A torcida do Liverpool ergueu a voz para dizer que estádio de futebol não é teatro
Cada vez mais as arquibancadas dos estádios deixam de ser arquibancadas. A transformação do futebol voltado aos interesses comerciais tenta torná-las plateias de teatro. As arenas buscam vender o jogo como um espetáculo, para lucrar ainda mais sobre ele. E, nesse processo, o torcedor fica para trás, tratado como consumidor. Algo que a maioria daqueles apaixonados por futebol não quer ser, principalmente aqueles que frequentam os estádios todas as semanas. A briga intensa “contra o futebol moderno”, que foi encampada pela torcida do Liverpool neste sábado, no empate por 0 a 0 com o Hull City.
“Torcedores, não consumidores”, era a faixa mais emblemática levada pelos Reds. Eles se manifestavam contra os altos valores cobrados pelo próprio clube por um lugar em Anfield. “Nós fizemos isso como um protesto contra os preços dos ingressos. Há um descontentamento crescente. Muitas pessoas simplesmente não se podem mais dar ao luxo de ir aos jogos. Gente com poucas responsabilidades financeiras está vendo que não pode mais justificar o gasto de £50. Há muito mais com o que se gastar e as pessoas estão cortando isso”, afirma Jay McKenna, chefe do grupo de torcedores ‘Spirit of Shankly’.
Entre as outras faixas erguidas em Anfield estavam frases como “Futebol não é nada sem torcedores” e “Crianças pagam os preços de adultos”. Um estudo recente mostrou que os preços dos ingressos na Inglaterra se valorizaram três vezes mais do que a inflação no país durante os últimos anos. E esse aumento veio mesmo com os clubes triplicando o faturamento com direitos de transmissão, de £ 1,7 bilhão para £ 5.5 bilhões desde o último ano.
Os movimentos na Premier League são crescentes. Em agosto, torcedores fizeram passeatas nas ruas de Londres para reclamar do preço das entradas. Obviamente, quem frequenta os estádios quer conforto, mas não a ponto de tornar o ingresso um artigo de luxo. Por mais que os estádios continuem lotados mesmo com valores tão altos, as arquibancadas precisam ser fonte de apoio, não de lucro. Afinal, o futebol ainda é feito para os torcedores. E a função deles, mais do que estar lá para consumir o espetáculo pelo qual pagaram caro, é fazer parte dele apoiando incondicionalmente.
