Time de futebol tem obrigação social?
Enquanto o campeonato estadual não consegue me seduzir e me preocupar, vamos tocando noutros pontos. As duas últimas vitórias magras e a campanha como um todo até aqui não são suficientes, e meu bico vai abrir após o clássico de quarta.
O companheiro de ESPN FC, Conrado Cacace, argumentou certeiro certa vez em debate sobre um dos vários temas dos quais divergimos. Estou falando da gestão dos estádios novos e do lucro e de tudo que o lucro envolve e do ciclo que ele cria e demanda que alguém controle.
A palavra de seu argumento foi: o clube precisa ter função social? Bateu fundo.
Lá vamos nós. Senhores, eu sou jornalista, e adoraria ficar rico com minha profissão. Quem sabe um dia comentando na TV ao lado de um ex-árbitro duvidoso e de um ex-jogador do Corinthians eu chegue perto de minha fortuna. Contudo, não é só disso que se trata a carreira. Ouvir uma menção positiva de alguém que você admira não tem preço. Fazer um trabalho grandioso e excitante, também. Ser reconhecido por ter retidão e honestidade, idem. Fora do trabalho, não basta ser rico. É preciso ser um bom filho, bom cidadão, bom pai, ótimo amante, um cara leal aos amigos, tudo isso.
Posto isso, digo que sim, o clube de futebol precisa ter função social, e isso bate de frente com os excelentes resultados econômicos do Allianz Parque.
Exemplo difícil
Não é exatamente correto comparar a sociedade alemã com a brasileira, mas bons exemplos devem ser apreciados. Para começar, o futebol do país não permite a farra de "donos" vindos dos "mundos árabes", que "queimam" grana irreal e surreal e tal. Do gramado para fora, existe uma expressa recomendação de traduzir, na arquibancada, a textura social da cidade onde vive determinado time. Isso significa dizer que se 10% da população é de baixa renda, um décimo do estádio certamente terá um preço que cabe no bolso destes camaradas.
Não te parece razoável? Isso, pra mim, é cumprimento de uma função social importante. Como fazer algo parecido no Brasil, em São Paulo? Bem, os ingressos médios do futebol da elite do país já estão muito, muito mesmo, acima do limite do ridículo, mas isso é uma opinião minha. Deveriam custar um terço do que custam. Os estádios novos empurram pra cima. Os sócio-torcedores enchem de maquiagem os preços reais e empurram pra fora um monte de gente.
Não sei apresentar um plano perfeito. Mas quero a sua reflexão. Não quero um Palmeiras rico mas arrogante.
O jogo que se joga só
Tem um "Time do Povo" em crise de identidade na zona leste da cidade. A crise do mármore está jogando ideologias umas contra as outras, e a torcida deles está batendo cabeça, discutindo a nova realidade. Tem um jogo invisível entre nós e eles, nestes tempos de arenas. E é um jogo que ninguém pode jogar sozinho.
Quero dizer, de que adianta cumprir a tal função social aqui, se lá a grana vai continuar entrando pesada via catraca? Essa é uma excelente questão. E ter uma posição firme a respeito dela diz muito sobre como você enxerga o mundo. Sem julgamentos e sem donos da verdade, quem vai se propor a algum prejuízo em nome de um enriquecimento intangível? Quem vai pensar no todo de sua torcida primeiro?
Eles é que não serão. Fazer tudo sempre igual vale mesmo a pena? Em 2018, na hora de renovar com a Globo, aquela que entra na casa de quem não pode ir ao estádio, vamos fazer tudo igual outra vez, e sumir do mapa do controle remoto? Olha, eu não sei, é um cenário muito novo e um momento inédito de nosso futebol, e gritar uma opinião em um blog é diferente de agir como um presidente de clube.
Só não vale hipocrisia
Por mim, o Palmeiras viraria um tipo de Dortmund brasileiro, estádio sempre com 100% de ocupação, preços condizentes com a sociedade ao redor, local para ver em pé e para ver sentado, time que vem saudar a torcida na vitória e na derrota, tudo certo, tudo lindo. Na prática, perdemos de 7x1 para o modelo e para a estrutura da bola de lá.
Só o que não pode é defender o lucro econômico exatamente como está sendo e mesmo sem lotação máxima nas partidas, mas, na hora que convém, dizer que "somos mais de quinze milhões de apaixonados". Se o camarada não entra no estádio, que não entre no slogan bonitinho do marketing do clube.
Ou então devo presumir que é tudo uma disputa de fins sem meios, e que todos aqui irão comemorar se amanhã chegar um doidão do Azerbaijão, bilionário, e encher nosso cofre de dinheiro estranho. Irão? Acho que não, pois o desdém foi grande quando o Kia apareceu no time de lá.
Eu também gosto de dinheiro e de timaços. Mas nada a qualquer custo. A missão social dos times de futebol precisa ser discutida em tempos de expansão econômica e abertura pública de contas não pagas no passado, essa pouca vergonha impagável que enriqueceu muito parasita. Se você tem um amigo ou parente que vai, hoje, muito menos ao estádio do que ia antes, pare pra pensar no quanto os cifrões impostos pelo clube negam de alegria a este cara.
Ou entre no fácil discurso que o mercado quer te fazer crer, que o futebol é perigoso e ninguém mais vai ao estádio por causa do risco, da violência. Seja como for, questiono o modelo atual, creio que função social de um time do nosso tamanho vai muito além da questão dos ingressos e não, eu não aplaudo renda.
Endereço do Blog: O Periquitão.
Nota Luis Peres @BahiaClub: Esse texto é perfeito para fazer pensar. Principalmente àqueles 'socialistas Zona Sul' que desconsideram todos os fatores sociais, e imaginam que as pessoas devem deixar de cobrir suas necessidades básicas para sustentar clubes de futebol e seus insaciáveis dirigentes. Aqueles que todo dinheiro do mundo é pouco e nunca dá para nada.
Contrapartida que é bom... Passe amanhã!
Clubes pobres, Dirigentes enriquecendo, reclamando o tempo todo... Se é ruim, por que não larga? Dirigentes enriquecendo, reclamando o tempo todo...
Pobres? São os incautos...