Postado por - Newton Duarte

Tentando recomeço, futuro de ex-base do Esquadrão deve ser a Europa

Joia do Bahia tenta recomeço após tiroteio e conta que quase parou no Barça

Caio Ulises tem 22 anos e, apesar de jovem, já tem muita história para contar sobre sua carreira. Para jogar futebol, teve que superar a falta de dinheiro para passagens de ônibus e tiroteio do bairro onde morava, em Salvador. Joia das categorias de base do Bahia, ele esteve na mira do Barcelona, mas uma guerra entre empresários o afastou do clube catalão. Atualmente sem time, ele busca um recomeço.

Natural de Queimadas, interior da Bahia, Caio se mudou para Salvador com 13 anos para ingressar na base do Bahia. Assim como muitos de seus companheiros, ele encarou muitas dificuldades no início. "Era difícil. O bairro que morava era perigoso. Tinha muito tiroteio. Saia para treinar meio dia e voltava às 22h. Eram dois ônibus para ir e mais dois para voltar. Tinha que andar bastante depois em um bairro perigoso. Diversas vezes fui assaltado. Mas não desisti", disse Caio ao UOL Esporte.

"As vezes não tinha dinheiro para passagem e lanche. Minha mãe teve que pedir para amigos. O Bahia não dava dinheiro, pois estava na terceira divisão. Minha mãe andava de um bairro para o outro debaixo de sol quente para levantar esse dinheiro. O começo foi muito difícil, passamos por muita dificuldade", completou.

Guerra de empresários complicou ida ao Barcelona

As dificuldades foram recompensadas, mas com mais alguns obstáculos pelo caminho. Destaque da base do Bahia, foi observado por olheiros do Barcelona, que tentaram levá-lo assim que completou 16 anos. O problema é que a mãe assinou um documento com um outro empresário, que acionou a Justiça e melou o negócio.

"Dois representantes vieram ver meus jogos e fizeram o convite. Isso foi em 2008. Conversaram comigo e até o Assis [irmão de Ronaldinho Gaúcho] estava envolvido, pois tem muito conhecimento de Barcelona. Tinha 15 anos e precisava completar 16 para viajar para a Espanha. Estavam em contato com minha mãe. Para tirar passaporte, regularizar tudo. Iam levar minha família junto", explicou o atacante.

"Minha mãe tinha assinado um contrato com um empresário aqui da Bahia que complicou bastante. Bahia descobriu e tentou fazer contrato comigo. Mas não assinei o documento, pois esse empresário me levou para o Grêmio", completou.

"Quando ficamos sabendo do interesse do Barcelona, tentamos rapidamente fazer um contrato assim que o Caio completasse 16 anos. A diretoria propôs um contrato com uma multa rescisória de R$ 30 milhões para clubes estrangeiros que tentasse tirá-lo do clube. Mas empresários fizeram a cabeça dele e levaram para o Grêmio antes que o jogador assinasse conosco, ficamos muito chateados, porque depositávamos muita esperança de que ia virar um baita atleta profissional", explicou Nelson Goes, superintende da base do Bahia.

Assim, Caio iniciou sua peregrinação por vários clubes. Grêmio, Santos e Atlético-PR. Quando começou a se firmar no time paranaense, foi convencido pelo empresário a não renovar. Ganhou um apartamento em Salvador. Tudo para se transferir para Portugal, onde tinha negociações com o Vitória de Guimarães. O problema é que o vínculo com o Rubro-negro acabou depois da janela de transferências e Caio teve outro destino.

Sucessor de Neymar e Philippe Coutinho no Brasil

Pepe Costa é um dos responsáveis por garimpar talentos na América do Sul e levar para o Barcelona. O olheiro do clube catão admite que Caio esteve na mira e enche a bola do jovem atacante. "Queríamos muito o jogador, que era fantástico. Rápido, técnico e usava muito bem o corpo. Tentamos levá-lo duas vezes para o Barcelona, mas não ocorreu. Na categoria 92 do Brasil tinham dois jogadores ofensivos acima da média: Neymar e Philippe Coutinho. O Caio era o principal atacante do país da categoria 93. Ele estava na mira da seleção de base e fizemos de tudo para levar para o Barcelona. Ia ele e a mãe dele. O então empresário dele dificultou bastante as coisas e prejudicou ele", explicou.

"Tentamos trazê-lo duas vezes para o Barcelona, o Tixiki Begiristain [diretor desportivo do Barcelona] ficou tão encantado com o jogador que na segunda tentativa contatou o agente Fifa Israelita Pini Zahavi, para tentar trazer o jogador. A mãe do jogador chegou a firmar um acordo conosco, intermediado pelo Zahavi, mas o empresário do Caio prejudicou por duas vezes a vinda do jogador para Barcelona", explicou Pepe Costa.

O próximo capítulo de Caio ocorreu no Naval-POR, clube que havia sido rebaixado da primeira divisão por problemas judiciais. "Ficaria até janeiro. Para esperar a janela abrir novamente e jogar pelo Guimarães. Eu fui notificado para mostrar meu contrato de trabalho e o clube não respondia. Me enrolavam. 'Que gajo agoniado, estamos a resolver'. Fiquei preocupado e corri atrás. Procurei a União Portuguesa de Jogadores e fiquei sabendo de tudo. O Naval tinha esse problema. Nem poderia contratar jogador estrangeiro. Voltei para o Brasil para evitar maiores problemas", afirmou.

Sem clube, Caio espera a abertura da janela de inverno para dar sequência na carreira. Atualmente sem clube, ele mantém a forma nas dependências do Bahia. "Vida nova. Estou no Brasil e meu novo empresário [Eder Zuanazzi] está vendo situações para mim na Espanha e Portugal. Não se sabe do futuro. São possibilidades que tenho que pensar. O Bahia abriu as portas e estou treinando no clube. Vamos ver o que vai dar. Sou jogador novo, tenho 22 anos. Esquecer o que passou, vida nova", finalizou.

Futuro deve ser Europa

Com o novo empresário, Eder Zuanazzi, Caio espera ter mais sucesso nas decisões tomadas. E o futuro aponta para o futebol europeu. Times da Espanha e principalmente da Itália já observam o atacante. "É um Jogador com todas as características de ser jogador top.  Fez algumas escolhas erradas que custaram caro para a sua carreira. Ele ainda é novo e acredito que pode recuperar o tempo perdido para se tornar um orgulho para a nossa nação como um jogador que deu certo.  Nosso projeto é de recolocá-lo na ativa e em pouco tempo fecharmos com algum dos clubes  europeus que já o estão acompanhando", explica o empresário Eder Zuanazzi.