nova] achou o gol.

Fonte: Ge.com