Um presente que não pode estragar o futuro
Charles Fabian mostra personalidade a cada entrevista. Fala o que muitos treinadores, pisando em ovos, se recusam a falar. Foge das explicações excessivamente técnicas, mas deixa claro suas ideias e convicções de jogo. Contra o Goiás, ajudou a tirar o Bahia de um jejum quase interminável no Campeonato Brasileiro e resgatou a pequena confiança do torcedor tricolor. Os ingredientes ajudam a criar um cenário de euforia sobre o trabalho do técnico interino do Esquadrão, mas devem ser analisados de maneira muito cautelosa.
A opinião pode causar polêmica, mas é baseada em tudo o que já aconteceu na história do futebol da Bahia e de como os clubes baianos são geridos. Charles tem potencial para ser técnico do Bahia, mas não agora. Falta de experiência? Talvez. O motivo principal é a falta de paciência.
Três jogos sem perder e dois triunfos consecutivos transformaram Charles, antes um desacreditado auxiliar técnico, num treinador que pode resolver os problemas do Bahia. Futebol é resultado, mas os resultados positivos só se tornam perenes com planejamento, organização e controle. Colocar Charles numa situação tão complicada é queimar etapas na carreira de um profissional que precisa ainda ser melhor lapidado. A convivência no dia a dia do departamento técnico o fará amadurecer, tirar lições positivas dos trabalhos de técnicos mais experientes e, sobretudo, lhe dará ainda mais confiança para começar um trabalho sem pressão e responsabilidade de oferecer resultados em curto prazo, como o Campeonato Brasileiro tem exigido do Bahia.
Mas essa não seria a hora dele realmente mostrar que pode ser técnico do Bahia? Sim, seria. E mostrou que pode. O clube agora tem um profissional que sabe que pode confiar. Os jogadores perceberam que no Fazendão tem um cara que não irá decepcionar quando o clube precisar dele. E é justamente por ter mostrado qualidade que o Bahia deve investir no treinador. Qualificá-lo para ser o comandante do time a partir de uma pré-temporada. Bons resultados só virão com um trabalho bem feito.
A arquibancada que idolatra é a mesma que joga na fogueira. Alguns microfones que exaltam também são os mesmos que pedem a cabeça. Um profissional como Charles já mostrou que é bom. E se é bom, é preciso paciência e investimento em longo prazo.
Fonte: Elton Serra – Blog #DataSerra
Foto: Reprodução
