Na tarde desta sexta-feira (30), o meia Zé Rafael concedeu sua última entrevista coletiva como jogador do Bahia, na Arena Fonte Nova. Após duas temporadas na equipe, o meia se transformou em um dos principais jogadores do elenco e, após ficar conhecido nacionalmente, foi negociado com o Palmeiras nesta quinta-feira (29). Maior transferência da história do Bahia, que rendeu R$ 14,5 milhões aos cofres do clube, o jogador recebeu uma despedida especial do clube, que contou com camisa comemorativa. Zé Rafael irá fazer sua última partida pelo Bahia neste domingo (2), contra o Cruzeiro, em Pituaçu.
Zé Rafael conquistou dois títulos com a camisa do Bahia: a Copa do Nordeste de 2017 e o Campeonato Baiano de 2018. Em 127 jogos, o meia marcou 18 gols e deu 12 assistências. Na coletiva, o vice-presidente do clube, Vitor Ferraz, deu ao jogador uma camisa com o número 128, que já conta a partida que ele fará contra o Cruzeiro.
Vitor Ferraz falou sobre a saída de Zé Rafael:
Queria anunciar, todos já sabem, o desligamento de Zé Rafael do Bahia. Ele sai pela porta da frente. Ao longo dessas duas temporadas que ele defendeu, ainda vai defender, tem mais uma partida, as cores do Esporte Clube Bahia, sempre se dedicou ao máximo, honrou as cores do Esquadrão. Certeza que vai deixar saudade na torcida. As manifestações que temos visto desde o anúncio são nesse sentido. A torcida saudosa, mas sabendo que o atleta se desliga do clube por ter recebido uma proposta que, para a continuidade de sua carreira, será muito boa. A gente agradece tudo o que ele fez durante esses dois anos. Vão ser 128 partidas, hoje são 127. São 18 gols, 13 nesta temporada, cinco na temporada passada, 12 assistências. Destaque do Brasileiro do ano passado, e destaque do Brasileiro deste ano. Em todas as competições que disputou teve números importantes, expressivos. Aqui a gente faz questão de ressaltar o profissionalismo, a dedicação durante todo esse período. Alguns dias atrás, a gente conversava que durante um período houve algum tipo de questionamento sobre o desempenho dele, a dedicação. O chamei no CT e disse para ele ficar tranquilo, que ele ia voltar a jogar bem, você vai voltar a marcar e certeza que a torcida vai reconhecer isso. Se ele saísse, seria pela porta da frente, a torcida reconheceria o seu valor. Não está sendo diferente. Seria injusto se fosse diferente. Por tudo o que ele fez, o profissionalismo, a forma como se dedicou ao clube. É justo que saia pela porta da frente, com reconhecimento pelos bons serviços prestados ao clube.
A boa passagem pelo Bahia fez com que Zé Rafael ficasse conhecido nacionalmente. Porém, no início da sua trajetória pelo Tricolor, o meia precisou vencer a desconfiança da torcida:
Minha avaliação é muito positiva. Cheguei aqui contestado por muita gente, ainda não tinha o reconhecimento que tenho hoje. Muita gente não sabia quem era o Zé Rafael, o que o Zé Rafael poderia render. Cheguei com os pés no chão, trabalhei sempre de maneira correta e dura para alcançar meus objetivos. Aos poucos fui ganhando meu espaço dentro do clube e dentro do grupo. Aconteceu de maneira rápida. Hoje vejo que foram dois anos muito regulares e que as coisas aconteceram de forma muito rápida.
Antes de chegar ao Bahia, no início de 2017, Zé Rafael já havia sido visto pela torcida do clube. Em 2016, o meia marcou um dos gols do Londrina no triunfo sobre o Tricolor:
Confesso que não imaginava. Nossa vida, a gente estava conversando, reserva algumas surpresas para a gente. O Bahia sem dúvida alguma foi uma desses surpresas maravilhosas que a vida reservou pra mim. Quem diria que no ano seguinte daquele jogo aqui na Arena começaria uma história que ficou marcada na trajetória da minha vida. Tenho que agradecer muito a todos que acreditaram. O Vitor [Ferraz] faz parte disso, já estava no clube. Muito feliz de ter iniciado essa trajetória de 2017 aqui. No seguinte aquele jogo que vencemos aqui na Fonte Nova.
Zé Rafael preferiu não falar sobre a chegada ao Palmeiras e disse que está focado em se despedir do Bahia com uma grande atuação contra o Cruzeiro. Para a despedida do meia, 20 mil ingressos já foram vendidos:
Saio pela porta da frente. Com relação a perspectiva, ainda não virei a chavinha, como a gente diz no futebol. Ainda tenho esse último jogo domingo pelo Bahia. Acho que vai ser um grande jogo, espero fazer uma grande partida para, aí sim, fechar o ano, fechar o ciclo no Bahia e sair realmente com o pé direito. Ai sim, quando virar o ano, novos ares, uma nova casa. Começarei a pensar o que pode ser feito nos próximos anos.
O jogador ainda completou:
O peso é até um pouco maior. Saber que você vai sair, querer mostrar mais uma vez, deixar a impressão de que tudo o que foi feito valeu a pena. Domingo eu espero estar em campo, em mais uma tarde iluminada, que a gente possa fazer uma grande partida, que possa sair realizado, feliz com mais um grande ano.
Desde o fim de 2017, Zé Rafael vinha sempre sendo apontado como alvo de interesse de diversos clubes do país. Porém, ele garante que essas especulações nunca mexeram com sua cabeça, nem atrapalharam o seu rendimento:
Acho que isso é tranquilo. Foi muito coisa de momento. Questão de falta de sorte, um pouquinho, dessas coisas acontecerem na mesa hora, justamente quando peguei uma sequência pesadíssima de jogos. Já vinha jogando há muito tempo, dificilmente eu ficava fora dos jogos, foi quando começaram a vazar essas notícias de ter uma coisa mais certa com o Palmeiras. Acredito que isso é coisa de torcedor, de quem está de fora, quem acompanha o dia a dia do clube sabe o quanto eu me dedicava, o quanto eu fazia um algo a mais para que essa fase passasse. Foi um momento difícil. Todo mundo achava que eu estava tirando o pé. Na verdade eu Estava fazendo o contrário para a situação se inverter. Sempre tive na cabeça que estava fazendo o meu melhor. O que realmente importa é o grupo. A família que se criou aqui esse ano. Todo mundo saia do meu esforço. Quanto a isso, estou muito tranquilo e satisfeito.
Zé Rafael também já passou por momentos difíceis com a torcida. Nesta temporada, o jogador foi vaiado pelos torcedores na partida contra o Palmeiras, na Arena Fonte Nova:
Tive realmente alguns pequenos probleminhas. Faz parte do futebol. Tive uma fase complicada, onde tudo parecia que o que acontecia no Bahia era minha culpa. Onde tudo o que acontecia, se o time estava jogando mal, era 'põe na conta do Zé que ele não está jogando bem'. Aceitei uma parte disso. Quando achei que não era só culpa minha, eu rebatia. Mas acredito que faz parte do futebol. Nem Jesus agradou todo mundo, imagina se o Zé Rafael que iria agradar. Faz parte, em relação aos jogos que fiz, tive uma regularidade muito grande, fiz jogos memoráveis, alguns muito importantes. Nesse último ano agora. Fico feliz de ter participado de forma expressiva na história do Bahia. Saio com a cabeça erguida, com a sensação de dever cumprido, feliz por ter feito parte dessa linda história.
Léo: repórter por um dia
O lateral-esquerdo Léo realizou uma participação especial na entrevista coletiva. O jogador, que acompanhou a despedida de Zé Rafael, aproveitou para fazer uma pergunta. Ele pediu para que o colega de equipe definisse o Bahia em uma palavra:
Gratidão. Acho que essa palavra encaixa perfeitamente no Bahia e na minha vida. Tenho que agradecer ao Marcelo [Sant'Ana], dar os parabéns por essa trajetória, Vitor Ferraz e o presidente Bellintani, que fazem parte dessa continuidade. Principalmente a instituição Bahia, que fez uma aposta, em momento delicado da minha carreira, quando as coisas poderiam não ter dado certo. Serei eternamente grato ao Bahia por tudo o que me proporcionou. Que me fez me tornar como atleta profissional, como ser humano. Saio com o coração partido. Essa hora de dar tchau, de se despedir, não é comigo. Mas meu agradecimento fica, a instituição, aos torcedores, que me deram força quando precisei. Minha família que esteve no meu lado sempre, me deram todo o suporte que precisei.
Gols marcantes e provocação ao rival
Na entrevista, Zé Rafael lembrou momentos especiais e os gols mais bonitos com a camisa do Bahia. O meia aproveitou para provocar ao lembrar de um gol marcado sobre o Vitória:
Fiz alguns gols bonitos esse ano. Teve um contra o Vasco, pela Copa do Brasil, a bola sobrou para mim fora da área eu coloco ela no ângulo. Contra o Vice, acho que não pode ficar fora. O jogo era importantíssimo para a gente naquele momento do Campeonato Brasileiro. Jogo difícil. Foi um golaço e também ficou marcado. Foram gols importantes. Queria ter feito um gol em um momento mais expressivo, um título. Fiz um lá em Recife, na final da Copa do Nordeste, mas o juiz invalidou de forma equivocada. Saio feliz com tudo o que conquistei. Queria ter feito muito mais gols, lógico. Mas acho que está de bom tamanho. Se não fiz gol, dei o meu máximo, dei o meu melhor para ajudar sempre os companheiros e o Bahia.
Zé Rafael encerrou a entrevista agradecendo à família por todo o apoio dado e lamentou que eles não puderam comparecer na coletiva. Uma das marcas registradas do meia ao marcar gols é a sua comemoração em homenagem a seu filho, que gosta do desenho Mundo Bita:
Acho que a família é nossa base, sem dúvida alguma. Queria que estivessem hoje aqui, para participar desse momento que eles também fazem parte. Devido à distância e alguns probleminhas, não foi possível. Mas Domingo estarão aqui. Para prestigiar, ver o último jogo nesse momento com a camisa do Bahia. Espero que eles venham com o pé bem quente para que seja uma tarde muito abençoada para todos nós.