William: "Temos que findar a fama de caloteiro"
William, ex-zagueiro do Corinthians, quer dar mais credibilidade ao clube no mercado.
Sete meses depois de recusar oferta do Bahia, na época presidido por Marcelo Guimarães Filho, o ex-jogador William assume a diretoria de futebol do clube, agora sob nova direção. Em entrevista, o dirigente - formado em ciências contábeis - destaca que sua filosofia é compatível com a da atual diretoria tricolor e afirma que o Bahia não vinha sendo bem gerido antes.
Zagueiro e capitão do Corinthians na conquista da Copa do Brasil de 2009, William teve uma única experiência anterior como gestor. Foi justamente no Timão, em 2011. Agora, encara uma realidade diferente e se vê na obrigação de montar um time competitivo com orçamento menor - cerca de R$ 65 milhões por ano -, sem deixar os salários atrasarem.
"Ele tem ciência total de tudo isso. É cuidadoso com o orçamento e se adequa à ideia de não querer contratar um caminhão de jogadores", diz o assessor especial do Esquadrão, Sidônio Palmeira.
Depois da rápida experiência no Corinthians, como você vê essa sua nova empreitada no Bahia?
Vejo como uma grande oportunidade. Essa nova diretoria do Bahia tem uma filosofia que combina muito com o que eu penso do futebol, com o que eu aprendi durante meus 20 anos de carreira de jogador. Calculo que, de 10 campeonatos, oito são vencidos por clubes que trabalham da maneira correta. Sou muito pragmático em relação a isso e as pessoas do clube também pensam assim.
Você fala em relação à necessidade de trabalhar com um baixo orçamento e, mesmo assim, não contrair dívidas?
Sim. Num primeiro momento teremos que trabalhar com um orçamento menor em relação a outras grandes equipes do Brasil. Mas temos aí exemplos de clubes, até com torcida e orçamento menores do que os do Bahia, que conseguiram fazer boas campanhas neste Brasileiro, como Atlético-PR e Goiás. É preciso trabalhar com princípios básicos, como pagar os salários em dia. Essa é a filosofia que temos de adotar: a do fair play financeiro. Quando o jogador tem a certeza de que vai receber, isso ajuda, até mesmo nas negociações. Quando o clube tem fama de honrar seus compromissos, você consegue negociar com o atleta um salário razoável. Agora, se o clube tem fama de caloteiro, ele já pede muito mais. Isso dá prejuízo.
Em maio deste ano você chegou a negociar sua vinda para o Bahia, ainda administrado pela gestão anterior, mas desistiu, alegando diferenças de pensamento. A situação mudou?
O Bahia é um grande clube, mas há tempos não vinha sendo gerido de forma condizente com a sua grandeza. O Bahia tem de estar em todo Campeonato Brasileiro no mínimo entre os 10 primeiros. Caso isso volte a acontecer, o clube vai recuperar o respeito. Agora, com a nova diretoria, a situação do clube é outra. O torcedor já voltou a sentir a grandeza do Bahia na demonstração democrática que viu neste ano (refere-se à primeira eleição com participação direta dos sócios da história da agremiação, em 7 de setembro). E, com o nosso trabalho, vai sentir muito mais.
Após deixar o Corinthians, no início de 2011, você não trabalhou mais com futebol. Estava se especializando?
Só você ser ex-jogador não basta para trabalhar como profissional do futebol fora do campo. Vejo com bons olhos os atletas quererem ocupar mais espaço na organização do esporte, mas, para isso, é preciso adquirir conhecimento. Por exemplo, aqui na América do Sul somos os únicos que falam português. Assim, você tem de, no mínimo, arranhar o 'portunhol'. E o inglês também é fundamental, já que o mercado brasileiro é muito visado na Europa. No meu caso, parei pra estudar, me capacitar. Porém, não visando o trabalho no futebol. Pensei no lado pessoal e também em um trabalho futuro na área financeira. No entanto, nunca abandonei a ideia de voltar a trabalhar no futebol e trago conceitos que vi fora do país e pretendo disseminar no Brasil. Quero ver as equipes brasileiras mais fortes.
O que você fez nesse tempo?
Estudei inglês durante nove meses e visitei clubes no exterior. Fui ao Milan e ao Liverpool e, lá, pude conversar com dirigentes, ver organogramas... Enfim, pude conferir o funcionamento da parte organizacional desses clubes. Constatei que o Milan faz um trabalho muito interessante nas divisões de base e isso tem que ser trazido para o Brasil. Nosso país sempre foi um celeiro de grandes talentos, mas vem revelando cada vez menos nos últimos 15 anos.
O que pretende trazer de novidades para a base tricolor?
Tenho que chegar primeiro e ver como tudo está funcionando agora. Eu tenho conceitos, mas preciso identificar a situação atual, trocar ideias. Não sou o dono da verdade. Agora, posso dizer que a base é prioridade, ainda mais neste momento em que, depois do racha do Clube dos 13, a diferença de orçamento entre os clubes cresceu muito. A única forma de quebrar essa condição é formar os próprios talentos, afinal, não iremos estourar o orçamento do clube. Vamos trabalhar arduamente para isso.
E quanto à questão dos seus contatos no futebol? Perdeu alguma coisa nesse período em que ficou afastado?
Felizmente, eu tenho muitos amigos no futebol. E outra coisa: a pessoa pode até não gostar de mim, mas, em relação à minha honestidade e retidão, ninguém tem o que falar. Foi desta forma que construí toda a minha carreira e é uma coisa que trago de dentro, de família. Meu pai me ensinou: a palavra vale mais do que a assinatura. Esse comportamento abre portas no mercado. Muitas pessoas vinham até mim e diziam que eu teria de voltar para o meio, pois seria bom para o futebol. Bom... agora tenho esta oportunidade e estou motivado.
Seu nome é ventilado no clube já há algum tempo. E tinha mais força ainda pelo fato de você ser amigo do vice-presidente Valton Pessoa.
Na verdade, o pessoal me ligou ontem. Eu passei um tempo em Londres e, de lá, vi que meu nome vinha sendo cogitado pra assumir a direção de futebol do Bahia, mas não tinha nada. Sobre Valton, sou amigo de um primo dele. Conto na mão quantas vezes encontrei com Valton, com quem não tenho uma relação tão próxima, mas sei de sua história de idoneidade. Ele sabe que sou um cara duro. Primeiro vem a competência, depois a amizade. Não tem essa coisa de que Valton é meu amigo. Ele buscou informações a respeito do meu trabalho e, por isso, fui contratado. Tanto é verdade que não havia nada certo até ontem que eu tinha uma passagem comprada para a África. De lá, iria para Ásia e Oceania. Tinha a pretensão de estudar educação física e psicologia, mas vou desmarcar tudo. Diante da chance de trabalhar no Bahia, deixo a viagem pra depois.
Você esteve reunido com a diretoria do clube na manhã de terça-feira já para tratar da composição do elenco. Acha que será preciso fazer uma reformulação geral?
Não. O Bahia tem uma base. Não existe isso de trocar todo mundo. Agora, é claro que teremos de reforçar o time em algumas posições, pois não dá pra ficar brigando contra o rebaixamento todo ano. Mas faremos tudo com muita calma, critério e respeitando o orçamento. O que temos de fazer é acabar com a fama de caloteiro. Se perdermos um jogador ou outro, será para não estourar o orçamento. E só iremos trazer atletas que tenham prazer em defender as cores do Bahia, não aqueles que colocarem o time como última opção.
E o novo técnico? Nomes da nova geração pululam, como Guto Ferreira, Marquinhos Santos e Claudinei Oliveira. Vocês irão por esse caminho?
É muito importante frisar que não temos problema com idade. Às vezes, um cara mais velho tem a cabeça super atualizada e um mais novo pode estar ultrapassado. O que precisamos é de um treinador que esteja acompanhando a transformação mundial do futebol. Não poderemos trazer ninguém de vanguarda, então, que pelo menos seja alguém que esteja acompanhando as mudanças pelo mundo.
Clube segue em busca do novo treinador
Após anunciar a vinda do gestor William, ainda sem data oficial de apresentação, o Bahia corre atrás do novo treinador. Na terça-feira, 10, surgiram os nomes de Marquinhos Santos, ex-Coritiba, e Guto Ferreira, da Portuguesa, mas a diretoria não confirma negociar com nenhum deles. Quanto a reforços, pode pintar troca entre o goleiro Omar, que manifestou o desejo de sair do Bahia para ter chance em outro time, e o volante Fellipe Bastos, do Vasco. O meia Pedro Ken – que vinha atuando no Cruzmaltino, mas pertence ao Cruzeiro – interessa.
Nota UTB – Sinceramente desejo a melhor sorte do mundo para William.
Creio que ele já acertou com a frase título da matéria. Ela deveria ser repetida 1000000 pelo MKT todos os dias. Essa seria a principal ação institucional do clube. Refazer sua imagem.
Distribuir ingressos não é MKT. Com o devido perdão de quem assim pensa. Apenas cria parasitas inúteis orbitando a administração. Os mesmos que vão detoná-la após algum tempo, bastando apenas ser contrariados.
Se é inexperiente, não deve ter tantos vícios. No futebol, não há quem não os tenha. Teria que começar em algum lugar. Que seja aqui... E dê certo!! Eu contrataria também.
Luis Peres – (Falando por si)
Fonte: Daniel Dórea – A Tarde
Foto: Alan Morici | Futura Press