Postado por - Newton Duarte

Uma hora e meia com 90.000 minutos

Tensão, união e alívio: os 90 minutos de Marquinhos Santos no Ba-Vi


Ameaçado de demissão, treinador vive momentos distintos no clássico disputado em Pituaçu e tem reações acompanhadas de perto



Noventa minutos de muita tensão. Assim foi o Ba-Vi do último domingo para Marquinhos Santos, que estava com o cargo ameaçado e precisava de um bom resultado para permanecer no Bahia. Da entrada no gramado até o apito final do clássico, o treinador permaneceu com o semblante fechado. A concentração estava estampada em cada gesto, um repertório de movimentos que mais parecia uma coreografia não ensaiada. Assovios acompanhavam uma das mãos levantadas. Os gritos vinham um pouco antes do técnico apontar para um dos lados do campo. Olhar para o relógio, limpar a boca e colocar os braços na cintura foram ações repetidas várias vezes. Reflexo da aflição de quem sabia que não podia perder de jeito nenhum.

Marquinhos Santos protagonizou uma coreografia não ensaiada na beira do campo

Marquinhos Santos até tentou, mas não conseguiu evitar o assédio dos repórteres na entrada do gramado. Falou tranquilamente sobre as expectativas pelo resultado do clássico, mas desviou das perguntas que estavam relacionadas a ameaça de demissão. Entre uma entrevista e outra, chegou até o banco de reservas, onde conferiu o cronometro e pediu para que todos os jogadores e membros da delegação se abraçassem para uma oração.

Assim que a bola rolou, o treinador assumiu todo o nervosismo provocado pela situação delicada. No momento em que o árbitro Arilson Bispo da Anunciação apitou o início da partida, Marquinhos Santos levantou e caminhou rapidamente até o limite da área técnica, onde ficou durante praticamente toda a partida. Gritou para corrigir o posicionamento dos volantes, tentou chamar a atenção de Marcão e bateu palmas para parabenizar o árbitro em marcação de falta para o Bahia. Quando a chuva apertou em Pituaçu, um auxiliar levantou do banco de reservas e tentou passar uma capa para o treinador. A proteção, no entanto, foi prontamente recusada pelo técnico, como se fosse um recado: quem está na chuva é para se molhar.

Treinador rejeitou a capa de chuva oferecida por um auxiliar

Marquinhos tinha preparado o time para tentar conter o poder ofensivo do Vitória. Durante a semana, o técnico havia dito que não iria para o Ba-Vi ‘de peito aberto’ e escalou três volantes para fechar o meio de campo. O gol rubro-negro, no entanto, acabou com os planos do treinador. Enquanto os jogadores comandados por Ney Franco comemoravam, Marquinhos parecia incrédulo na beira do gramado.

Após o baque, a ‘coreografia’ gestual voltou a ser realizada. Olhares para o relógio, mão na boca e braços na cintura seguidos por assovios, gritos, palmas e também reclamações. O quarto árbitro da partida se tornou um confidente de Marquinhos. A todo momento o técnico reclamava de algo. A única vez que o treinador tricolor se dirigiu até o banco de reservas foi para pegar uma prancheta, rabiscar algo, mostrar para o auxiliar e lodo depois voltar à rotina agitada no limite da área técnica.

Marquinhos Santos passou instruções para Talisca durante o jogo

No segundo tempo do clássico, Marquinhos decidiu arriscar. Com a permanência no cargo ameaçada, o treinador decidiu partir para o tudo ou nada, tirou um dos volantes da partida e colocou o meia Wangler para tentar aumentar o poder ofensivo da equipe. A substituição deu resultado. O Bahia passou a atacar mais e chegou ao empate com gol de Fahel. Na comemoração, o volante correu em direção ao banco de reservas para apoiar o treinador. Marquinhos Santos, contudo, estava ocupado. Após uma vibração contida, o treinador se virou para os jogadores que estavam em campo e gritou um misto de cobranças e incentivos.

- Vai, vai, vai. Vamos que dá para fazer mais um – falava o treinador, confiante que um resultado melhor que o empate era possível.

Os minutos que antes pareciam durar séculos para passar, começaram a correr rápido demais. Marquinhos Santos chamou Talisca, conversou com o jogador, parou para ver um lance e, em seguida, mandou o jogador para o campo. A jovem promessa entrou em campo no lugar de Maxi Biancucchi. Na saída de campo, o argentino caminhou até a área técnica, cumprimentou o treinador e sentou entre os reservas.

A tensão só fez aumentar nos instantes finais da partida. Impaciente, Marquinhos olhava para o relógio e depois concentrava todas as atenções no campo, em busca de um lance que pudesse garantir o triunfo. Com o apito final, o técnico caminhou até o gramado, falou com Ney Franco, de quem é amigo pessoal, e também com Ayrton, lateral com quem trabalhou nos tempos de Coritiba. Na coletiva, a confissão de que o peso da ameaça de demissão havia se dissipado.

- Continuo dormindo pouco. Mas vim tranquilo para o Ba-Vi. Gosto de clássico. É bom de se jogar. Eu não me escondo. Minha última noite foi tranquila. E acho que as próximas também serão. Vou poder relaxar um pouco - avaliou o treinador.

Marquinhos Santos foi alvo dos repórteres após a partida

Após falar com os repórteres, Marquinhos Santos deixou o estádio. Em Pituaçu, ele superou os 90 minutos de tensão do Ba-Vi e conseguiu se manter no cargo. O técnico, no entanto, sabe que é preciso mais. Na próxima vez em que estiver em campo, ele voltará a estar sob o crivo da torcida e mais uma vez será testado para mostrar que, no final das contas, é um sobrevivente.


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Fonte: Thiago Pereira - GE.COM

Foto: Thiago Pereira - GE.COM