Postado por - Newton Duarte

Uma retrospectiva do ano do Esquadrão

Roda gigante tricolor: Bahia vai do céu ao inferno e tem fim de ano doloroso

Tricolor inicia temporada com futebol vistoso, título baiano e vice do Nordestão. Feitos são ofuscados por fim de ano melancólico, com apatia e permanência na Série B

Eleições diretas, presidente escolhido democraticamente, treinador de filosofia ofensiva. Time encaixado, futebol vistoso, um título e um vice-campeonato em menos de seis meses. O banquinho da roda gigante tricolor atinge o ponto máximo. Queda de rendimento, derrota acachapante no clássico, titulares no banco de reservas. Campanha irregular, contratações equivocadas, técnico demitido e derrocada em reta final de campeonato. O banquinho agora chega tão baixo que é possível tocar o solo com os pés. Assim foi o 2015 do Bahia: uma roda gigante, um sobe e desce danado, uma gangorra, uma verdadeira montanha russa de emoções. Os sorrisos que desabrocharam nos rostos tricolores com as belas campanhas no Campeonato Baiano e na Copa do Nordeste se desmancharam feito castelo de areia com a dor de permanecer por mais um ano longe da elite do futebol brasileiro. 

É chegada a hora, então, de relembrar os momentos marcantes de uma temporada que termina de forma melancólica para o Bahia. Tem o presidente Marcelo Sant’Ana, que foi de herói a vilão em poucos meses; a corda que apertou nos pescoços do técnico Sérgio Soares e do diretor de futebol Alexandre Faria; o elenco que ruiu à pressão na hora “H”; o artilheiro que entregou a alma, mas não conseguiu salvar o ano do Tricolor. Confira agora a retrospectiva 2015 do Bahia.

Marcelo Sant'Ana foi eleito em dezembro com slogan voltado para o futebol; ficou na promessa (Foto: Divulgação / EC Bahia)

MARCELO SANT’ANA: A VEZ DO FUTEBOL?

A temporada de 2015 do Bahia começou em dezembro do ano anterior, quando Marcelo Sant’Ana foi o primeiro presidente eleito democraticamente para um mandato de três anos da história do Bahia. Sob sua gestão, avanços significativos na parte administrativa, sobretudo no departamento financeiro do clube. Só que o futebol, que era o seu slogan de campanha, deixou a desejar. É verdade que o Tricolor conquistou um título no primeiro semestre, mas a promessa de levar o clube de volta à Série A do Campeonato Brasileiro, o principal objetivo do ano, ficou só no discurso.

SÉRGIO SOARES, O XERIFÃO OFENSIVO

Sérgio Soares não conseguiu fechar a temporada no Bahia (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)

Quando eleito, Marcelo Sant’Ana descreveu o perfil de profissional que desejava para comandar o Bahia: um treinador da nova safra, com ideias novas, que trabalhasse com a base e de filosofia ofensiva. Definições que se encaixam no perfil de Sérgio Soares, anunciado pelo clube no dia 22 de dezembro de 2014. O início do trabalho à frente do Tricolor foi bastante elogiado, pois o time encontrou um estilo de jogo de posse de bola e ofensividade, como queria o treinador. O ponto alto veio com a conquista do Estadual e o vice-campeonato da Copa do Nordeste. 

Veio o segundo semestre, e o trabalho começou a desandar. A goleada sofrida para o rival Vitória ainda no início da Série B expôs as fragilidades de uma equipe que sofria para marcar adversários mais velozes. A campanha irregular do Bahia, de muitos empates e poucas vitórias fora de casa, deixou o trabalho de Soares cada vez mais em xeque. A situação ficou ainda mais delicada após novo revés no Ba-Vi, desta vez no segundo turno, e se tornou insustentável depois do empate diante do Paysandu, quando Sérgio Soares foi demitido, no dia seis de outubro. 

Sérgio Soares comandou o Bahia em 62 jogos, entre Série B, Copa Sul-Americana, Copa do Nordeste e Campeonato Baiano. Foram 29 triunfos, 20 empates e 13 derrotas, aproveitamento de 57%. Com o técnico à frente do time, foram marcados 100 gols, com 66 sofridos.

BAHIA, CAMPEÃO BAIANO E VICE DO NORDESTÃO

Com time e técnico novos, o Bahia foi adquirindo entrosamento nos primeiros meses de 2015. E quando a equipe pegou liga, o que se viu foi um time avassalador, capaz de golear adversários marcando quatro, cinco, seis gols. O resultado: o Tricolor sobrou no Campeonato Baiano. O momento de maior adversidade aconteceu no primeiro jogo da final, quando a equipe de Sérgio Soares perdeu para o Vitória da Conquista, então invicto na competição, por 3 a 0. Precisava devolver o mesmo placar para levantar a taça. Fez mais que isso. Com o apoio da torcida, o Bahia goleou o Vitória da Conquista por incríveis 6 a 0, sagrando-se assim campeão estadual pela 46ª vez na história. 

Alguns dias antes do conquistar o título baiano, o Tricolor havia perdido a chance de faturar a Copa do Nordeste. Depois de perder em casa para o Ceará por 1 a 0, com direito a um frangaço do jovem goleiro Jean, os baianos perderam novamente, desta vez no Castelão, pelo placar de 2 a 1. O torcedor do Bahia não vai esquecer, no entanto, a virada épica contra o Sport na semifinal da competição, com direito a atuação de gala do volante Souza, que marcou todos os gols da equipe no jogo que terminou em 3 a 2.

SÉRIE B DE ALTOS E BAIXOS

Fechar o primeiro semestre em alta, com um título e um vice, fez com que muita gente acreditasse que o Bahia iria sobrar na Série B. A confiança foi abalada no momento em que a equipe foi anulada e goleada por 4 a 1 pelo rival Vitória, ainda no primeiro turno. E o que se viu durante toda a competição foi um time de campanha irregular, com dificuldades para vencer fora de casa e também para bater de frente com os adversários diretos – dos times que brigaram pelo G-4 ao longo do campeonato, o Tricolor só conseguiu vencer o Paysandu, na Arena Fonte Nova. Empatar demais também foi um grande problema para o time: foram 13 no total. 

RENOVAÇÃO DE KIEZA

Apesar do esforço, Kieza não conseguiu devolver o Bahia à Série A (Foto: Romildo de Jesus / Estadão Contéudo)

Os tricolores tiveram motivos de sobra para comemorar no dia sete de julho. Além do triunfo por 2 a 0 sobre o Paysandu, logo após a derrota no Ba-Vi, o então diretor de futebol, Alexandre Faria, anunciou a permanência de Kieza por mais cinco meses. O atacante, principal jogador do Bahia na temporada, é vinculado ao Shanghai Shenxin, clube da China. O esforço da diretoria mostrou-se válido, na medida em que o artilheiro chamou a responsabilidade para si e fez tudo o que pôde para manter o Tricolor vivo na disputa pelo acesso - Kieza terminou a temporada como o vice-artilheiro do país no ano, com 29 gols marcados. 

CAI SÉRGIO SOARES

Sérgio Soares não resistiu à sequência de cinco jogos sem triunfos na Série B. Ele foi demitido no dia seis de outubro, logo após o empate diante do Paysandu – no jogo, o Bahia não conseguiu aproveitar a expulsão de Pikachu no início do segundo tempo e mal chutou a gol. O que chamou a atenção, no entanto, foi que, no jogo anterior, contra o Vitória, o presidente Marcelo Sant’Ana havia garantido a continuidade do treinador no comando do clube. 

CHARLES FABIAN E A DERROCADA FINAL

A oito rodadas do fim da Série B, Charles Fabian recebeu a missão de assumir a equipe e reconduzir o Bahia à elite do futebol brasileiro. Por conhecer o elenco, havia quase um consenso de que ele era o melhor nome para aquele momento. O começo até que foi promissor. Sem mostrar grande evolução, mas com muita raça, o Bahia venceu Oeste e Criciúma e marcou posição no G-4. Chegava então a sequência que poderia definir o acesso: Santa Cruz e ABC em casa, Boa Esporte fora. Contra os pernambucanos, rivais diretos, derrota de virada por 2 a 1 diante de mais de 30 mil torcedores. Na partida seguinte, empate com o quase rebaixado ABC: 2 a 2. O sonho de disputar a Série A foi jogado de vez para o ralo quando o Tricolor foi derrotado pelo já rebaixado Boa Esporte de maneira vergonhosa, por 3 a 0.

Charles comandou o Bahia em seis partidas (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia/Divulgação)

SALDO DO FRACASSO: DEMISSÃO E FÉRIAS

O final de temporada vergonhoso do Bahia provocou mudanças quase que imediatas. Em entrevista coletiva, o presidente Marcelo Sant’Ana anunciou a demissão de Alexandre Faria, diretor de futebol, e que Charles entraria de férias – o destino do ex-jogador, campeão brasileiro pelo clube em 1988, ainda é incerto. Além dele, 19 atletas receberam férias antecipadas, entre eles Souza, Roger e Maxi Biancucchi, e o Bahia entrou em campo nos últimos jogos da Série B com um time formado por jogadores da base e outros que não tiveram tantas oportunidades ao longo da temporada.