Dos portões para os ringues: porteiro do Bahia é campeão baiano de boxe
Edson Brito, o Louro Demolidor, detém o cinturão dos meio-pesados desde o ano passado. Sem apoio financeiro, atleta tem dificuldades para treinar
Quando o dia amanhece, Edson Brito já está de pé. Precisa sair cedo de casa rumo ao batente. Dia sim, dia não, é ele o responsável por regular entrada e saída no Centro de Treinamentos Osório Villas-Boas. Quem entra e quem, muitas vezes, é barrado no Fazendão precisa passar pela autorização dele. Jogadores, dirigentes e profissionais do Bahia passam constantemente pelo porteiro. Têm a impressão de que ali está um sujeito rigoroso e disciplinado. Um cumpridor da função com o maior rigor possível. Mas também que sabe brincar e descontrair. Só que ninguém imagina o que Edson Brito faz quando tira o uniforme de trabalho.
Nos dias em que não vai ao Fazendão, Edson Brito também precisa acordar cedo e manter a disciplina. Mas não usa muito o nome de batismo. Ele se transforma em Louro Demolidor, atleta que, aos 43 anos, é campeão baiano de boxe na categoria meio-pesado desde o ano passado.
- Defendi o cinturão quatro vezes. Ganhei as quatro por nocaute – gaba-se.
- Aquele porteiro é boxeador? Ele é todo fechado e durão. Agora já vou tomar cuidado – brinca um funcionário do clube ao saber da atividade de Edson Brito.
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Edson não é um simples boxeador. Ele tem o boxe nas veias. Sobe nos ringues desde os nove anos. O corner é um ambiente tão conhecido quanto seu quarto. Vontade e determinação não faltaram. O mesmo não se pode dizer de estrutura e apoio.
Apesar do apelido de 'Demolidor', Louro nunca conseguiu um apoio forte. Sempre precisou trabalhar para se manter no esporte e foi segurança durante toda a vida. Está no Bahia há três meses. Desde então, tem treinado somente nos dias em que não vai ao Fazendão.
- Como diz o ditado: 'dou meus pulos'. Tento treinar e trabalhar para me manter. Treino três vezes na semana. Alterno dias de treino com o trabalho. Com esse sistema, não dá para dizer 'Estou bem'. Mas eu tento fazer o meu melhor – diz.
Edson Brito trabalha em esquema de plantão na portaria do Fazendão
Sem qualquer tipo de patrocínio, Edson vê, cumprimenta e brinca com atletas que têm grandes salários e uma estrutura invejável. Mas nunca pôde utilizar sequer os serviços do departamento médico do clube. Na verdade, prefere não pedir apoio ao clube para o qual trabalha.
- Estou aqui no Bahia, mas nunca falei nada. O Bahia é um time de futebol. Acho que não tem tanta intenção de entrar em outro ramo. Eu concordo plenamente com o Bahia nessa parte. Para mim, já está sendo um apoio de poder trabalhar aqui – opina.
Ando com o cinturão a fim de, a qualquer tempo, conhecer alguém que possa me ajudar" Louro Demolidor |
Cinturão em jogo e torcida à parte
Louro conquistou o cinturão do meio-pesado baiano em abril do ano passado. Não foi derrotado nas quatro lutas em que fez depois. Foram poucas as vezes em que deixou o ringue cabisbaixo. A derrota mais dolorida aconteceu quando pensava em disputar o título brasileiro.
- Sobre a luta que eu perdi, não considero nem conversar. É uma situação lamentável. A disputa favorecia a mim, e a vitória foi dada, por pontos, ao meu adversário. A luta foi contra Ricardo Neri. Foi uma luta que fizemos para ver quem iria disputar o Campeonato Brasileiro em São Paulo. Ele ganhou e foi para a disputa – diz com ar de consternado.
A derrota aconteceu antes mesmo de levantar o cinturão pela primeira vez. Desde então, mantém o objeto como um troféu: leva a todos os lugares onde vai. E não teme colocá-lo à prova novamente.
- Ando com ele a fim de, a qualquer tempo, conhecer alguém que possa me ajudar. Eu gosto de lutar. Gosto do desafio. Quem quiser chegar para lutar, é só me procurar. Eu coloco o cinturão em jogo – promete.
Edson Brito ou Louro Demolidor, a depender de onde estiver, gosta de comentar seus feitos. O cinturão é seu objeto mais precioso. Quando está com ele, transforma-se. Ao falar do boxe, o sorriso se torna marca constante no rosto. A derrota para Ricardo Neri é um dos únicos temas do qual não gosta de falar. O outro é o time do coração.
- Isso aí pertence ao pensamento (risos). A gente não pode especificar sobre isso (risos). O Bahia é um bom time – despista o funcionário do Tricolor.
Edson Brito, o Louro, desafio os lutadores baianos e coloca o cinturão na disputa
Fonte e Fotos: Raphael Carneiro – GE.COM