Uma chance à moralidade
Bristol (EUA) – O mundo do futebol começa o ano de 2015 com a promessa de que muito em breve – mais especificamente, a partir de 1 de maio – estará proibida a prática de investidores se associarem a clubes nos direitos federativos de jogadores.
É o que a FIFA anuncia.
Os tais investidores externos são conhecidos como TPO, ou Third Party Owners, na Europa. São os “terceiros”.
Um dos mais conhecidos é o português Jorge Mendes, que é ao mesmo tempo agente de jogadores (e de técnicos como José Mourinho e Luiz Felipe Scolari) e investidor em jogadores dos quais é agente. Há muitas vezes clubes europeus, especialmente de Portugal, que também são investidores externos em jogadores sul-americanos, como brasileiros, argentinos, colombianos e uruguaios.
O futebol brasileiro, levado à quase insolvência, depois da lei Pelé, pela incompetência de seus cartolas, há muitos anos vive dominado por tais investidores.
Um caso notório foi o de Neymar, num escândalo em que até hoje ninguém sabe ao certo quanto dinheiro saiu dos cofres do Barcelona para obter o jogador, mas que custou ao seu então presidente o cargo e acarretou-lhe um processo judicial.
O que se sabe com razoável certeza é que mais de 40 por cento do preço de Neymar não foi parar na caixa do Santos. Sabe-se também que Neymar já era jogador do Barcelona quando vestia a camisa do Santos na decisão do Mundial de Clubes, contra o time espanhol, e teve um desempenho pífio.
Uma firma de propriedade do pai de Neymar esteve envolvida na nebulosa transação.
Outra firma conhecida no ramo era ou é a Traffic, fundada por um ex-repórter de campo.
Se tais investimentos fossem bons para o futebol brasileiro, era de se supor que nossos clubes estivessem financeiramente saudáveis.
Ao contrário, estão quebrados.
Segundo a FIFA, clubes brasileiros venderam jogadores ao mercado internacional entre janeiro de 2011 e junho de 2014 por um total de 579 milhões de dólares.
Mas mesmo assim os clubes brasileiros precisam recorrer à Bancada da Bola para terem suas dívidas com o governo perdoadas ou parceladas a perder de vista.
O dinheiro do futebol está desaparecendo nas mãos dos tais “terceiros”. Cerca de 90 por cento de jogadores em atividade no Brasil pertencem em parte aos investidores.
A FIFA anunciou o dia 1 de maio como data limite e disse que qualquer contrato assinado em decorrência de uma transação na atual janela de transferências na Europa valerá no máximo por uma temporada.
É uma chance à moralidade. Mas será para valer mesmo?