Postado por - Newton Duarte

Torcedor de Ouro: Ricardo do Volei de praia fala do seu jogo inesquecível do Esquadrão

Meu Jogo Inesquecível: Ricardo viu o Bahia bater o recorde da Fonte Nova

Campeão olímpico de vôlei de praia estava entre os 110.438 torcedores que viram o Tricolor eliminar o Fluminense nas semifinais do Brasileirão de 1988

Baiano de nascimento, da capital Salvador, o campeão olímpico Ricardo, do vôlei de praia, mora há mais de 15 anos em João Pessoa, na Paraíba, cidade que escolheu para viver com a família e para treinar. Apaixonado pela capital paraibana, em várias oportunidades já se declarou pessoense de coração. O amor é tão grande que já até encerrou uma parceria vitoriosa com um amigo: Emanuel queria voltar a morar no Rio de Janeiro e Ricardo não aceitava se mudar de João Pessoa. Mas quando fala de futebol, o menino baiano, que com 13 anos tentou ser goleiro, renasce. Com toda a sua fervorosa devoção ao Bahia, o clube onde treinou quando adolescente e do qual ainda hoje é torcedor fanático.

Mesmo morando em João Pessoa há mais de 15 anos, campeão olímpico Ricardo é torcedor do Bahia

"A paixão é familiar", segundo ele mesmo diz. O pai Carlão, por exemplo, foi por muitos anos goleiro do Tricolor baiano. E foi justamente naquela época, quando tentava ser jogador de futebol, que o futuro ídolo das areias vivenciou o mais emocionante dos seus momentos como torcedor. Ainda como goleiro da base do Bahia, foi levado pelo pai ao estádio da Fonte Nova, para assistir a uma semifinal de Campeonato Brasileiro.

O ano era 1989. E o Bahia enfrentaria o Fluminense (assista abaixo) ainda pelo Campeonato Brasileiro do ano anterior. A partida, inclusive, detém até hoje a marca de recorde de público do estádio: 110.438 torcedores (especula-se que outros 30 mil ficaram do lado de fora da Fonte Nova sem ingressos). Uma marca histórica que vai durar para sempre, já que o estádio foi demolido e reconstruído para a Copa do Mundo de 2014 com uma capacidade de público menor.

- Sou torcedor de coração do Bahia. E eu estava no jogo. Lembro-me daquela arquibancada mexendo com a vibração da torcida. Deu um pouquinho de medo e ao mesmo tempo muita emoção.

Essa partida foi demais. Eram mais de 100 mil pessoas no estádio. (...) O mais incrível é que eu posso dizer que vivenciei tudo aquilo"

Ricardo, campeão olímpico de vôlei de praia

O Bahia tinha empatado o primeiro jogo no Rio de Janeiro por 0 a 0, e, por isso, quem ganhasse a partida em Salvador estaria classificado para as finais. O Tricolor carioca saiu na frente, mas depois o Tricolor baiano virou o jogo.

- Essa partida foi demais. Eram mais de 100 mil pessoas no estádio. E eu estava lá, prestigiando esse ano de glória para o meu Tricolor - disse Ricardo, lembrando que naquele ano o Bahia acabaria conquistando o título nacional (na final, a equipe baiana derrotou o Internacional).

O Bahia perdia para o Fluminense por 1 a 0, com o gol marcado pelo atacante Washington logo no início, aos dois minutos do primeiro tempo. Mas o sofrimento de Ricardo e de todos os baianos presentes ao estádio naquele dia durou apenas 18 minutos. Incentivado pela torcida, Bobô subiu sozinho para marcar de cabeça e deixar o placar igual. Os mais de 100 mil torcedores tremeram nas arquibancadas com o empate.

- Lembro o gol de Bobô como se fosse hoje. Ele subiu de cabeça para marcar. Tenho as imagens na minha memória. Mas o que me deixou mais espantado foi com o número de pessoas que estavam na Fonte Nova. Perceber que o esporte pode mover o povo brasileiro com aquela quantidade de gente. E o mais incrível é que eu posso dizer que vivenciei tudo aquilo - falou em tom emocionado.

No intervalo de jogo, as orientações do técnico Sérgio Cosme não surtiram o efeito esperado para o Fluminense. Do outro lado, o Bahia partiu de vez para o ataque. Aos 10 minutos, Gil Sergipano pegou uma sobra ainda dentro da área e virou a partida para o Bahia. A torcida foi ao delírio e, ao fim do jogo, invadiu o gramado da Fonte Nova. Foi o ano em que o Bahia chegou à final e depois conquistou o titulo brasileiro.

Paixão eterna

O quase quarentão Ricardo já participou de quatro Olimpíadas consecutivas e conquistou três medalhas: prata em Sydney (2000) com o paraibano Zé Marco; ouro em Atenas (2004) e bronze em Pequim (2008) com Emanuel.  Em 2012, esteve nos Jogos de Londres, mas não subiu ao pódio com o ex-parceiro Pedro Cunha. Mesmo depois de tanto sucesso no vôlei de praia, Ricardo mantém uma paixão inabalável pelo time do coração.

Ricardo e Emanuel conquistaram medalha de ouro nas Olimpíadas de Atenas

O amor pelo Bahia surgiu cedo, ainda criança. Desde pequeno, a admiração pelo clube apareceu graças à influência e ao apoio de toda a família (pai, tios e avô), que também torce pelo Tricolor. Ricardo relembra inclusive dos tempos em que foi goleiro do time baiano.

- Troquei o futebol pelo vôlei. Mas pude vivenciar um pouco do futebol, inspirado pelo meu pai, que também foi goleiro por muitos anos. Tentei seguir a carreira dele, já que tinha essa referência, mas um primo me apresentou ao vôlei de praia, que virou uma paixão muito mais forte.

Ricardo é tão fanático pelo Bahia que incentivou o filho Pedro Santos, de 17 anos e que também é jogador de vôlei de praia, a torcer pelo clube. O campeão olímpico queria passar para Pedro a alegria que sentia desde criança pelo Tricolor baiano. E conseguiu.

- Ele já torce pelo Bahia. Porque de alguma forma queria passar tudo que eu sentia quando criança. Pedro também é esportista, e isso facilita muito mais. Então a paixão pelo time permanece viva através das gerações.

Ricardo passou para o filho Pedro Santos o amor pelo Bahia

Ainda na adolescência, Ricardo não deixava de frequentar os jogos do Bahia. A casa em que ele morava em Salvador era próxima à Fonte Nova. Adotado pela Paraíba há mais de 15 anos, contudo, Ricardo não frequenta mais os estádios baianos na frequência que gostaria. Mas, mesmo de longe, sempre envia energias positivas para o Tricolor.

- Em cinco minutos de caminhada eu saía de casa e chegava ao estádio. Em quase todo jogo do Bahia eu estava presente. Hoje é diferente. Mas mesmo quando não vou ao estádio, acompanho os jogos de longe, pela TV. Fico na torcida tentando mandar um pensamento positivo para esse time que sempre foi do meu coração - finalizou.


Bahia 2 x 1 Fluminense


Competição:Campeonato Brasileiro de 1988 - Semifinal. 

Data: 12 de fevereiro de 1989.

Local:Estádio da Fonte Nova, em Salvador.  

Público:110.438. 

Arbitragem:Dulcídio Vanderlei Boschilia.

Cartões:Paulo Robson, Gil Sergipano e Paulo Rodrigues (Bahia). Donizete Oliveira (Fluminense).

Gols:Washington, aos dois minutos do 1º tempo e Bobô aos 20 minutos do 1º tempo; e Gil Sergipano, aos 10 minutos do 2º tempo. 

Bahia: Ronaldo, Claudir, Newmar, Paulo Robson e Tärantino; Gil Sergipano, Paulo Rodrigues, Bobô e Zé Carlos; Marquinhos e Charles.

Técnico:Evaristo de Macedo 

Fluminense: Ricardo Pinto, Edson Mariano, Edinho, Carlos André e Eduardo; Jandir, Donizete Oliveira, Romerito (Zé Maria) e Paulinho Anderolli; Washington e Cacau (Sílvio).

Técnico:Sérgio Cosme 


Fonte: Phelipe Caldas e Lucas Barros – GE.COM

Foto: Lucas Barros / Globoesporte.com/PB e Divulgação